Minha primeira opinião
21.3.03
Leão Serva comenta no seu blog que o endereço mais procurado na rede hoje é o blog de um iraquiano em Bagdá. Where is Raed?relata o cotidiano da capital. E a Guerra na visão de alguém que tem um alvo pintado sobre a cabeça. O seu e-mail é salampax@nme.com.
Quando vinha para o centro de Natal hoje, a Guerra de Bush me fez chorar. A rádio tocava We are the world/We are the children …, e eu fiquei pensando sobre a música que Michael Jackson fez para a campanha contra a fome na Etiópia em 85. Pessoas morriam, crianças desnutridas chocavam o mundo consternado. Crianças morriam...
Aí eu pensei que naquele momento crianças estavam sendo mortas por bombas anglo-saxônicas em Bagdad. Fiquei imaginando o sofrimento estampado em seus rostos chorosos. Pensei nos rostos chorosos dos pais, dos órfãos, dos impotentes diante da força do Império...
Chorei...
Aí eu pensei que naquele momento crianças estavam sendo mortas por bombas anglo-saxônicas em Bagdad. Fiquei imaginando o sofrimento estampado em seus rostos chorosos. Pensei nos rostos chorosos dos pais, dos órfãos, dos impotentes diante da força do Império...
Chorei...
A Guerra na Tevê é asséptica demais. Explosões, fogo, fumaça e... ninguém. Não há feridos, não há mortos, não há dor. Somente pedras que caem e se desfazem em chamas...
Será que Bush e Blair conseguem imaginar de que maneira os livros de história registrarão a sua presença neste mundo?
Prestem atenção. Acidentes com helicópteros ou negativas em admitir a perda de aeronaves são instrumentos de desinformação que este governo americano tipicamente se utiliza. Se alguém não estiver disposto a engolir a palavra do Pentágono como a final, pode ir atrás que vai encontrar baixas dos EEUU.
20.3.03
Perguntar não paga imposto: na cobertura da Globo da guerra, eu vi William Bonner, Fátima Bernardes, Caco Barcellos, Marcos Losekan, Cristina Serra, Ana Paula Padrão, William Wack, Marcos Uchoa, ...
ONDE ESTÁ CARLOS DORNELES?
ONDE ESTÁ CARLOS DORNELES?
A barriga da noite de ontem foi de Roberto Cabrini, da Band. Enquanto Ana Paula Padrão relatava que agências confirmavam uma segunda rodada de bombardeios sobre Bagdad, destacando que a Reuters dizia que ninguém tinha acesso ainda a imagens, a Band estava mostrando as imagens do ataque, enquanto seu locutor falava sobre outras coisas, sem perceber...
No entanto, a Band foi a única que eu vi mostrar ao vivo a transmissão da Al Jazeera, visando imparcialidade. E a Cultura foi a que teve agilidade para retransmitir a RTP, única tevê em língua portuguesa que tinha um repórter ao vivo na capital iraquiana.
No entanto, a Band foi a única que eu vi mostrar ao vivo a transmissão da Al Jazeera, visando imparcialidade. E a Cultura foi a que teve agilidade para retransmitir a RTP, única tevê em língua portuguesa que tinha um repórter ao vivo na capital iraquiana.
Matinas Suzuki Jr mandou bem no Editorial do iG.
Uma guerra sem glórias
A guerra começa. O presidente norte-americano George W. Bush -sem representar a unanimidade da opinião pública de seu país- oferta, com seu radicalismo, um período de incertezas e privações para todos os países do mundo.
Se os ataques do radicalismo islâmico destruíram as torres do World Trade Center, o radicalismo anglo-saxão, iniciado nesta quarta-feira, vai destruir, simbolicamente, na mesma Nova York, a torre do edifício das Nações Unidas.
