7.2.03

Obrigado ao Senhor dos Ventos pelo link.

No Da obra alheia, a sacerdotisa do absurdo expôs ontem seu prazer na leitura de “A farsa da boa preguiça”, de Ariano Suassuna. Isso me fez lembrar duas história ouvidas dele, que jamais me esqueci.
A primeira foi na abertura da reunião da SBPC em Natal, no ano de 1998. Ele contou que estava orientando o trabalho de duas estudantes de antropologia. Elas foram fazer uma pesquisa em uma cidade do interior pernambucano. Lá, encontraram um pescador. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos assim:
- Como é o nome do prefeito da cidade?, perguntaram as moças.
- Sei não senhora, respondeu o pescador.
- O senhor sabe quem é o governador do estado?
- Não...
- E o nome do presidente? O senhor sabe?
- Não é Getúlio Vargas?
- Mas o senhor é muito ignorante...
Indignado, o homem as levou ao seu barco de pesca;
- Me diga uma coisa: a senhora sabe o nome desse peixe aqui?, perguntou o pescador.
- Não, disse a jovem.
- E esse aqui? A senhora sabe?
- Não.
Então, sabiamente, o pescador concluiu:
- Eu prefiro as minhas ignorâncias do que a sua sabedoria.

A outra história foi contada em Fortaleza, no ano passado. Era a abertura da Bienal Internacional do Livro. O mestre Ariano era o homenageado. E deu uma divertidíssima aula para os que lotaram um dos auditórios do Centro de Convenções Edson Queiroz e para os que acompanharam pela teve (o meu caso).
Lá pelas tantas ele contou que no fim dos anos setenta, quando estava escrevendo um livro, um estudante o visitou em sua casa. E viu que o mestre estava produzindo. E lhe disse que ele estava muito atrasado, que livros eram coisa do passado.
- Quem disse isso? Ariano perguntou.
- Foi um canadense chamado Herbert Marshall McLuhan. Ele disse que o livro é um meio frio e está superado. O negócio agora é a televisão, que é um meio quente, ensinou o estudante.
- É mesmo..., pensou o mestre. Mas me diga uma coisa: como é que você sabe disso? Você pegou um avião e foi no Canadá ouvir McLuhan, foi?, questionou Suassuna.
- Não..., respondeu o rapaz. Eu li em um livro

E daí, Suassuna falou sobre a diferença de êxito e sucesso para o escritor. Ele disse que os escritores devem procurar o êxito e não o sucesso. O sucesso é um fenômeno de vendas, escrever um best-seller, ganhar dinheiro. Seria o caso de Paulo Coelho, por exemplo. Como exemplo de êxito ele falou de Augusto dos Anjos, autor de uma única obra (“Eu e outros poemas”), que a cada ano ganha uma nova edição. Êxito é ficar para a posteridade. Poucos conseguiram. E acho que nenhum meio quente pode garantir o êxito. Somente o livro.

Alguns afirmam que a Internet vai acabar com a cultura do livro, da palavra. Acho irreal essa perspectiva. Para constatar isso, basta visitar poucos blogs. Primeiro, por mais que as imagens falem por si, elas precisam de palavras para se esclarecerem. Um amigo dizia: “Uma imagem vale por mil palavras: diga isso com imagens”.

Nos blogs que eu gosto de ler, inúmeras referências a livros. Adaíton, por exemplo, sempre está lendo alguma coisa (“Memorial de Ayres”, de Machado de Assis, agora). Alice baseia seu blog em dois livros. A sacerdotisa inaugurou o Da obra alheia, justamente falando de livros lidos. O mesmo com Lactobacilo Morto.
O substrato necessário para se entender o mundo ainda é a cultura do livro. Por isso, a educação formal é tão importante. Por enquanto ainda não temos alternativa.
Talvez essa fala da superação da palavra escrita se firme em alguma condição ideológica para legitimar o estado caótico de nossa educação formal. Talvez.

Como cristão, dependo minha fé de um livro, que relata a história da Revelação de Deus aos homens, testemunha essa história. Não considero que a Bíblia seja a Palavra de Deus. Em última instância, a Palavra de Deus é Cristo (João 1. 1). A Palavra de Deus é maior que a Bíblia. Mas Deus usa a pregação (que é a Bíblia) para efetivar Sua Palavra ao mundo. Em outras palavras, Cristo se torna real no mundo por meio da palavra, lida e pregada, da Bíblia, através da operação de um milagre, do qual falamos ontem.

