22.9.06

Por que voto em Lula?

Por que votar no PT? Parece que em alguns ambientes da classe média brasileira declarar voto em Lula é quase uma auto-ofensa. Um misto de frustração com os andamentos do governo, especialmente no que tange à questão ética traduzida em uma infinidade de denúncias, frustrou as expectativas dessa parcela do eleitorado.
Mas eu, se pudesse, votaria em Lula. E o argumento em defesa disso pode ser construído a partir de vários fundamentos. Escolho, para justificar meu voto, o ético para início. O que mais o PT provou neste governo é que é um partido como os outros. Mostrou, mais uma vez, que o discurso da pureza, qualquer que seja o contexto, precisa ser visto com muitos pés atrás. O problemático na avaliação açodada dessa questão é não perceber que os papéis apenas se inverteram, com a exceção de que, os que agora acusam, não enganam mais. Ou alguém ainda é capaz de acreditar na pureza ética, moral e angelical de gente como ACM, Jorge Bonhausen, Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati, José Jorge, etc, etc?
O fato é, então, que o PT mostrou que nesse quesito a política partidária é extremamente nivelada. A única grande diferença que o governo do PT trouxe foi a espetacularização das denúncias – resultado de uma mídia de oposição – e a investigação de todas elas. Pois é. Nesse governo, as denúncias foram investigadas. Porque no anterior, elas pipocaram às dezenas, mas o rolo compressor da bancada do governo no Congresso e mais a conivência midiática impediu que fossem, cada uma, investigadas.
Ou você esqueceu das privatizações, especialmente das teles e da Vale do Rio Doce, criminosas e financiadas com o dinheiro do BNDES? Dos bilhões do PROER? Da compra de votos para a reeleição – que rendeu cassação de deputados mas nunca teve o Planalto tucano investigado? Do escândalo SIVAM/SIPAM? Do escândalo SUDAM/SUDENE? Do envolvimento do Juiz Lalau com a tucanada e com ACM? Da quebra do país, que perdeu três quartos das suas reservas cambiais em janeiro de 1999, e, além disso, gerou a festa dos bancos Marka e FonteCindam? Da quebra do sigilo do painel do Senado? Do apagão? Dos bilhões do Banestado? Do escândalo dos Precatórios? Da multiplicação do valor da dívida, que saltou de US$ 61 bilhões para US$ 750 bilhões? Da menor taxa de crescimento da história republicana? Das 50 CPIs barradas? Da quase "entrega" da Base de Alcântara aos EUA? Que a taxa básica de juros foi a mais de 30%? Que os Sanguessugas e os Vampiros da Saúde são do governo dele? Que a corrupção nos Correios começou em 1998?
Enfim, o que quero mostrar com isso é que o governo Lula teve uma única grande vantagem nesse aspecto, se comparado aos atuais palatinos da justiça e da ética: todas as denúncias foram investigadas no atual governo. E pessoas foram efetivamente punidas e afastadas.
Um outro problema sério é o anacronismo da proposta tucana. Alckmin não evoluiu o discurso do governo FHC. Suas propostas e ideologia repetem a do grande pai. Por causa disso, são anacrônicas. A população da América Latina varreu do mapa político – com umas poucas exceções – todas as propostas de governança neoliberal nos últimos anos. Porque sentiu na pele que o neoliberalismo que, prometia o céu do capitalismo, jogou os povos no inferno da desigualdade e exclusão social. Ou seja, é um discurso que não cola mais.
O povo pode não refinar sua reflexão a esse ponto, mas entende, quando sente no bolso, o que de mal o neoliberalismo lhe traz. E no bolso e na vida o povo sente o impacto positivo que o governo Lula tem trazido à sua vida. Por isso, as classes C, D e E estão tão dissociadas, nesse momento eleitoral, do que pensa a opinião pública, restrita às classes A e B. O povo entendeu que os partidos se igualam, mas sentem na vida que o projeto de Estado dos tucanos lhe foi maléfico, enquanto a ação do governo tem melhorado a sua vida.
E são muitas coisas que podem ser citadas, com as quais concluo o raciocínio do porque eu voto em Lula. A primeira delas foi notícia hoje (22/9) nos jornais: a redução da miséria nos três anos de governo Lula. Ainda são milhões os miseráveis e pobres, que não podem ser reduzidos a números estatísticos, mas aos poucos a vida dos historicamente mais explorados têm melhorado.
Não vou encher esse pequeno texto de números. Mas a diferença neles é tão real que esse tema foi evitado o quanto possível pelos tucanos nessa eleição. Mas, destacando algumas coisas, podemos citar que: ninguém, nas últimas décadas, deu um aumento nominal e real ao salário mínimo do porte que o governo Lula deu – com a inflação nos índices mais baixos das últimas décadas; o povo da seca tem visto o Estado brasileiro, por meio da Petrobras e do governo, construir cisternas e outras obras de enfrentamento da seca como nunca antes; o governo Lula multiplicou de forma exponencial o número de profissionais e equipes do Programa Saúde da Família; os criticáveis programas de distribuição de renda têm resgatado a cidadania de muitas famílias e têm sido importante elemento na economia de muitas cidades brasileiras; 129 mil empregos com carteira assinada são gerados a cada mês - contra 8 mil do governo dos tucanos. E, é claro, tem muito mais.
Parece que isso gera um certo sentimento de despeito. Tanto que, em novas denúncias, mesmo quando o discurso se esvazia, a oposição continua gritando. Como quem se recusa a perder e ameaça ir para a violência para ganhar à força o que está perdido. Explico, com um caso, com o qual encerro, o que quero dizer. No caso do Dossiê, o governo afastou todos os envolvidos em tempo recorde (se comparado a fatos anteriores). Lula afastou, inclusive, Berzoini da coordenação da campanha. Na manhã seguinte, a tevê reproduz fala de Tasso Jereissati dizendo que isso não era suficiente. Pareceu que o tucano-mor acreditava que o suficiente seria colocar todos os envolvidos no paredão e executá-los. O discurso já estava esvaziado, mas no arfã de fazer barulho, a tucanada não percebeu isso. Podem até conseguir sangrar votos de Lula, mas não na dimensão que imaginam.
É isso. É Lula de novo, com a força do povo. Transformei-me, nos últimos tempos, em um pragmático. Podem me acusar disso. Mas acredito que o melhor projeto para o Brasil é aquele que faz bem aos que nunca tiveram chance nessas terras. Pode não ser o candidato perfeito, nem o melhor dos mundos. Mas é o melhor para a nação. E espero que o povo já tenha mesmo escolhido.