A queda de Saddam Hussein pela violência suprema vale a destruição da ONU? Vale o desprezo pela Europa Continental e pela China? Vale ignorar arrogantemente os apelos da consciência universal? Quando cessarem os raides dos B-52 e B2 sobre Bagdá, estaremos vivendo em um mundo mais seguro? Que democracia é essa que um outro fanatismo pretende ensinar aos iraquianos?
Saddam Hussein é um criminoso. Contra ele formava-se um cordão de isolamento. Lideranças acreditavam em saída indolor para a crise iraquiana. Mas, agora, o mundo está mergulhando em uma aventura bélica inglória e sem chance de se haver vencedores. Já estamos todos perdendo, mas os maiores perdedores serão os próprios Estados Unidos.
Perdedores por prorrogar internamente a paranóia de atentados, perdedores por criar um amplo ressentimento mundial, perdedores por eventuais respostas européias e chinesas, e perdedores por quebrar a frágil aliança das Nações Unidas -um dos últimos refúgios da pequena esperança que restava em um mundo melhor, um mundo melhor inclusive para os americanos.
Uma guerra sem glórias
A guerra começa. O presidente norte-americano George W. Bush -sem representar a unanimidade da opinião pública de seu país- oferta, com seu radicalismo, um período de incertezas e privações para todos os países do mundo.
Se os ataques do radicalismo islâmico destruíram as torres do World Trade Center, o radicalismo anglo-saxão, iniciado nesta quarta-feira, vai destruir, simbolicamente, na mesma Nova York, a torre do edifício das Nações Unidas.
A queda de Saddam Hussein pela violência suprema vale a destruição da ONU? Vale o desprezo pela Europa Continental e pela China? Vale ignorar arrogantemente os apelos da consciência universal? Quando cessarem os raides dos B-52 e B2 sobre Bagdá, estaremos vivendo em um mundo mais seguro? Que democracia é essa que um outro fanatismo pretende ensinar aos iraquianos?
Saddam Hussein é um criminoso. Contra ele formava-se um cordão de isolamento. Lideranças acreditavam em saída indolor para a crise iraquiana. Mas, agora, o mundo está mergulhando em uma aventura bélica inglória e sem chance de se haver vencedores. Já estamos todos perdendo, mas os maiores perdedores serão os próprios Estados Unidos.
Perdedores por prorrogar internamente a paranóia de atentados, perdedores por criar um amplo ressentimento mundial, perdedores por eventuais respostas européias e chinesas, e perdedores por quebrar a frágil aliança das Nações Unidas -um dos últimos refúgios da pequena esperança que restava em um mundo melhor, um mundo melhor inclusive para os americanos.
Em plena Guerra Irã-Iraque, Herbert Vianna se perguntava:
E o futuro, o que trará,
para as crianças em Teerã?
Brincar de soldados por entre os escombros
os corpos deitados não fingem mais.
E as marcas de sangue no chão são lembranças
difíceis de apagar.
Será que ainda existe razão pra viver
em Teerã?
Existe futuro para as crianças de Bagdad?
E o futuro, o que trará,
para as crianças em Teerã?
Brincar de soldados por entre os escombros
os corpos deitados não fingem mais.
E as marcas de sangue no chão são lembranças
difíceis de apagar.
Será que ainda existe razão pra viver
em Teerã?
Existe futuro para as crianças de Bagdad?
Minha tia, direto de New York, disse não entender como as pesquisas de opinião têm dado 71 % de apoio da população ao ataque de Bush. Ela disse que nas ruas de NY a maioria absoluta dos transeuntes usam broches de oposição à Guerra, pedindo paz. E mesmo a tevê pôde mostrar uma reação dividida entre aplausos e vaias nos EUA.
Enquanto alguns criticam o fale com deus, acusando-o de usar o nome de Deus em vão, será que somente o Papa vai dizer que Bush deve deixar ele de usar o nome de Deus para legitimar seus atos.
Bush tem a mesma teologia e pertence à mesma igreja em que seus diáconos matavam negros e, quando questionados, respondiam a Giberto Freyre: “Eram somente alguns negros”.
