Esta noite, quando voltava para casa, vi uma cena que me chocou bastante. Jogado no chão, no meio da avenida Tancredo Neves, um garoto, negro, pobre, desesperado, chorava. Com alguma dificuldade naquele trânsito, os carros desviavam dele. Parei de imediato o táxi. Antes que pudesse chegar próximo, um rapaz o tirou do meio da rua.
Olhos inchados, há mais de um hora seus gritos desesperados eram ouvidos na rua. Vendedor de amendoins, quando vendera 46 de seus 47 reservados para aquele dia, foi assaltado. Levaram-lhe tudo e lhe bateram. Desesperado com a perspectiva de não levar mais nada para sua mãe - e, desse modo, apanhar dela - temia e preferia morrer. Jogou-se no meio dos carros. Doze anos, aproximadamente. Uma criança de 12 anos, possivelmente conhecedora da violência em seu corpo, preferia morrer a chegar em casa sem o dinheiro que ajudaria sua mãe. Sua mãe, que recebe 10 reais por semana como babá.
Acho que só posso imaginar o tamanho da sua frustração. Em um dia, havia conseguido bem mais que a mãe em uma semana. Deve ter sido um dia de felicidade. Deve ter. Até que, tudo desmoronou. E o que restou foi um desespero tão intenso com a perspectiva até de apanhar que aquela criança - 12 anos - julgou melhor dar cabo de sua própria iniciante vida. Tanta coisa ainda a ser vivida. Mas ele, diante do que já deve ter vivido, preferia não ter mais nada para viver. Para que sofrer mais um surra? Para que ver o sofrimento de sua mãe e de sua família? Por que se permitir uma vida de mais anos de dor e sofrimento, violência, preconceito e falta de oportunidade - falta de amor? Era, para ele, melhor morrer. Mesmo que nos choque a perspectiva de pensar em uma criança de 12 anos tomando essa decisão de vida.
Deu para ver ainda um pouco de solidariedade. Pessoas pararam para ajudá-lo. Nem todo mundo. Apenas uns cinco ou seis, no meio de um caótico trânsito de uma grande cidade. Mesmo assim foram pessoas capazes de se jogarem na frente dos carros para impedir que o garoto fosse atropelado. Muitos desviaram e passaram de largo. Uns poucos quiseram ajudar. O menininho reclamou por ter sido agarrado pelo homem que o tirou do meio da rua. O rapaz justificou-se, explicando que fizera isso para ajudá-lo, para que não fosse morto, atropelado:
Se você queria me ajudar me deixasse morrer. Você não me ajudou. A vida não é sua, a vida é minha, bradou aquela criança - nem tão mais criança. A morte é simples para ela. Deve ser uma velha conhecidade, desde os primeiros tempos. Enquanto eu não me acostumo com ela cada vez que eu viajo de avião, o menino a desejava. Aliás, eu viajo de avião, enquanto o garoto quer a morte porque perdeu 46 reais.
Chorei mesmo. Como pode ser uma criança, começando a vida, querer a morte? Como pode isso porque sua mãe vai lhe bater? Qual o motivo disso tudo?
Aquele menino não deve ser mais nenhuma criança - como na cena de Em busca da terra do nunca - quando Pete descobre que se tornou um adulto. Prematuramente, a infância morreu.
Foi uma cena difícil. Conduziu-me a refletir. Era bom que todos refletissem. Como uma sociedade faz isso com os seus? Com os seus filhotes? Como pode ser que dentre centenas de pessoas passando na rua naquele momento, não mais que seis foram o samaritano, que trataram as feridas do homem que havia sido vítima de um assalto? Como pode um absurdo de uma nova vida querendo se acabar. Uma vida que só o Senhor deu e só o Senhor tem o direito de acabar.
9.6.08
Espaço para minhas reflexões e loucuras, existenciais, acadêmicas, teologicas e emocionais
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