24 horas acabou. E eu gostei. E consegui ainda me surpreender com algumas coisas no fim. Aliás, errei todas as minhas previsões dadas ontem aqui. Eu realmente acreditava que os Drazen iriam conseguir algum sucesso, matando um dentre os alvos. Não esperava que fosse Tery e nem que as circunstâncias fossem aquelas. Essa a maior surpresa.
Cheguei a pensar que Jack atiraria em Nina e seria morto pela UCT e nem chegaria a descobrir a morte da mulher. Errei. Cheguei a achar que Tony mataria Nina. Mas, logo que teve início o episódio soube que isso não aconteceria. Afinal, Carlos Bernard foi rebaixado ao staff co-estrelando. Ficou claro que Tony não teria grande participação no grand finale.
Gostei da série porque, apesar de prevísivel em vários aspectos, conseguiu me surpreender. E surpreendeu até quando foi prevísivel porque as coisas óbvias aconteceram de maneira inusitada.
Minha primeira opinião
14.2.04
13.2.04
A foto que é a minha nova imagem de exibição foi premiada hoje no World Press Photo 2003. Ela foi feita por Jean-Marc Bouju, para a Associated Press. Testemunha um pai iraquiano, prisioneiro em um campo de Najaf, acalentando seu filho. Testemunha a crueldade da guerra de uma forma profunda. E me fez lembrar da velha canção dos Paralamas, do tempo em que uma outra guerra, envolvendo o Iraque, perturbava o mundo:
Teerã
(Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna)
Por quanto tempo ainda vamos ver
Fotografias pela manhã
Imagens de dor
Lições do passado
recentes demais para esquecer
E o futuro o que trará
Para as crianças em Teerã
Brincar de soldados por entre os escombros
Os corpos deitados não fingem mais
E as marcas de sangue no chão são lembranças difíceis de apagar
Será que existe razão pra viver
Em Teerã
Por quanto tempo ainda vamos ver
Nas noites frias e nas manhãs
Imagens de dor
em rostos marcados
Pequenos demais para se defender
E o futuro o que trará
se essas crianças vão sempre estar
pedindo trocados pros vidros fechados
sentando no asfalto sem perceber
que as marcas de sangue no chão são lembranças difíceis de apagar
Será que existe razão pra viver em Teerã
Teerã
(Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna)
Por quanto tempo ainda vamos ver
Fotografias pela manhã
Imagens de dor
Lições do passado
recentes demais para esquecer
E o futuro o que trará
Para as crianças em Teerã
Brincar de soldados por entre os escombros
Os corpos deitados não fingem mais
E as marcas de sangue no chão são lembranças difíceis de apagar
Será que existe razão pra viver
Em Teerã
Por quanto tempo ainda vamos ver
Nas noites frias e nas manhãs
Imagens de dor
em rostos marcados
Pequenos demais para se defender
E o futuro o que trará
se essas crianças vão sempre estar
pedindo trocados pros vidros fechados
sentando no asfalto sem perceber
que as marcas de sangue no chão são lembranças difíceis de apagar
Será que existe razão pra viver em Teerã
Vim aqui somente para traduzir a minha, digamos, estupefação diante de 24 horas. Para ser mais surpreendente e ao mesmo tempo óbvia, só falta que o fim, amanhã, seja diferente do esperado: Jack heroicamente salvando sua filha, defrontando-se com Nina, etc.
Por falar na moça, confesso que tive minhas suspeitas em alguns momentos. Primeiro, ela seria a traidora mais inesperada dentre todos os possíveis e em histórias policiais isso sempre acontece. Segundo, o nome dela me pareceu suspeito, quando ficou claro que havia alguma relação entre as tentativas de assassinatos e alguma coisa na Sérvia (Nina me parecia um nome que cabia bem a uma sérvia). Em terceiro lugar, ela saiu da casa segura antes do atirador chegar. E, uma última marca, esta da edição: na vinheta de abertura, quando Jack fala que alguém que trabalha com ele poderia está envolvido, ainda era o rosto de Nina que era focado. Eu pensei que isso era estranho, já que a inocência dela havia sido provada no início do dia e a vinheta já havia sido alterada. Quer dizer, ela poderia ter sido removida do posto de suspeita.
Mas devo confessar que desde a quarta ou quinta passada eu já nem pensava mais nisso. Havia esquecido as suspeitas, mas continuava crendo na surpresa que aconteceria na hora da revelação.
Como é que pode? Eu aqui, no meu blog, falando de 24 horas...
Sinto muito, mas me empolguei demais com a melhor série americana que eu vejo desde o Arquivo X.