Bush tem a mesma teologia que conduz a Ku Klux Klan a matar negros em nome de Deus: o fundamentalismo racista e direitista do sul dos EUA.
Bush tem a mesma teologia e pertence à mesma igreja em que seus diáconos matavam negros e, quando questionados, respondiam a Giberto Freyre: “Eram somente alguns negros”.
Bush tem a mesma teologia que conduz a Ku Klux Klan a matar negros em nome de Deus: o fundamentalismo racista e direitista do sul dos EUA.
Mas não se preocupem: eu sei que o discurso religioso é apenas uma capa ideológica para ocultar os reais motivos da Guerra...
Dona Gaya precisa cuidar melhor do seu jardim e limpar o terreno dos arbustos daninhos que sufocam as demais plantinhas...
Para quem não entendeu meu questionamento sobre a chuva no dia de São José, uma explicação. O sertanejo nordestino acredita que se chover em 19 de março, no calendário católico dia de São José, significa que o “inverno” está garantido, quer dizer, não haverá seca. Nos últimos anos, tem chovido sempre nesse dia. A minha pergunta se deve ao fato de que eu sou evangélico. Quero dizer, não acredito mesmo nos poderes intercessórios do marido de Maria. E por que chove no dia de São José?
19.3.03
Mas hoje será marcado como o dia do triunfo da pequenez moral que se mistura ao poderio bélico. Às dez da noite. Para o mundo inteiro ver soterrar-se o multilateralismo e vencer definitivamente o imperialismo ianque.
Estava em Jaboatão a semana passada. Priscila é assinante da Newsweek. Empacotada, a revista chegou lá pela quarta-feira. O cartão com o endereço da distribuidora cobria a parte central da capa. Só dava para ler o subtítulo da matéria de capa: “Com a fé mudou a sua vida e moldou a sua agenda”. Pensamos: “De quem será que está falando?” Abrimos com avidez o plástico protetor. Deparamo-nos com uma foto poderosa de Bush e o título: “Bush e Deus”. Mais uma vez o rolo compressor da ideologia imperialista agiu, criando uma relação à qual duvido muito entre Bush e o Senhor.
Dietrich Bonhoeffer, de quem já falei outras vezes, foi morto pelos nazistas, em um campo de concentração em 1944, por ter participado de um frustrado plano para assassinar Hitler.
Ele construiu uma parábola para justificar seu envolvimento no plano de morte, ele como respeitado teólogo cristão. Ele dizia que se um motorista louco estivesse conduzindo para a destruição um ônibus repleto de crianças, é obviamente lícito matar-se o motorista para salvar as vidas das crianças...
Bem, o mundo parece um ônibus desgovernado. E todos corremos riscos...
Ele construiu uma parábola para justificar seu envolvimento no plano de morte, ele como respeitado teólogo cristão. Ele dizia que se um motorista louco estivesse conduzindo para a destruição um ônibus repleto de crianças, é obviamente lícito matar-se o motorista para salvar as vidas das crianças...
Bem, o mundo parece um ônibus desgovernado. E todos corremos riscos...
Em homenagem ao Marco:
Ode ao Burguês
Mário de Andrade
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampeões!os condes Joões!os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns milreis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam o “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, donos das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fora Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema!ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
“- Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
- Um colar... – Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!”
Come! Come-te a ti mesmo, oh!gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh!cabelos nas ventas!oh!carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte e infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giôlhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fú! Fora o bom burguês!...
Ode ao Burguês
Mário de Andrade
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampeões!os condes Joões!os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns milreis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam o “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, donos das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fora Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema!ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
“- Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
- Um colar... – Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!”
Come! Come-te a ti mesmo, oh!gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh!cabelos nas ventas!oh!carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte e infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giôlhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fú! Fora o bom burguês!...
A Farsa da Boa Preguiça foi escrita em 1960 pelo mestre Ariano Suassuna.
