7.2.04

Um processo revolucionário, para mim, deve ser holístico. Não deve começar em uma dimensão, ou privilegiá-la. Precisa, para alcançar sucesso, ser promovido em cada dimensão da vida humana de maneira concomitante.
Devo me importar em revolucionar minha própria vida de dentro. Devo me importar em amar mais, em ser mais sincero, em ser mais eu, em ser mais crítico, em ser mais honesto. Enfim, em trazer mais dentro de mim o potencial explosivo e revolucionário do impacto de meu amor, minhas mudanças, minha vida, minhas relações.
A revolução acontece a nível de relações, fazendo com que elas cada vez mais valham a pena e fazendo com que os ideais de transformações, pessoais e sociais, contagiem e contaminem cada um com quem converso, a quem amo e a quem faço ver que vale a pena.
Ao mesmo tempo, as estruturas opressivas e demoníacas de nossa sociedade, que tantas vezes lutamos por preservar, precisam ser questionadas, criticadas, desafiadas, postas em xeque. Precisam mesmo ser afrontadas. Com a Bíblia na mão e a indignação profética que ali está expressa contra toda sorte de injustiça e opressão. Com o discurso do amor que, como embaixadores da reconciliação, carregamos, potência transformadora de tudo.
Como último recurso, acredito que vale qualquer coisa para se preservar o amor, a justiça e a verdade em mim, nas minhas relações e na sociedade. Esses princípios, bíblicos, de organização social e de vida pessoal, precisam ser inegociáveis. Sempre.

Um leitor publicou uma carta em O Poti desde domingo em que afirma, entre outras coisas, que a prisão de Saddam Hussein põe fim a uma era, ao regime de terror que ele promoveu no Iraque.
Discordo veementemente desse ponto de vista. O fim do regime ditatorial iraquiano só seria real se, e somente se, aqueles o financiaram, treinaram e mantiveram ali por longos anos também pudessem ser punidos.
Quem foram? Os mesmos americanos republicanos que hoje posam de enviados de Deus para promover a libertação do povo do Iraque. Já são famosas as imagens de Donald Rumsfeld, então alto funcionário do Governo Reagan, indo a Bagdá acertar com o mesmo Saddam, que hoje é a reencarnação de algum nazista, o apoio, treinamento e financiamento na guerra de oito anos contra o Irã dos aitolás.
O mesmo grupo de falcões que hoje comanda os destinos da Casa Branca era o grupo que dava sustentação às barbaridades de Saddam. O mesmo grupo vendeu as armas químicas que ele usou para matar os duzentos mil curdos que se opunham ao seu governo. Inclusive, tendo a CIA auxiliado nas operações que culminaram com o genocídio.
Bazófia é acreditar que essa história acaba assim. Por que Saddam é prisioneiro de guerra? Porque assim não pode conceder entrevistas, não pode ser visto e poupa Washington do vexame de ser exposta mais um pouco das sujeiras que cometeram em todo o mundo. Inclusive no Brasil.

6.2.04

O que me faz um pagão a seus olhos, disse um xamã guarani para um dos missionários [jesuíta, no Paraguai do século XVII], é o que o impede de ser um cristão aos meus.

Gostei desta fala que trouxe de um dos livros que estou lendo, No bosque do espelho, de Alberto Manguel.

5.2.04

Cá estou.
Não posso dizer exatamente onde, mas estou aqui. Não, não estou querendo esconder onde esteja. Nem digo que não reconheço o lugar. Eu simplesmente não consigo ver onde estou.
Estou aqui, neste lugar, escuro, fétido. O ar rarefeito dói ao penetrar nos pulmões. A escuridão dói uma dor desesperada. Dor de indefinição. Dor de desconhecimento. Dor da escuridão.
Estou aqui. Mas que lugar é esse? Acabei de acordar e está muito difícil de respirar. Também não sinto meus pés, braços, pernas, meu corpo. Também acho que não faria diferença. Aqui não parece haver muito espaço para movimentos.
Como vim parar aqui? O que é esse lugar?
Vamos ver do que consigo me lembrar... lembro-me... lembro-me... eu não consigo lembrar de nada. Quem sou eu? O que aconteceu? Como vim parar aqui?
A dor do desespero piora a sensação de asfixia. O ar parece ainda mais rarefeito...
Desperto sem entender o que me acontece, o que faço aqui, quem sou eu. Vamos, se esforce, reconstrua, relembre, reviva!