Por falar na moça, confesso que tive minhas suspeitas em alguns momentos. Primeiro, ela seria a traidora mais inesperada dentre todos os possíveis e em histórias policiais isso sempre acontece. Segundo, o nome dela me pareceu suspeito, quando ficou claro que havia alguma relação entre as tentativas de assassinatos e alguma coisa na Sérvia (Nina me parecia um nome que cabia bem a uma sérvia). Em terceiro lugar, ela saiu da casa segura antes do atirador chegar. E, uma última marca, esta da edição: na vinheta de abertura, quando Jack fala que alguém que trabalha com ele poderia está envolvido, ainda era o rosto de Nina que era focado. Eu pensei que isso era estranho, já que a inocência dela havia sido provada no início do dia e a vinheta já havia sido alterada. Quer dizer, ela poderia ter sido removida do posto de suspeita.
Mas devo confessar que desde a quarta ou quinta passada eu já nem pensava mais nisso. Havia esquecido as suspeitas, mas continuava crendo na surpresa que aconteceria na hora da revelação.
Como é que pode? Eu aqui, no meu blog, falando de 24 horas...
Sinto muito, mas me empolguei demais com a melhor série americana que eu vejo desde o Arquivo X.
11.2.04
Se eu não me engano, a estética da recepção, de Jauss, afirma que a obra de arte se constitui da soma de dois fatores que acontecem no espectador. Em primeiro lugar, ela provoca emoção. Ela impacta emocionalmente aquele que se depara com a obra, seja um quadro, seja um livro, seja uma foto. E sejam essas emoções alegres ou tristes, profundas ou singelas. O importante é: a obra emociona.
E em segundo lugar, a obra traz um conhecimento novo, uma informação nova. Ela acrescenta algo que, em contato com o meu conjunto pessoal de informações, transforma o meu conhecimento e, por conseqüência, a mim mesmo.
Por que estou dizendo isso? Porque hoje eu fui assistir, pela segunda vez, Cidade de Deus. A primeira vez foi em 2002, em Fortaleza. Sozinho. Hoje eu fui levar a minha mãe para ver o filme, cujas cenas, enredo, personagens ainda estavam profundamente vívidos na minha lembrança.
Na cena das mais chocantes do filme, em que Zé Pequeno faz com que Filé-com-fritas execute um garoto um pouco mais novo que ele, alguém de duas fileiras atrás de mim riu. Eu me indignei. Minha mãe protestou: Como alguém pode rir numa cena dessas?.
Ao final do filme, após a exibição da entrevista real de Mané Galinha ao Jornal Nacional, saindo do cinema, percebi minha mãe com lágrimas nos olhos. E ela me perguntou: Foi esse filme que foi aplaudido de pé nos Estados Unidos? Eu retruquei, ao perceber as lágrimas: Você está me dizendo que não gostou do filme ou que ele impactou tremendamente você?
É claro que ela se referia ao tamanho do impacto emocional que o filme provoca. Algo que os antigos chamariam de, simplesmente, soco no estômago. Ela disse isso. O filme, na sua opinião, era muito bom, apesar de cruel. O maior impacto é o de perceber que aquilo tudo, de uma maneira crua, é real. Dessa maneira, foi para mim impactante perceber, quando no final é exibida a entrevista com Mané Galinha, que ele existiu mesmo. Quer dizer, que aquilo é real mesmo, de alguma maneira.
Impacto e informação. Cidade de Deus provou-se uma obra de arte.
E em segundo lugar, a obra traz um conhecimento novo, uma informação nova. Ela acrescenta algo que, em contato com o meu conjunto pessoal de informações, transforma o meu conhecimento e, por conseqüência, a mim mesmo.
Por que estou dizendo isso? Porque hoje eu fui assistir, pela segunda vez, Cidade de Deus. A primeira vez foi em 2002, em Fortaleza. Sozinho. Hoje eu fui levar a minha mãe para ver o filme, cujas cenas, enredo, personagens ainda estavam profundamente vívidos na minha lembrança.
Na cena das mais chocantes do filme, em que Zé Pequeno faz com que Filé-com-fritas execute um garoto um pouco mais novo que ele, alguém de duas fileiras atrás de mim riu. Eu me indignei. Minha mãe protestou: Como alguém pode rir numa cena dessas?.
Ao final do filme, após a exibição da entrevista real de Mané Galinha ao Jornal Nacional, saindo do cinema, percebi minha mãe com lágrimas nos olhos. E ela me perguntou: Foi esse filme que foi aplaudido de pé nos Estados Unidos? Eu retruquei, ao perceber as lágrimas: Você está me dizendo que não gostou do filme ou que ele impactou tremendamente você?