(Estou profundamente arrependido por não ter me prostrado aos seus pés nesses dez dias em que fomos vizinhos e ter-lhe dito: “Eu te idolatro, mestre!”)
Muitas coisas podem ser ditas sobre ela. A sacerdotisa já disse muito, mas gostaria de dizer algo também.
Em “Cultura e Política”, texto de 1970, Roberto Schwarz analisa a produção intelectual e cultural brasileira na década de 60, especialmente após o Golpe de 64.
Segundo Schwarz, mesmo com a Direita tomando conta da cena política com uma Ditadura que acabara de recrudescer com o AI-5, a produção cultural nacional era basicamente de esquerda, anti-imperialista e anti-americana. A desarticulação disso por parte do regime ainda engatinhava.
Mas o autor afirma que essa produção se distanciara do povo com o golpe. A ditadura cassara logo de início todas as personagens que ligavam a elite intelectual com a massa popular. Isso afastou o pensamento cultural de esquerda da população, cada vez mais desmobilizada.
Essa intelectualidade de esquerda é criticada em algum lugar como se assemelhando às raparigas e seu amor pelos pobres: inteiramente condicional. É uma intelectualidade de bordel, que é pensada totalmente afastada do povo.
Clarabela é a personagem da Farsa que reflete essa situação. Uma construção de pensamento esquerdista (falsificado) que não possue nenhuma relação com o povo:
(falando sobre o marido, o rico Aderaldo Catação)
Vive catando migalhas,
como um... Não sei como diga!
Como um herói de Balzac!
Não encontro melhor definição:
Aderaldo, agora, é um herói de Balzac!
Você já leu Balzac, Simão?
SIMÃO
Não!
CLARABELA
E Joyce? E Proust? E Maiakoviski?
SIMÃO
Também não!
CLARABELA
Precisa ler! Principalmente Joyce e Maiakoviski,
para saber o que é uma forma concreta de vanguarda,
e um conteúdo de participação!
Parece que o povo e a intelectualidade que deseja pensar o mundo popular para o bem do povo habitam mundos distintos. Joaquim Simão (o povo) e Clarabela (os intelectuais) chegam a ser amantes, mas findam se separando.
(Estou profundamente arrependido por não ter me prostrado aos seus pés nesses dez dias em que fomos vizinhos e ter-lhe dito: “Eu te idolatro, mestre!”)
Muitas coisas podem ser ditas sobre ela. A sacerdotisa já disse muito, mas gostaria de dizer algo também.
Em “Cultura e Política”, texto de 1970, Roberto Schwarz analisa a produção intelectual e cultural brasileira na década de 60, especialmente após o Golpe de 64.
Segundo Schwarz, mesmo com a Direita tomando conta da cena política com uma Ditadura que acabara de recrudescer com o AI-5, a produção cultural nacional era basicamente de esquerda, anti-imperialista e anti-americana. A desarticulação disso por parte do regime ainda engatinhava.
Mas o autor afirma que essa produção se distanciara do povo com o golpe. A ditadura cassara logo de início todas as personagens que ligavam a elite intelectual com a massa popular. Isso afastou o pensamento cultural de esquerda da população, cada vez mais desmobilizada.
Essa intelectualidade de esquerda é criticada em algum lugar como se assemelhando às raparigas e seu amor pelos pobres: inteiramente condicional. É uma intelectualidade de bordel, que é pensada totalmente afastada do povo.
Clarabela é a personagem da Farsa que reflete essa situação. Uma construção de pensamento esquerdista (falsificado) que não possue nenhuma relação com o povo:
(falando sobre o marido, o rico Aderaldo Catação)
Vive catando migalhas,
como um... Não sei como diga!
Como um herói de Balzac!
Não encontro melhor definição:
Aderaldo, agora, é um herói de Balzac!
Você já leu Balzac, Simão?
SIMÃO
Não!
CLARABELA
E Joyce? E Proust? E Maiakoviski?
