14.6.08

A trilha sonora desses dias, em meu coração, era Chico César e Zeca Baleiro:

Quando fui na ilha maravilha
Fui tratado como um paxá
Me deram arroz de cuxá
Água gelada da bilha
Cozido de jurará
Alavantu na quadrilha

É pedra é pedra é pedra
É pedra de responsa
mamãe eu volto pra ilha nem que seja montado na onça

Me levaram no boi-bumbá pra dançar
Eu dancei
Me deram catuaba pra provar
Aprovei
Me deram um cigarrim pra fumar
Menino como eu gostei
Mamãe eu quero sucesso
Dinheiro mulher e champanhe
Mamãe teu filho merece
Vera Fischer very money
(Demi Moore more money)

A trilha estava aqui. Pena que ela não estava.

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O tambor de crioula também é encantador:


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Apresentei uma comunicação e participei do juri do prêmio Expocom. Muito bom.

Mas o que mais me encantou nessa terra foi o Bumba-meu-boi:

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Estou em São Luís (MA) desde a última quarta-feira. Vim para o Intercom Nordeste. Nos últimos dias tive vontade de escrever sobre um monte de assunto. Vamos tentando.

Na quarta, meu vôo levava um grupo de torcedores do Corinthians para a final da Copa do Brasil em Recife (o pinga-pinga era Salvador - Recife - Fortaleza, coisa que amanhã pego ao contrário, de volta para casa). Muita bagunça. Mas como nordestino, torcia que o grupo se frustrasse. O Sport deu um chocolate nos paulistas. Podia ter sido uma sonora goleada. E o título ficou com o nordeste. Amém!

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9.6.08

Esta noite, quando voltava para casa, vi uma cena que me chocou bastante. Jogado no chão, no meio da avenida Tancredo Neves, um garoto, negro, pobre, desesperado, chorava. Com alguma dificuldade naquele trânsito, os carros desviavam dele. Parei de imediato o táxi. Antes que pudesse chegar próximo, um rapaz o tirou do meio da rua.
Olhos inchados, há mais de um hora seus gritos desesperados eram ouvidos na rua. Vendedor de amendoins, quando vendera 46 de seus 47 reservados para aquele dia, foi assaltado. Levaram-lhe tudo e lhe bateram. Desesperado com a perspectiva de não levar mais nada para sua mãe - e, desse modo, apanhar dela - temia e preferia morrer. Jogou-se no meio dos carros. Doze anos, aproximadamente. Uma criança de 12 anos, possivelmente conhecedora da violência em seu corpo, preferia morrer a chegar em casa sem o dinheiro que ajudaria sua mãe. Sua mãe, que recebe 10 reais por semana como babá.
Acho que só posso imaginar o tamanho da sua frustração. Em um dia, havia conseguido bem mais que a mãe em uma semana. Deve ter sido um dia de felicidade. Deve ter. Até que, tudo desmoronou. E o que restou foi um desespero tão intenso com a perspectiva até de apanhar que aquela criança - 12 anos - julgou melhor dar cabo de sua própria iniciante vida. Tanta coisa ainda a ser vivida. Mas ele, diante do que já deve ter vivido, preferia não ter mais nada para viver. Para que sofrer mais um surra? Para que ver o sofrimento de sua mãe e de sua família? Por que se permitir uma vida de mais anos de dor e sofrimento, violência, preconceito e falta de oportunidade - falta de amor? Era, para ele, melhor morrer. Mesmo que nos choque a perspectiva de pensar em uma criança de 12 anos tomando essa decisão de vida.
Deu para ver ainda um pouco de solidariedade. Pessoas pararam para ajudá-lo. Nem todo mundo. Apenas uns cinco ou seis, no meio de um caótico trânsito de uma grande cidade. Mesmo assim foram pessoas capazes de se jogarem na frente dos carros para impedir que o garoto fosse atropelado. Muitos desviaram e passaram de largo. Uns poucos quiseram ajudar. O menininho reclamou por ter sido agarrado pelo homem que o tirou do meio da rua. O rapaz justificou-se, explicando que fizera isso para ajudá-lo, para que não fosse morto, atropelado:
Se você queria me ajudar me deixasse morrer. Você não me ajudou. A vida não é sua, a vida é minha, bradou aquela criança - nem tão mais criança. A morte é simples para ela. Deve ser uma velha conhecidade, desde os primeiros tempos. Enquanto eu não me acostumo com ela cada vez que eu viajo de avião, o menino a desejava. Aliás, eu viajo de avião, enquanto o garoto quer a morte porque perdeu 46 reais.
Chorei mesmo. Como pode ser uma criança, começando a vida, querer a morte? Como pode isso porque sua mãe vai lhe bater? Qual o motivo disso tudo?
Aquele menino não deve ser mais nenhuma criança - como na cena de Em busca da terra do nunca - quando Pete descobre que se tornou um adulto. Prematuramente, a infância morreu.
Foi uma cena difícil. Conduziu-me a refletir. Era bom que todos refletissem. Como uma sociedade faz isso com os seus? Com os seus filhotes? Como pode ser que dentre centenas de pessoas passando na rua naquele momento, não mais que seis foram o samaritano, que trataram as feridas do homem que havia sido vítima de um assalto? Como pode um absurdo de uma nova vida querendo se acabar. Uma vida que só o Senhor deu e só o Senhor tem o direito de acabar.