É claro que ela se referia ao tamanho do impacto emocional que o filme provoca. Algo que os antigos chamariam de, simplesmente, soco no estômago. Ela disse isso. O filme, na sua opinião, era muito bom, apesar de cruel. O maior impacto é o de perceber que aquilo tudo, de uma maneira crua, é real. Dessa maneira, foi para mim impactante perceber, quando no final é exibida a entrevista com Mané Galinha, que ele existiu mesmo. Quer dizer, que aquilo é real mesmo, de alguma maneira.
Impacto e informação. Cidade de Deus provou-se uma obra de arte.
Agora é definitivo. Estou fora da situação humilhante do jornal. Mas ainda me comprometi a editar o próximo número.
Eu gosto da idéia de fazer um jornal evangélico que provoque a reflexão, não só dos crentes, mas também da comunidade que costuma ver os evangélicos como estreitos intelectualmente. Gosto de pensar que posso colaborar na discussão de questões éticas profundas e relevantes para o Povo de Deus.
Mas isso já não era mais possível no Jornal União, especialmente após a saída dos diretores esta semana. Acredito que o desejo de agradar um ou outro líder vai falar mais alto agora do que a vocação de agradar a Deus e fazer um bom jornalismo.
Então, aproveitem que sábado, no Diário de Natal, vocês vão ter a oportunidade de ler o último número do Jornal União editado por mim.
Eu gosto da idéia de fazer um jornal evangélico que provoque a reflexão, não só dos crentes, mas também da comunidade que costuma ver os evangélicos como estreitos intelectualmente. Gosto de pensar que posso colaborar na discussão de questões éticas profundas e relevantes para o Povo de Deus.
Mas isso já não era mais possível no Jornal União, especialmente após a saída dos diretores esta semana. Acredito que o desejo de agradar um ou outro líder vai falar mais alto agora do que a vocação de agradar a Deus e fazer um bom jornalismo.
Então, aproveitem que sábado, no Diário de Natal, vocês vão ter a oportunidade de ler o último número do Jornal União editado por mim.
9.2.04
O texto abaixo será editorial no Jornal União do próximo sábado. Este jornal é um veículo evangélico de Natal que eu ainda tenho a honra de editar.
Crise ética da igreja
Elias era, em uma expressão popular nordestina, um cabra macho. Irredutível a respeito de seu chamado, de sua vocação, representava o Deus de Israel com profunda indignação profética. Os tempos eram difíceis. O que menos se via entre a liderança do povo de Deus eram a ética e o temor do Senhor. Tudo isso começando do próprio rei Acabe e da rainha Jezabel.
Elias, imperturbável, levantava sua voz “em nome do Senhor” para denunciar os pecados do povo e os desmandos dos poderosos. Das lideranças. Uma passagem marcante acontece logo após Jezabel perpetrar o latrocínio contra Nabote para tomar a sua vinha, que ele, honradamente, recusou-se a vender ao rei. Ao encontrar-se com Elias, Acabe pergunta: “Você já me achou, meu inimigo?” (1 Rs. 21. 20). É impressionante que Elias não corrige a fala do rei: ele é mesmo seu inimigo. “Achei, sim, porque você se entregou completamente a fazer o que o Senhor Deus considera errado” (1 Rs. 21. 20). A ética do Deus a quem Elias servia não podia transigir com o rei, apesar da sua posição de autoridade.
A ética do Deus de Israel continua intransigente contra o seu povo, especialmente contra a sua liderança. Mas a ética do povo de Deus está cada vez mais relativa. A cada dia eu escuto, vindo de fontes diversas, de diferentes igrejas e denominações, relatos de pastores e líderes que, no mínimo, não vivem o que pregam e não estão à altura da mensagem da qual são portadores. E ainda se esforçam ao máximo para, mantendo as aparências, esconder, abafar, os chamados escândalos. “Isso não deveria ser tratado em público”, logo dizem.
Será mesmo? Os pecados estão sendo cometidos em público. Os desmandos e as arbitrariedades, também. A leviandade contra a fé do povo é notória. Por que, então, os assuntos não podem ser públicos?
Elias não enfrentava o rei pecador no recato do quarto do palácio, mas sim no meio da praça. Se os pecados do rei eram do conhecimento de todos, Deus os tratava diante de todos. A Igreja precisa ser crítica inclusive nesse ponto e não se deixar seduzir pelo conforto e tranqüilidade dos panos quentes.