SIMÃO
Também não!
CLARABELA
Precisa ler! Principalmente Joyce e Maiakoviski,
para saber o que é uma forma concreta de vanguarda,
e um conteúdo de participação!
Parece que o povo e a intelectualidade que deseja pensar o mundo popular para o bem do povo habitam mundos distintos. Joaquim Simão (o povo) e Clarabela (os intelectuais) chegam a ser amantes, mas findam se separando.
Aderaldo Catacão é o neoliberal clássico.
As suas tentativas de equilibrar as contas lembram nossas contemporâneas políticas neoliberais de equilibrar contas públicas, com cortes de gastos sociais e arrojo fiscal.
Tenho feito sacrifícios, economias,
mas já equilibrei a receita
com um mínimo de despesas!
Basta que eu lhe diga que, atualmente, eu não vou na casa de minha Mãe
para ela não visitar a minha
e não desequilibrar meu orçamento
com o aumento do feijão e da farinha!
Está ouvindo como é, Simão?
Você tem que me servir, senão fica malvisto!
E, para bem me servir, lembre-se disto:
eu, sou um homem que não dou esmola a ninguém,
e não visito a casa da minha Mãe,
para ela não visitar a minha!
As suas tentativas de equilibrar as contas lembram nossas contemporâneas políticas neoliberais de equilibrar contas públicas, com cortes de gastos sociais e arrojo fiscal.
Tenho feito sacrifícios, economias,
mas já equilibrei a receita
com um mínimo de despesas!
Basta que eu lhe diga que, atualmente, eu não vou na casa de minha Mãe
para ela não visitar a minha
e não desequilibrar meu orçamento
com o aumento do feijão e da farinha!
Está ouvindo como é, Simão?
Você tem que me servir, senão fica malvisto!
E, para bem me servir, lembre-se disto:
eu, sou um homem que não dou esmola a ninguém,
e não visito a casa da minha Mãe,
para ela não visitar a minha!
Por fim, deveria falar de Joaquim Simão, a própria preguiça, o próprio ócio.
Suassuna diz no prefácio que nós sabemos que o trabalho existe para o ócio. Se trabalhamos é para gozarmos o descanso posterior.
Mas há sérias distorções. Os ricos que não trabalham nem fiam, mas colhem o ócio fruto da exploração.
Existe o ócio forçado, cada vez mais comum em nossos pobres hoje. É o ócio obrigatório do desemprego.
Quem conhece bem o ócio criador são os santos, os poetas e os artistas. O ócio que gera a vida e o mundo:
SIMÃO PEDRO
Há um ócio criador,
há outro ócio danado,
há uma preguiça com asas,
outra com chifre e rabo!
MIGUEL
Há uma preguiça de Deus,
e outra preguiça do Diabo!
MANUEL CARPINTEIRO
E então, a moral é essa,
que mostramos à porfia!
SIMÃO PEDRO
Viva a preguiça de Deus
que criou a harmonia
que criou o mundo e a vida,
que criou tudo o que cria!
MANUEL CARPINTEIRO
Viva o ócio dos Poetas
que tece a beleza e fia!
MIGUEL
Viva o Povo brasileiro,
sua fé, sua poesia,
sua altivez na pobreza,
fonte de força e Poesia!
Suassuna diz no prefácio que nós sabemos que o trabalho existe para o ócio. Se trabalhamos é para gozarmos o descanso posterior.
Mas há sérias distorções. Os ricos que não trabalham nem fiam, mas colhem o ócio fruto da exploração.
Existe o ócio forçado, cada vez mais comum em nossos pobres hoje. É o ócio obrigatório do desemprego.
Quem conhece bem o ócio criador são os santos, os poetas e os artistas. O ócio que gera a vida e o mundo:
SIMÃO PEDRO
Há um ócio criador,
há outro ócio danado,
há uma preguiça com asas,
outra com chifre e rabo!
