8.5.04

Não diria que estou admitindo mentir neste blog. Estou admitindo que considero veraz a interpretação que Goffman dá da vida em sociedade. Nós representamos papéis sociais que têm suas próprias fachadas. Nós podemos acreditar nas personagens que encarnamos ou podemos ser cínicos e trapaceiros e, então, manipulamos o que expressamos de nós mesmos.
Isso acontece com maior intensidade no ciberespaço. Representamos neste teatro de nova socialidade. Representamos com mais facilidade porque não temos que expor o nosso rosto e vestir as máscaras se torna mais fácil.
Todos representamos. Todos assumimos papéis na sociedade. Se mentimos, não é exclusividade minha. O problema é que encarnarmos os papéis tão bem que esse se torna o nosso verdadeiro eu. Um eu mediado pelo palco em que atuamos.
Isso faz parte da essência dos blogs, creio eu. Nenhum dos meus leitores têm qualquer condição de verificar se o que digo ou exponho aqui é totalmente real. (Aliás, o que é real na cibercultura?)
Isso não significa que sou insincero. Até onde eu me conheço, eu sou o que exponho aqui. Nem mais, nem menos. Só que eu também sou um ator social. Um ator inserido no ciberespaço. Inserido na comunidade blogueira.
Quer saber mais? Leia Erving Goffman.

Por fim, queria falar sobre as enormes críticas que têm sido feitas a Lula. São justas. Eu mesmo estou me decepcionando mais a cada dia. Mas ontem eu fui ao site do CNPQ e percebi uma coisa que Lula está fazendo de extremamente positivo. Ele está priorizando a pesquisa científica como ninguém jamais fez antes. Prova disso foi o que me aconteceu. Sabem por que fui contemplado com uma bolsa da CAPES? Porque o CNPQ (órgão do governo) aumentou o número de bolsas disponíveis para Pós-Graduação, especialmente no Nordeste. E mais do que isso. O valor das bolsas foi reajustado pela primeira vez desde 1994(!). O reajuste foi pequeno diante da devasagem, mas melhor do que nada. Em 94, época de paridade cambial, a bolsa de mestrado valia cerca de R$ 700 (ou US$ 700). Se fosse mantido o valor da bolsa relacionado ao dólar ela seria hoje de R$ 2100(!). Mas subiu para apenas R$ 855,00. Ainda assim o fato demonstra uma preocupação que Fernando Henrique não teve. E pensar que Fernando Henrique é o grande sociólogo, professor e pesquisador, e Lula, o metalúrgico semi-analfabetizado...

Voltando a falar sobre os nossos estudos na igreja. Tenho uma preocupação especial com os meninos que já sofreram tantas decepções nos relacionamentos que passam a acreditar que o único relacionamento do qual realmente precisamos é com Jesus. O meu próximo ponto é tratar isso. Não acredito que essa seja a idéia das Escrituras sobre o assunto. Relacionamento é muito complicado, mas acredito que somos chamados a amar demasiadamente. Mesmo que venhamos a nos decepcionar. E certamente vamos nos decepcionar. Certamente. Mas Deus não desiste das pessoas. Nem nós deveríamos desistir delas.

Impressionante como alguns textos não perdem a relevância, mesmo que passem os anos. A representação do eu na vida cotidiana, de Erving Goffman, é dos anos 50. É fascinante. Estou lendo para a minha dissertação. Sugestão de Susana e Adriano. As noções da vida social como vida de encenação tem tudo a ver com o que fazemos nos nossos blogs. Aliás, Goffman esclarece que a vida em sociedade se estabelece nessas dramatizações. Somos atores. Usamos máscaras. Assumimos papéis. Mas é claro, pelo menos para mim, que quando estamos no ciberespaço essa dissimulação ganha enorme magnitude. É ainda mais fácil (e necessário) trapacear por aqui. Esse ponto é importante na hora de definir o que sejam blogs.

Estamos estudando vocação com os jovens da igreja. Hoje eu pus em prática nesse contexto algumas reflexões trazidas dos estudos de teorias da leitura no mestrado. A leitura leva, de certa forma, o leitor a experienciar as narrativas as quais lê. Ele se identifica catarticamente com os personagens, sente com eles, sofre com eles, vive as suas vidas.
Propus, pensando nisso, um exercício de imaginação aos meninos. Dentro do tema vocação para relacionamentos, é claro. Divide o grupo em três menores e lhes dei pequenos textos que contavam as histórias de três personagens que tiveram encontros transformadores com Jesus (Pedro, a mulher adúltera e Zaqueu). Prioritariamente, a idéia era extrair princípios de vida e relacionamento dessas histórias. Subsidiariamente, despertar nos meninos a consciência de leitor ao fazê-los perceber que mergulhar em um texto é mergulhar em um rico mar de sentidos, emoções e vida. A imaginação deve nos levar a tornar reais para nós o que às vezes não passa de letra fria e morta.