Certa vez, estava em um culto de oração em uma igreja de Natal, quando um irmão tomou a palavra para dar testemunho. Ele contava que saíra de casa com dez reais, apenas dez reais, para pagar uma conta, o que faria após deixar a igreja. Sua filha lhe dera o dinheiro, que ele deixou sobre o painel do carro. Chegando próximo à igreja, parou em fila dupla. E um guarda se aproximou para multá-lo. Então, ele dava graças a Deus porque aqueles dez reais estavam sobre o painel do carro. E, dando uma bola ao soldado, ele pôde, por ação de Deus, escapar da multa. E na igreja, nesse momento, se ouviram aleluias e glórias. Que Deus anti-ético é esse? Não é o Deus de Elias. Não é o Deus da Bíblia. Mas é o Deus com quem vivem muitos crentes e que pregam muitos pastores.
Recentemente, políticos evangélicos estiveram envolvidos com o escândalo da falsificação de carteiras de estudante em Natal. Nada ainda, segundo a polícia, foi comprovado, mas o fato em si já deveria nos provocar indignação profética.
O ex-pastor da IURD, Mário Justino, narra no livro Nos bastidores do Reino, muitas histórias que estamos cansados de saber, mas muitos crentes preferem esconder. Diz o ex-pastor, sobre a realidade da Universal: Sexo, dinheiro e drogas se confundem, no mesmo púlpito, com orações e salmos de Davi. E relata inúmeros casos, como os que conhecemos, de exploração da fé ingênua do povo, da ênfase no dinheiro para manter as engrenagens da denominação, da humilhação a que são submetidos os perturbados, endemoninhados ou não. Geralmente entrevistávamos os endemoninhados e, para mostrar ao respeitável público que tínhamos poder sobre eles, fazíamos com que essas pessoas andassem de joelhos ao redor da igreja, ou batessem a cabeça nos nossos pés, ou latissem ou ainda que imitassem galinhas, porcos e outros animais. Isso dependia da imaginação de cada pastor. Depois dos exorcismos, enquanto o povo explodia em aplausos e gritos de júbilo, do alto do púlpito nós agradecíamos os louvores. Mesmo sabendo que aqueles ‘demônios’ nada mais eram do que pessoas em busca de atenção ou sofrendo de seríssimas crises emocionais, nossa atitude era indefectível, diz Justino.
Deprimido, tendo se transferido para São Paulo para evitar um relacionamento homossexual que mantinha desde mais novo com um outro pastor, apesar de ambos serem casados, envolveu-se com drogas. Primeiro Lexotan, depois passou a dirigir cultos sob o efeito da maconha. Apesar disso, cresceu na organização da igreja e foi transferido para os EUA.
Não levou muito tempo para se descobrir portador do vírus HIV. Após tantas desventuras e contravenções, o bispo Macedo culminou tudo com um fecho chocante. Dando, literalmente, uma banana para o ex-colaborador, o abandonou em Nova York, desassistido, sem dinheiro, HIV positivo, sem condições de retornar ao Brasil. Dessa maneira, aprofundou-se ainda mais no submundo em que a IURD o iniciou.
Histórias chocantes que devem nos conduzir à reflexão. E agora? Quantos Elias poderão se levantar nesta nação para que o crescimento do número de evangélicos no país possa redundar em glória, e não em vergonha, para o nome de Jesus?
Crise ética da igreja
Elias era, em uma expressão popular nordestina, um cabra macho. Irredutível a respeito de seu chamado, de sua vocação, representava o Deus de Israel com profunda indignação profética. Os tempos eram difíceis. O que menos se via entre a liderança do povo de Deus eram a ética e o temor do Senhor. Tudo isso começando do próprio rei Acabe e da rainha Jezabel.
Elias, imperturbável, levantava sua voz “em nome do Senhor” para denunciar os pecados do povo e os desmandos dos poderosos. Das lideranças. Uma passagem marcante acontece logo após Jezabel perpetrar o latrocínio contra Nabote para tomar a sua vinha, que ele, honradamente, recusou-se a vender ao rei. Ao encontrar-se com Elias, Acabe pergunta: “Você já me achou, meu inimigo?” (1 Rs. 21. 20). É impressionante que Elias não corrige a fala do rei: ele é mesmo seu inimigo. “Achei, sim, porque você se entregou completamente a fazer o que o Senhor Deus considera errado” (1 Rs. 21. 20). A ética do Deus a quem Elias servia não podia transigir com o rei, apesar da sua posição de autoridade.
A ética do Deus de Israel continua intransigente contra o seu povo, especialmente contra a sua liderança. Mas a ética do povo de Deus está cada vez mais relativa. A cada dia eu escuto, vindo de fontes diversas, de diferentes igrejas e denominações, relatos de pastores e líderes que, no mínimo, não vivem o que pregam e não estão à altura da mensagem da qual são portadores. E ainda se esforçam ao máximo para, mantendo as aparências, esconder, abafar, os chamados escândalos. “Isso não deveria ser tratado em público”, logo dizem.