MIGUEL
Há uma preguiça de Deus,
e outra preguiça do Diabo!
MANUEL CARPINTEIRO
E então, a moral é essa,
que mostramos à porfia!
SIMÃO PEDRO
Viva a preguiça de Deus
que criou a harmonia
que criou o mundo e a vida,
que criou tudo o que cria!
MANUEL CARPINTEIRO
Viva o ócio dos Poetas
que tece a beleza e fia!
MIGUEL
Viva o Povo brasileiro,
sua fé, sua poesia,
sua altivez na pobreza,
fonte de força e Poesia!
18.3.03
Foram dias maravilhosos. Juntando os dias antes do Carnaval, o Carnaval e os dias hospedados na casa do pr. Halley, foram 18 dias ininterruptos com o meu grande amor ao meu lado.
Amo tua alma
e teu corpo.
Amo teus segredos
e teus desejos.
Amo quando te fechas
e se te abres.
Amo teus abismos
e tuas fendas.
Amo tua alma
e teu corpo.
Amo teus segredos
e teus desejos.
Amo quando te fechas
e se te abres.
Amo teus abismos
e tuas fendas.
eu te amo calado
como quem ouve uma sinfonia
de silêncios e de luz
nós somos medo e desejos
somos feitos de silêncio e som
tem certas coisas que eu não sei dizer.
como quem ouve uma sinfonia
de silêncios e de luz
nós somos medo e desejos
somos feitos de silêncio e som
tem certas coisas que eu não sei dizer.
E dá-lhe o Rappa.
Senhoras e senhores
estamos aqui
pedindo uma ajuda por necessidade
pois tenho um irmão doente em casa
qualquer trocadinho é bem recebido
vou agradecendo antes de mais nada
àqueles que não puderem contribuir
deixamos também o nosso muito obrigado
pela boa vontade e atenção dispensada
vou agradecendo antes de mais nada
bom dia, passageiros,
é o que lhes deseja
a Miséria S/A, que acabou de chegar.
Senhoras e senhores
estamos aqui
pedindo uma ajuda por necessidade
pois tenho um irmão doente em casa
qualquer trocadinho é bem recebido
vou agradecendo antes de mais nada
àqueles que não puderem contribuir
deixamos também o nosso muito obrigado
pela boa vontade e atenção dispensada
vou agradecendo antes de mais nada
bom dia, passageiros,
é o que lhes deseja
a Miséria S/A, que acabou de chegar.
O mesmo jornal em que trabalho vai publicar no sábado a seguinte resenha (minha) de Deus é inocente; a imprensa, não, de Carlos Dorneles.
Atualmente, as definições de democracia e ditadura parecem ser dadas em conformidade aos ideólogos de plantão, mais precisamente aos interesses dos donos do poder.
Seguindo definições coerentes sobre ditaduras, George W. Bush poderia ser classificado como o imperador mais opressor da história. Diz Carlos Dorneles:
George W. Bush não inventou o controle da mídia, não foi o precursor na política de supremacia dos Estados Unidos, não foi o primeiro a promover guerras mantendo a imprensa contra a parede, não foi o único a bombardear outros povos para aumentar o prestígio junto à população e nem foi o arauto do desrespeito às organizações internacionais.
Mas, George W. Bush certamente foi o primeiro a fazer tudo isso ao mesmo tempo e com tamanha eficiência.
No contexto contemporâneo, quando se efetiva mais uma ação unilateral dos EEUU, o livro de Carlos Dorneles é leitura obrigatória, imprescindível. Deus é inocente; a imprensa, não (Ed. Globo, 2002, 271 pp) retrata a cobertura da mídia do 11 de Setembro, do ataque ao Afeganistão e do início do rolo compressor da operação contra o Iraque.