7.5.04

Pela manhã me preparava para estudar quando me ligaram da Universidade. Era para ir o mais rápido possível lá. Assinar documentos. Abrir conta em banco. O assunto? Bolsa da CAPES. E o prazo limite era hoje. E eu fui contemplado. Graças a Deus.

Estou extremamente irritado com o America On Line. Há cerca de um mês o provedor nos bloqueou sem motivo. Como não tenho plano com suporte telefônico grátis tive de ligar (duas vezes), ao custo de R$ 0,30 o minuto apenas para saber do que se tratava. Anteontem encaminhei um e-mail para mais de cem pessoas da minha lista de contatos. Não sabia que o serviço Anti-spam AOL era tão eficaz e ele me bloqueou. Escaldado com a experiência, hoje fui enviar um e-mail do abaixo assinado da Anistia Internacional contra a lapidação de mulheres na Nigéria e tomei o máximo cuidado para não chegar a cem e-mails em menos de 10 minutos, limite do bloqueio. Foram sessenta. E o AOL me bloqueou de novo. Pela segunda vez em dois dias tive de ligar e dar mais dinheiro a eles. E estou pensando seriamente em migrar para o UOL.

Admito que sou noveleiro. Adoro novelas. E tenho adorado Chocolate com Pimenta. Desde que Miguel começou a falar em consertar seu balão eu tenho apostado aqui em casa em um final tipo Roque Santeiro para a trama: Aninha vai ter de escolher entre ir embora com um ou ficar com o outro que sempre foi o grande amor de sua vida. Aliás, essa história não é original de Roque, Porcina e Malta. Vem de Casablanca.
A decepção com o final de Roque Santeiro foi tão grande aqui em casa (todos queriam que Porcina fosse embora com Roque) que ninguém assistiu a novelas por alguns anos.

3.5.04

No tempo em que estou na igreja, o pessoal nunca foi muito feliz em guardar a surpresa das festas de aniversário que montavam. Calhou que justamente no meu aniversário tudo foi praticamente perfeito. Mesmo com algumas pistas durante o dia, como o meu pastor não ter me ligado, ou minha avó se manter bem arrumada à noite, eu não desconfiei seriamente de nada. Até que chegou um carro, minha tia desceu para conversar com uma "amiga". Nesse momento, o celular dela tocou e eu atendi. E reconheci a voz de Belisa. Fiz questão de fingir não reconhecer e desligar o telefone. Troquei de roupa e fui para o quarto, fingir que estudava.
Fiquei emocionado. Mesmo. Veio gente que eu nem esperava. A última vez que uma festa comemorou meu aniversário tinha sido no ano dois mil. Antes disso, só na infância. Eu nem sei agir numa hora dessas.
É claro que a trilha sonora da festa foi Amor, amor, amor...

A propósito: já é meu aniversário.

Não sai da cabeça de quem fomos a Recife a música mais fantástica da banda Mortalha, digo Fornalha: Amor, amor, amor... amor, amor, amor, amor... e no final o autor comete a proeza de uma sutil mudança na letra: a - m - o - r, a - m - o - r, a - m - o - r. Jeizom disse que se pusséssemos o cérebro do compositor em uma galinha o máximo que ia acontecer era ela ciscar para frente.

2.5.04

Viagem cansativa ao extremo. Cheguei do aniversário da minha tia Lourdinha às duas horas da manhã do sábado. Acordamos quatro e meia para irmos para Recife. Saímos às seis horas. Depois de dois pneus estourados na estrada e duas paradas, chegamos ao Veneza Water Park perto do meio dia. Tarde de piscinas, conversas e diversão. Após tomarmos banho, fomos ao Shopping Center Recife, onde chegamos às sete da noite. Encontramos com os amigos de Recife, entre eles o Bruno. Oito e meia fomos para o Espaço Renascer, onde aconteceria o Abril Pró-Gospel. Nenhum de nós tinha mais forças. Dormi deitado no chão, em colos de amigos, no carro de um primo. Só despertei quando começou o show de uma das bandas mais ridículas que já conheci na vida, Fornalha. Dancei música brega até não querer mais. Em seguida, forrozei com Os Cabras de Cristo. Viemos embora imediatamente depois. Todos com sono pesado naquele ônibus. Eram quatro da manhã. Às sete, fomos despertados ao som da Fornalha. Estávamos chegando a Natal. Só bagaço. Dormi o domingo inteiro. E já já vou para a igreja. Lembrar do sucesso do sábado. E rir o máximo que puder.