6.2.03

Já tinha lido de José Comblin, que é um padre belga radicado no Brasil, um excelente livrinho: “O Enviado do Pai”. Realmente achei o melhor comentário sobre o evangelho de João que jamais lera. Agora, estou devorando “Neoliberalismo”:

A globalização é um mito e o mercado total é um mito. Porém, em nome deste mito, uma nova classe impõe uma ditadura de fato, limita os poderes dos Estados e transforma a democracia em fachada ou comédia, controla o pensamento único e condena à exclusão, ou seja, à miséria da nova pobreza a maioria da humanidade.

Mais à frente, Comblin afirma que os neoconservadores que aplicaram a ideologia neoliberal a partir dos anos 80 (com Thatcher e Reagan), ou mesmo antes, no Chile de Pinnochet, procuraram se firmar em uma pretensa afinidade profunda entre cristianismo e capitalismo. Então,

os neoconservadores estimam que a contribuição da religião cristã para a salvação do capitalismo é fundamental. O que é que se espera dos cristãos?
Em primeiro lugar, faz-se um apelo para que os cristãos legitimem o capitalismo. Pois há muitos cristãos que desacreditam nele e buscam outras soluções.
...
No fundo, o que se quer é que o cristianismo mantenha a sociedade para que o capitalismo possa continuar destruindo-a. É uma tarefa sem fim.


Parece que os meus visitantes de ontem acataram perfeitamente o papel que lhes cabe no processo neoliberal. Não perceberam que não passam, assim, de promotores da ideologia imperialista norte-americana, profundamente anti-bíblica e anti-cristã.
Perceba, também, como a crítica da sacerdotisa do absurdo casa perfeitamente com a posição de Comblin.

Isso foi o que a sacerdotisa do absurdo respondeu aos comentários elogiosos que eu recebi ontem:

Se o Senhor não tivesse transformado profundamente meu coração, eu teria muita raiva desses... aham... babac... não, er... "irmãos". Bem se vê que eles estão exatamente onde os senhores do poder desejam: totalmente inseridos dentro do sistema, com os olhos completamente encobertos por uma neblina ideológica, densa e tóxica. Que nos faz acreditar que o mundo que conhecemos simplesmente é assim, e sempre foi, e sempre será. Como não estou com raiva, mas extremamente compadecida, só me resta... orar por eles! (se nem o próprio Seminarista quis dialogar - e olhe que ele é um homem muuito flexível e tolerante - que direi eu!!!)

É, parece que eu tenho pelo menos uma discípula.

Tem gente que parece não perceber que Deus é maior que a Bíblia. Deus é maior que a Bíblia, preciso afirmar. Deus não se reduz a um livro. Isso seria ridículo, pois sabemos que esse livro foi escrito em contextos históricos determinados, por motivos condicionados, por seres humanos. Reduzir Deus à Bíblia é o mesmo que reduzi-lo ao homem, coisa que não é original, que já encontramos em gente como Feuebarch.
Reduzir Deus à Bíblia é o mesmo que dizer que Ele não tem nada a dizer hoje, que não diz nada para os dias atuais. Porque a Bíblia é um livro que não nos diz nada hoje. Disse ao antigos judeus, ao primeiros cristãos. Ali, está escrita a sua vida cotidiana, suas experiências, suas dificuldades, suas lutas, seus pecados. Não se diz uma única linha sobre o que acontece no ano de 2003, no Brasil.
Mas Deus fala hoje. E fala através da Bíblia. Porque Deus é maior que a Bíblia e opera o milagre de transformar aquelas palavras humanas, contingentes, em Sua Palavra para hoje em dia.
Deus fala e usa ordinariamente a Bíblia para isso. Mas Ele fala porque é maior que a Bíblia e opera milagres.