Analisando as revistas brasileiras Isto é, Veja e Época, os jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo e o Jornal do Brasil, além do New York Times e The Washington Post, Dorneles mostra como a cobertura foi unilateral, baseada unicamente em informes do governo americano (na maioria das vezes, incrivelmente inverossímeis), longe dos fronts, traduzindo uma panfletária postura pró-americana, diminuindo o efeito dos erros ianques e multiplicando (falsamente) o poder Talibã e da Al-Qaeda.
A pesquisa de Dorneles decalca toda a ideologia da Guerra contra o Terror, que produziu prisões e mortes anônimas entre civis, graves desrespeitos às leis internacionais e aos direitos humanos, tudo sob o olhar conivente da mídia internacional e do povo norte-americano.
Contradições e mentiras ficam claras. Desmentidos e meias verdades ganham ar ficcional. E o tamanho do poderio do maior império da história se destaca em Deus é inocente .... O livro é uma denúncia contra uma potência hegemônica que teima em querer definir o que é certo ou errado aos outros países, agindo por cima de leis e da autonomia de outras nações, vivendo uma cada vez mais hipócrita e irreal democracia.
Essencial.
Atualmente, as definições de democracia e ditadura parecem ser dadas em conformidade aos ideólogos de plantão, mais precisamente aos interesses dos donos do poder.
Seguindo definições coerentes sobre ditaduras, George W. Bush poderia ser classificado como o imperador mais opressor da história. Diz Carlos Dorneles:
George W. Bush não inventou o controle da mídia, não foi o precursor na política de supremacia dos Estados Unidos, não foi o primeiro a promover guerras mantendo a imprensa contra a parede, não foi o único a bombardear outros povos para aumentar o prestígio junto à população e nem foi o arauto do desrespeito às organizações internacionais.
Mas, George W. Bush certamente foi o primeiro a fazer tudo isso ao mesmo tempo e com tamanha eficiência.
No contexto contemporâneo, quando se efetiva mais uma ação unilateral dos EEUU, o livro de Carlos Dorneles é leitura obrigatória, imprescindível. Deus é inocente; a imprensa, não (Ed. Globo, 2002, 271 pp) retrata a cobertura da mídia do 11 de Setembro, do ataque ao Afeganistão e do início do rolo compressor da operação contra o Iraque.
Analisando as revistas brasileiras Isto é, Veja e Época, os jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo e o Jornal do Brasil, além do New York Times e The Washington Post, Dorneles mostra como a cobertura foi unilateral, baseada unicamente em informes do governo americano (na maioria das vezes, incrivelmente inverossímeis), longe dos fronts, traduzindo uma panfletária postura pró-americana, diminuindo o efeito dos erros ianques e multiplicando (falsamente) o poder Talibã e da Al-Qaeda.
A pesquisa de Dorneles decalca toda a ideologia da Guerra contra o Terror, que produziu prisões e mortes anônimas entre civis, graves desrespeitos às leis internacionais e aos direitos humanos, tudo sob o olhar conivente da mídia internacional e do povo norte-americano.
Contradições e mentiras ficam claras. Desmentidos e meias verdades ganham ar ficcional. E o tamanho do poderio do maior império da história se destaca em Deus é inocente .... O livro é uma denúncia contra uma potência hegemônica que teima em querer definir o que é certo ou errado aos outros países, agindo por cima de leis e da autonomia de outras nações, vivendo uma cada vez mais hipócrita e irreal democracia.
Essencial.
A ignorância é uma bênção (ou o ignorante é que é feliz). Três de bons filmes que assisti na vida citam a frase acima: Matrix, Swordfish e 13º andar.
Bem, após ler o livro de Carlos Dorneles, não pude pensar outra coisa. Não saber é talvez ser mais feliz. A consciência de fazer parte do mundo, mas a certeza de que ele é incontrolável, inalcançável e bem maior que você, é aterrorizante. Eu faço parte do mundo que não posso controlar. Esse mundo é parte de mim. Sinto-me pequeno e incapaz.
O desespero me faria desejar fugir do mundo. Para um lugar em que pudesse respirar sem angústia. Talvez a morte ou o mundo da lua. (Onde está a realidade da minha utopia?)