Será mesmo? Os pecados estão sendo cometidos em público. Os desmandos e as arbitrariedades, também. A leviandade contra a fé do povo é notória. Por que, então, os assuntos não podem ser públicos?
Elias não enfrentava o rei pecador no recato do quarto do palácio, mas sim no meio da praça. Se os pecados do rei eram do conhecimento de todos, Deus os tratava diante de todos. A Igreja precisa ser crítica inclusive nesse ponto e não se deixar seduzir pelo conforto e tranqüilidade dos panos quentes.
Certa vez, estava em um culto de oração em uma igreja de Natal, quando um irmão tomou a palavra para dar testemunho. Ele contava que saíra de casa com dez reais, apenas dez reais, para pagar uma conta, o que faria após deixar a igreja. Sua filha lhe dera o dinheiro, que ele deixou sobre o painel do carro. Chegando próximo à igreja, parou em fila dupla. E um guarda se aproximou para multá-lo. Então, ele dava graças a Deus porque aqueles dez reais estavam sobre o painel do carro. E, dando uma bola ao soldado, ele pôde, por ação de Deus, escapar da multa. E na igreja, nesse momento, se ouviram aleluias e glórias. Que Deus anti-ético é esse? Não é o Deus de Elias. Não é o Deus da Bíblia. Mas é o Deus com quem vivem muitos crentes e que pregam muitos pastores.
Recentemente, políticos evangélicos estiveram envolvidos com o escândalo da falsificação de carteiras de estudante em Natal. Nada ainda, segundo a polícia, foi comprovado, mas o fato em si já deveria nos provocar indignação profética.
O ex-pastor da IURD, Mário Justino, narra no livro Nos bastidores do Reino, muitas histórias que estamos cansados de saber, mas muitos crentes preferem esconder. Diz o ex-pastor, sobre a realidade da Universal: Sexo, dinheiro e drogas se confundem, no mesmo púlpito, com orações e salmos de Davi. E relata inúmeros casos, como os que conhecemos, de exploração da fé ingênua do povo, da ênfase no dinheiro para manter as engrenagens da denominação, da humilhação a que são submetidos os perturbados, endemoninhados ou não. Geralmente entrevistávamos os endemoninhados e, para mostrar ao respeitável público que tínhamos poder sobre eles, fazíamos com que essas pessoas andassem de joelhos ao redor da igreja, ou batessem a cabeça nos nossos pés, ou latissem ou ainda que imitassem galinhas, porcos e outros animais. Isso dependia da imaginação de cada pastor. Depois dos exorcismos, enquanto o povo explodia em aplausos e gritos de júbilo, do alto do púlpito nós agradecíamos os louvores. Mesmo sabendo que aqueles ‘demônios’ nada mais eram do que pessoas em busca de atenção ou sofrendo de seríssimas crises emocionais, nossa atitude era indefectível, diz Justino.
Deprimido, tendo se transferido para São Paulo para evitar um relacionamento homossexual que mantinha desde mais novo com um outro pastor, apesar de ambos serem casados, envolveu-se com drogas. Primeiro Lexotan, depois passou a dirigir cultos sob o efeito da maconha. Apesar disso, cresceu na organização da igreja e foi transferido para os EUA.
Não levou muito tempo para se descobrir portador do vírus HIV. Após tantas desventuras e contravenções, o bispo Macedo culminou tudo com um fecho chocante. Dando, literalmente, uma banana para o ex-colaborador, o abandonou em Nova York, desassistido, sem dinheiro, HIV positivo, sem condições de retornar ao Brasil. Dessa maneira, aprofundou-se ainda mais no submundo em que a IURD o iniciou.
Histórias chocantes que devem nos conduzir à reflexão. E agora? Quantos Elias poderão se levantar nesta nação para que o crescimento do número de evangélicos no país possa redundar em glória, e não em vergonha, para o nome de Jesus?
8.2.04
Rafael, concordo com você. Acredito que há grandes linhas de intersecção entre Marxismo e Cristianismo. Como também há muitos pontos discordantes. Mas os alvos de ambas as revoluções têm muitos pontos em comum. Mas o mesmo não se aplica à religião institucional, que a maior parte das vezes é transigente em ética, negocia com as verdades bíblicas, manipula o povo. Mas o cristianismo, como movimento profético, propugna a revolução que Deus opera em todas as estruturas da vida humana.