Quem sou eu?
Vamos tentar uma brain storm: lembro de uma casinha amarela em uma rua de ladeira. Estou ali com três anos de idade, ou até menos, brincando com um garoto mais velho que eu. Seria meu irmão? Não é meu irmão, mas é alguém querido, alguém próximo, alguém que faz diferença na minha vida.
Há mulheres em torno de mim. Duas ou três. Uma delas deve ser minha mãe... minha mãe em cujos braços repouso, encontro amparo, carinho, amor. Lembro do rosto dela! Lembro agora... rosto sofrido de tantas lutas, de tantas incompreensões, de tantos sofrimentos, da angústia, da tristeza, da infelicidade... lembro da minha mãe!
Lembro dela me levando para o meu primeiro dia na escola. Choro porque não quero que ela vá e me deixe ali com aquelas pessoas. Me soltem! Me soltem! Mordi a mão de uma daquelas senhoras que tentam me segurar em vão. Corro até o portão e a vejo descendo a rua, me abandonando... me abandonando... parece que as minhas mulheres sempre me abandonaram... parece, lembro agora, que aqui estou porque minhas mulheres me abandonam...
Eros desaparece quando Psique o percebe... sempre foi verdade isso em minha vida. A esta altura, lágrimas correm de meu rosto e rostos passam à minha frente. Bonitos, feios, jovens, velhos, infantis, felizes, tristes, sofridos, apaziguadores, amantes, que gozam, que gritam, que desesperam... rostos que me dizem quem sou...
Descobrir quem sou não significa saber meu nome. O ser alguém não se relaciona com meu nome. Se relaciona com minha essência. Quem sou é uma pergunta antiga e recorrente. Respondê-la é de mais profundidade do que lembrar o que fiz, o que faço, qual o meu nome, qual o meu tempo, que lugar é esse, quem amei. Ser alguém não se resume a estas coisas que vão e passam. Estou aqui, nem sei onde, e percebo essas coisas, mesmo não sabendo mais meu nome.
(continua)

4.2.04

Por que não consigo amar de novo?

Por que tanta gente se surpreende por eu ser cristão evangélico?

Quando Psiquê tenta perceber Eros, diz o mito, ele desaparece. Mais uma vez hoje voltei a pensar nisso. Mais uma vez e talvez tenha concluído que este seja exatamente o meu tipo de problema.
Há tempos me questiono acerca da minha incapacidade de me apaixonar de novo (eu não consigo me apaixonar!). E hoje pensei nos meus últimos amores. Percebi, em cada um deles, uma tendência gradual e irrestível de Psiquê tomar os espaços de Eros dentro de mim. Pouco a pouco, experiência a experiência, fui racionalizando mais os meus sentimentos. Ao ponto de que se agora busco Eros em mim... onde ele está?
O choque do relacionamento com Raquel há dois anos ainda reverbera aqui dentro de mim. A partir dessa experiência, acreditei que amadurecer seria se tornar mais racional. Acreditei tão fortemente nisso que passou a ser a mais pura realidade de minhas emoções.
Quando namorei Priscila não fui movido por qualquer rastro de Eros, mas sim pela racionalização daquela situação. Os meses passaram e isso foi se tornando mais real, ainda que não tão evidente. Foi preciso romper mais esse relacionamento para perceber a grandeza do fato: não estou conseguindo me apaixonar de novo.
Veja, isso não significa que não posso me envolver, que não posso me interessar, que não posso paquerar. Não é isso. Mas Eros anda longe do meu centro de decisões. Não me apaixono, não me entrego, não vivo o amor. Isso, vocês já perceberam, me tem deixado perturbado.

Amanhã um outro velho amigo vai estar passando por um momento máximo. Lançará seu primeiro livro. Fialho era parceiro nos tempos de colégio, apesar de sermos tão diferentes. Seguimos caminhos semelhantes, mesmo distanciados. Ele cursou um pouco de jornalismo, mas se formou e se tornou publicitário. E agora estréia com crônicas de um jovem filho da cidade do sol, Natal. Segundo diz na apresentação do livro, pretende que ele abra uma coleção para jovens escritores da nossa terra. No universo blogueiro, conheço alguns que se encaixariam bem na coleção, como Mariana, por exemplo.

Hoje à noite, após o programa de rádio da igreja, sai com Flávio e Anderson, amigos de Fortaleza. Por isso perdi o episódio de 24 horas. Foi bom me reencontrar com Flávio depois de tanto tempo sem contato. Colocamos muito de nosso papo em dia.

2.2.04

Tenho me surpreendido com o número de pessoas que a cada dia encontro procurando identificar seu próprio eu. Pessoas que simplesmente estão desejando ser na vida. Pessoas que tem entendido que viver não se resume a realizar algumas funções fisiológicas, ou acadêmicas, ou intelectuais, ou profissionais, ou qualquer coisa que se opere fora de si mesmas.
Do mesmo modo tenho visto pessoas, como eu, que estão insatisfeitas com seus pensamentos e as respostas que encontram por aí. Sabem o que não significa ser alguém, mas ainda não sabem o que significa ser. O que nos constitue como ser humano.
É claro que esta é uma discussão filosófica antiga demais, recorrente, que reitero, também, quase sempre, neste blog. E qual a resposta? Não sei se ela há, ou se cada um de nós precisa encontrar a sua. Só sei que provavelmente o significado de nossos questionamentos a respeito devem estar nos dizendo que tanto a nossa sociedade quanto as nossas posturas filosóficas de vida não nos satisfazem mais. Não nos garantem nada. Não nos fazem sermos alguém, ou sermos felizes.
Eu proponho um caminho, também antigo. Um caminho místico. Um caminho espiritual. Se é verdade que fora de nós mesmos não encontraremos felicidade, é verdade também que sozinhos também não. Você já pensou em Jesus dessa forma? Você já pensou que provavelmente a fonte de seu ser humano se encontra nele?
Veja o que diz Paulo, quando escreve aos Gálatas (2: 19 e 20):
Pois, quanto à lei, estou morto, morto pela própria lei, a fim de viver para Deus. Eu fui morto com Cristo na cruz. Assim já não sou quem vive, mas Cristo é quem vive em mim. E esta vida que vivo agora, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se deu a si mesmo por mim.