Talvez eu preferisse não ter consciência de quem são os EEUU. Viveria mais tranqüilo. Porque hoje sei quem são, a revolta contra o fato quase me sufoca; mas o que eu posso fazer de concreto? O quê?
Como é ruim perceber que a campanha anti-terror de Bush gerou tantas carnificinas, como o Afeganistão e Jenin, e não posso fazer nada. NADA! NADA
Bem, após ler o livro de Carlos Dorneles, não pude pensar outra coisa. Não saber é talvez ser mais feliz. A consciência de fazer parte do mundo, mas a certeza de que ele é incontrolável, inalcançável e bem maior que você, é aterrorizante. Eu faço parte do mundo que não posso controlar. Esse mundo é parte de mim. Sinto-me pequeno e incapaz.
O desespero me faria desejar fugir do mundo. Para um lugar em que pudesse respirar sem angústia. Talvez a morte ou o mundo da lua. (Onde está a realidade da minha utopia?)
Talvez eu preferisse não ter consciência de quem são os EEUU. Viveria mais tranqüilo. Porque hoje sei quem são, a revolta contra o fato quase me sufoca; mas o que eu posso fazer de concreto? O quê?
Como é ruim perceber que a campanha anti-terror de Bush gerou tantas carnificinas, como o Afeganistão e Jenin, e não posso fazer nada. NADA! NADA
Minha desesperança manifesta antes do Carnaval por causa de um texto que o jornal em que trabalho ia publicar, foi compessada por fim.
O texto pró-americano do pastor estadunidense Thomas McCracken saiu como matéria paga, com fraquíssimos argumentos em prol da Guerra.
Nas páginas seguintes, o jornal publicou entrevista com Orivaldo Lopes Pimentel, pastor batista e doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP.
Algumas de suas respostas derrubaram a exposição pró-americana da página anterior:
A religiosidade evangélica norte-americana é muito fechada com a proposta imperialista do governo dos Estados Unidos.
Infelizmente, a denominação que estou ligado, nos Estados Unidos, dá apoio à política belicista do Bush. Por mim, não manteríamos mais relacionamento com aquela denominação americana, mas não sou eu quem decide isso.
No dia de Luther King (pastor batista, por sinal) mais de cem mil pessoas marcharam, em Washington, contra a guerra ao Iraque.
(sobre a questão palestina)
A igreja, sem perceber isso, acaba apoiando às atitudes violentas, criminosas e injustas de Sharon e de seus seguidores, contra os palestinos. As respostas que eles dão em paus e pedras são chamadas de terror e são violentamente reprimidas.
Esse apoio de evangélicos a atitudes como essas não é evangélico, mas chama-se ideologia.
O texto pró-americano do pastor estadunidense Thomas McCracken saiu como matéria paga, com fraquíssimos argumentos em prol da Guerra.
Nas páginas seguintes, o jornal publicou entrevista com Orivaldo Lopes Pimentel, pastor batista e doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP.
Algumas de suas respostas derrubaram a exposição pró-americana da página anterior:
A religiosidade evangélica norte-americana é muito fechada com a proposta imperialista do governo dos Estados Unidos.
Infelizmente, a denominação que estou ligado, nos Estados Unidos, dá apoio à política belicista do Bush. Por mim, não manteríamos mais relacionamento com aquela denominação americana, mas não sou eu quem decide isso.
No dia de Luther King (pastor batista, por sinal) mais de cem mil pessoas marcharam, em Washington, contra a guerra ao Iraque.
(sobre a questão palestina)
A igreja, sem perceber isso, acaba apoiando às atitudes violentas, criminosas e injustas de Sharon e de seus seguidores, contra os palestinos. As respostas que eles dão em paus e pedras são chamadas de terror e são violentamente reprimidas.
Esse apoio de evangélicos a atitudes como essas não é evangélico, mas chama-se ideologia.