5.2.03

Por fim, e por isso, mais importante, quero falar hoje de um fato importante. Hoje eu e a sacerdotisa do absurdo comemoramos nosso namoro. Não sei bem se eu diria um mês, ou nove.
Voltamos um à vida do outro, depois de anos, em um momento importante e delicado para ambos.
Ela tem me feito muito bem.
Tem me feito recuperar as esperanças em relação a tudo. Ao que penso, ao que quero, ao que sinto, ao que sonho. E eu tenho me esforçado por ser um companheiro tal qual eu nunca fui. E fazê-la feliz. E amá-la mais.
Mas isso é somente o começo de uma caminhada que promete. E promete muito para nós, para os que nos cercam e para o Deus que nos chamou.
Te amo, Pri.

Uma das questões mais intrigantes para os cristãos é a definição do que seja o pecado imperdoável, a blasfêmia contra o Espírito Santo. Kierkegaard afirma que esse escândalo é considerar o cristianismo como fábula ou mentira, negando Cristo de duas maneiras: ou se afirma que ele é “um mito sem pretensão à realidade, “não tendo senão a aparência humana” (o que não passa de docetismo); ou se afirma que ele não passa de um homem, negando-lhe a natureza divina (racionalismo).

Esta negação de Cristo, do paradoxo, implica conseqüentemente a do cristianismo, do pecado, da remissão de pecados, etc.
Este tipo de escândalo é o pecado contra o Espírito Santo. Tal e qual os judeus diziam que Cristo escorraça demônios por meio do Demônio, assim também este escândalo faz de Cristo uma invenção do demônio.


O dinamarquês era extremamente radical.

O pecado contra o Espírito Santo é o pecado que ataca.

E assim, encerrei a leitura de “O desespero humano”.

Finalmente comecei a ler a dissertação de mestrado de Joanildo Albuquerue Burity, pela UFPE, em ciência política. Orientado pelo Dr. Robinson Cavalcanti (bispo anglicano), ele tratou sobre a Conferência do Nordeste, evento evangélico ocorrido em julho de 1962 no Recife, que teve como tema: “Cristo e o processo revolucionário brasileiro”. O tema da dissertação foi: “Os protestantes e a Revolução Brasileira – A Conferência do Nordeste (1961 – 1964)”.

Em resposta aos comentários tão bem fundamentados, quero informar minha mais nova aquisição literária: “O Neoliberalismo – Ideologia dominante na virada do século”, de José Comblin, publicado pela editora Vozes. Comblin, pelo pouco que eu já li, apresenta a utopia neoliberal como a mais cruel e irrealizável ideologia de pensamento único (ou seja, totalitária) jamais produzida na história humana.

Recebi dois comentários profundamente elogiosos. Eí-los:


Verdadeiro Cristão.


Está escrito no Apocalipse que no fim dos dias satanás entrará, inclusive, dentro de nossas Igrejas. Vc está parecendo um deles. Largue este bando de materialistas! Petistas não têm religião! Lembra do que fizeram com a Rússia? Vc se considera um "marxista-cristão"? Para mim, pode-se comparar a um transsexual: nem homem nem mulher.


Amigo


besteira pura. tentei escrever e disse que mais de 200 letras não passa. Fora "padre comuna".



Diante de comentários tão bem fundamentados, fiquei meio sem reação. Não sabia se ria, achando graça. Não sabia se chorava, lamentando tamanha desinformação e preconceito. Nem sei se devia me dar ao trabalho de responder. Mas acho que devo. Então, vamos por partes:

1) Onde está escrito no Apocalipse que satanás entrará dentro das igrejas? Espero que você entenda que muitas vezes as igrejas é que estão servindo, por sua estrutura, a Satanás. Estão servindo a manter as estruturas demoníacas presentes na sociedade, muito fortemente o neoliberalismo atual. Mas isso é um assunto que para ser discutido necessitaria de uma ampla leitura que ainda não possuo, nem o meu interlocutor também parece possuir.

2) Quem foi que disse que petistas não têm religião? Algumas das principais lideranças nacionais do PT são evangélicas, incluindo duas ministras de Estado, Benedita da Silva e Marina Silva. Isso sem contar com parlamentares, como o ex-líder do partido na Câmara, o deputado federal pela Bahia, Walter Pinheiro.