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Assisti ao Príncipe Caspian. Para não mandar spoiler para ninguém, meu único comentário: Louvado seja Aslam!

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Recomendo a quem visitar Natal ou a quem mora na cidade. Na Ribeira, próxima à Tavares de Lira, um espaço cultural com a melhor música de Natal e com uma estrutura cada vez melhor. É o Buraco da Catita. Na sexta eu ainda estive lá, depois do jogo do ABC. Fiquei muito feliz em ver o sucesso de meu irmão, Camilo Lemos, que comanda o lugar.

O Buraco, Rosa de Pedra, Khrystal: tudo isso é manifestação da mais fiel cultura popular nordestina manifesta no RN.

Tem uma letra de Ricardo Baya que depois eu posto aqui. Sotaque. Muito bom.

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Estive em Natal no fim de semana. Minha passagem foi meteórica e cansativa.

Na sexta-feira, acompanhei meu primeiro jogo no estádio no Campeonato Brasileiro. Fui ver o empate entre ABC e Juventude.

Paulo Musse falhou - mas não sozinho - no gol do Juventude. Tenho dito que vejo dois problemas no Paulo Musse: 1) incapacidade de sair jogando, a não ser na base do chutão (se bem que no último jogo ele fez umas transições mais rápidas e mais precisas); 2) e incapacidade de encaixar a bola.

Vi o jogo pela primeira vez no estádio e atrás do gol. Só quando vi o gol do Juventude na tevê percebi de quão longe a bola partiu no chute de Alemão. Mas, também por estar atrás do gol, vi o tamanho do efeito e da força do chute. Falhou Musse e falhou a zaga que não chegou no rebote. Gostei, apesar disso, do time no primeiro tempo. Principalmente enquanto Éder conseguia colocar Alisson no jogo. A bola girava entre os dois alas, com todo o meio de campo funcionando. Depois, no segundo tempo, Éder se escondeu em campo e, conseqüentemente, o time pendeu para a direita, fundamentando suas jogadas apenas em Márcio Hann e Bosco. O melhor do segundo tempo foi Ivan. Neto Potiguar não foi bem nos dois jogos. Vinicius é horrível. No fim, achei que foi um mal resultado por ter sido em casa, mas foi o resultado mais justo pelo jogo.

O ABC continua com problemas no ataque e na armação. Faz tempo que me pergunto por um jogador que não está sendo nem aproveitado no banco pelo ABC, o Rodriguinho. Acho que Éder está indo bem, mas não é armador - é nitidamente um atacante. Houve um jogo - contra o Avaí - em que ele melhorou sensivelmente quando Marcelinho entrou e o "empurrou" para o ataque. Ele joga muito bem no "um-dois", mas a gente precisa de um criador. Quem mais se aproximou disso foi Dejair. Mas, nos poucos momentos que que vi Rodriguinho jogar esse ano, ele mostrou muita coisa boa. Por que ele não vai nem no banco? Neto Potiguar já era pra mim - da mesma turma do Vinicius. Jean, do Tigres, tem que melhorar um pouco mais a bola. Sexta ele entrou e tumultuou, caindo num espaço do campo em que já se acotovelavam Bosco e Márcio Hann.
Valdir Papel tem sido duramente criticado pela torcida. Sempre que vi Papel jogar, percebi que ele é um grande jogador, mas comentei sempre que o esquema tático vai matá-lo. Ele deve ser jogador de decisão, na área, mas faz tempo que o esquema não o deixa jogar na área. Em todos os jogos que eu vi, ele era obrigado, pelo modo de jogar do time, a sair da área, às vezes até o seu campo de defesa, para pegar a bola e armar a jogada. Eu já tinha, por isso, o sentimento que a torcida vai, mais cedo ou mais tarde, queimá-lo por isso. Atacante tem que fazer gol, né?
Precisamos, em suma, de um armador ou de um atacante melhor que Vinicius. E precisamos de um esquema tático mais flexível. Já pensei que talvez pudessemos jogar com dois jogadores para armar e um cabeça de área apenas. Pelo menos nos jogos em casa: 3 zagueiros, 2 alas e um cabeça de área ainda preservariam a força defensiva.

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