3) Quem foi que disse que eu era marxista? Sugiro que você conheça a obra do pastor presbiteriano, falecido no ano passado, Richard Shaull. É dele que tomo emprestada a Teologia da Revolução. Vou citar Shaull e Jesus, esclarecendo minha posição pela radicalidade da Revolução:

“cristão radical encontra-se totalmente implicado numa luta secular revolucionária”; o “Deus que derruba velhas estruturas, a fim de criar condições para uma existência mais humana, está, ele mesmo, no meio da luta.”

E Jesus:

Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará. (Marcos 8. 34-35)

4) E agora, para o amigo 7444: Quem foi que disse que eu era padre? Sou Reformado, quer dizer, presbiteriano. Mas acima de qualquer coisa me considero um seguidor de Cristo. Minha vocação pastoral é maior do que minha teologia revolucionária, por isso sugiro que da próxima vez preste atenção maior no que lê, e também visite um outro blog meu, que batizei de Porto Seguro .



4.2.03

Revolução significa radicalidade. Escolha de caminhos e caminhos que não têm volta. O caminho da Revolução é uma opção radical, a cada instante, sem alternativa de retorno. Uma opção que exclui qualquer outro caminho.
E se a nossa opção radical for pelo caminho errado?
Quem assume a Revolução necessita ter coragem de errar. Coragem para, se o caminho escolhido for errado, assumir a totalidade de seu erro. Quem adota uma posição radical (e para o cristão, o único caminho é o da radicalidade) não pode ter medo de errar.
(Aqui o espaço para o diálogo. Só é possível o diálogo entre pessoas que estejam bem firmadas em suas posições. E o diálogo pode ser um bom momento para a descoberta de nossos erros.)
O caminho disposto para Jesus sempre foi radical. Seu alvo apontava uma cruz. Ao longo de sua vida as tentações o quiseram levar a escolher o caminho errado. Mas Jesus era um radical. E, diferente de nós, não errou.
Se somos seus seguidores, seguiremos sua opção radical, mesmo que possamos e venhamos a errar.
O caminho da Revolução é cheio de atropelos. Decisões erradas, palavras mal ditas, desnecessárias crises, em geral, provocadas pela radicalidade. Radicalidade sem a qual a Revolução não é Revolução, nem o cristianismo, cristianismo.

Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará.
Marcos 8. 34-35

Nos últimos dias tenho tido sonhos esquisitos. Os últimos posts que publiquei nasceram de reflexões havidas nesses sonhos. Parece que agora só consigo pensar dormindo. O post a seguir também parte de uma reflexão enquanto dormia.

3.2.03

Essa eu trouxe do Leite de Pato e Adaílton Persegonha já trouxe do Tribuna da Imprensa.

A irmandade dos cínicos
O Morgan-Stanley está emitindo um comunicado afirmando que errou "dramaticamente" nas suas previsões sobre o Brasil e recomenda aos investidores que recomprem papéis do País. Ora, esta é mais uma tremenda mistificação, sobretudo porque o banco de investimentos não errou coisa alguma, mas sim especulou violentamente e jogou os títulos brasileiros no chão, ganhando rios de dinheiro ao recomendar a quem os tinha que os vendesse.


Há muito que estas instituições financeiras atuam no "limite da irresponsabilidade" - onde é que já disseram isto? Não têm credibilidade alguma e só se sustentam por conta do nome que ostentam e do relacionamento espúrio com vários países. Quem dá confiança a esses tubarões são os jornalistas comprados, e muito bem comprados, que usam os veículos de comunicação para dizer com a cara mais limpa do mundo que o Morgan-Stanley "errou" feio. Seria de morrer de rir se não fosse de causar indignação.


Agora, esse mesmo banco recomenda que se compre papéis brasileiros. Vem com uma história no mínimo estúpida, explicando que previra um cenário semelhante ao da Venezuela (moratória, quebras de contrato, populismo de esquerda). Não se sabe com que espécie de pitonisa o Morgan-Stanley trabalha, mas, certamente, trata-se de um imbecil. Ou uma equipe de imbecis. Ou uma equipe de gente mau-intencionada. E, das três hipóteses, a mais próxima da realidade é a de que, realmente, houve cretinice.


O pior de tudo isso é que não existe nenhum organismo internacional que puna violentamente quem age de forma tão nociva. A Arthur Andersen está aí, firme e forte, depois de ter atuado de forma decisiva no escândalo da Enron. Agora é o Morgan-Stanley, que simplesmente atentou criminosamente contra a economia de um país, numa jogada claramente favorável ao então candidato presidencial do governo, que se desculpa publicamente e fica tudo por isto mesmo. Bonito. E que ninguém se engane: os bancos de investimentos continuarão agindo da mesma forma.


Lula perdeu uma chance de ouro de bater forte, em Davos, neste tipo de gente. O fundo mundial contra a fome que propôs passa, antes de mais nada, pelo estabelecimento de uma nova ética. Que jamais haverá enquanto o mercado financeiro internacional tiver agentes como o Morgan-Stanley.

Os cultos de minha igreja muitas vezes são formais. Extremamente formais. Foi inevitável pensar nisso quando vi uma cena de “Joana D´Arc”. Joana, ainda criança, tem uma visão. Em um jardim, ela brinca divertidamente com Jesus. É uma celebração. É uma festa.
Percebi que se quiser herdar o reino de Deus devo viver a vida festejando como uma criança a vive.

Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se vocês não mudarem de vida e não ficarem iguais às crianças, nunca entrarão no Reino do Céu. A pessoa mais importante no Reino do Céu é aquela que se humilha e fica igual a esta criança.
(Mateus 18. 3-4)

Nossa relação com Deus muitas vezes exclui o elemento paternidade. Então, vivemos como adolescentes, que querem estar independentes dos pais. E tentamos viver de forma independente de Deus, o nosso Pai.
Se não formos como crianças, que dependem em tudo, estaremos vivendo vidas completamente desconectadas ao Deus que se revela na Bíblia, o Deus de Jesus.
E os nossos cultos? Já viu criança em festa? Nossos cultos deveriam ser alegres reuniões festivas infantis, da parte daqueles filhos amados, perdoados por um Pai poderoso, dispostos a ouvir a Sua palavra e partir ao mundo para lutar pelo Reino.
Lutar pela Revolução.

Queria ter dito ontem que estava feliz porque a Globo fez uma coisa rara: exibiu um filme realmente bom, "Joana D´Arc de Luc Besson". E me deixou com vontade de ler processos da Inquisição. As respostas que aquela jovem deu aos seus juízes me fizeram lembrar aquelas que Menocchio deu. Pessoas que aprenderam a pensar autonomamente.

Ontem um presbítero orou assim na igreja: “Senhor, nós Te adoramos porque o Senhor conhece o nosso coração”. Frase que dá o que pensar.
Se ele ou qualquer outro na igreja tivesse prestado atenção no que foi dito e se fôssemos honestos no nosso conhecimento de nós mesmos, calaríamos nesse momento.
Não nos conhecemos o suficiente ou não prestamos atenção ao que dizemos. Ou mesmo as duas coisas. O fato é que a consciência de estarmos diante de Deus e que Ele conhece o nosso coração deveria nos levar ao silêncio arrependido, ao quebrantamento ajoelhado.
Kierkegaard nos que o que qualifica nosso pecado é o fato de que estamos diante de Deus. Simplesmente, nos posicionamos perante Deus. Dessa maneira, somos criminosos qualificados.
Se conhecêssemos o nosso coração, saberíamos o quão miseráveis somos. O quão indignos de adorar a Deus. Saberíamos que o que faz diferença é termos conhecido a graça, único elemento que nos permitir existir diante do Deus santo.
Se soubéssemos isso, ou não oraríamos como o presbítero, ou calaríamos nesse momento, arrependidos, ajoelhados, quebrantados.

2.2.03

A propósito de um poeta, fala-se em vocação, mas, aos olhos de um sem-número de pessoas – cristãos, portanto! – basta um exame para ser pastor. E contudo, um verdadeiro pastor é um acaso ainda mais raro do que um verdadeiro poeta, e, no entanto, a palavra “vocação” é ordinariamente do domínio da religião.
...
Seria necessário então que os pastores fossem pelo menos crentes! E crentes que creiam!

Sören Kierkegaard

A cristandade está tão longe de ser aquilo que diz, e a maior parte dos cristãos carece a tal ponto de espiritualidade que não se pode sequer, no sentido estritamente cristão, considerar a sua vida como pecado.
Sören Kierkegaard