27.12.03

Daqui a pouco meu primo Alexandre vai estar se casando. Meu primo, que foi o único irmão com quem eu convive. Com quem briguei, com quem brinquei, que me protegia na rua, que me fez goleiro no futebol. Ele, que me levou às primeiras festas, me ensinou a gostar de Titãs, Paralamas e O Rappa. Meu primo, herói dos primeiros anos de vida. Por quem chorei quando roubaram-me, em um São João de tantos anos, a caixa de foguinhos que tinha guardado para ele. Alexandre, meu primo a quem amei na infância, amo agora e sinto saudades já por antecipação.

Na festa percebi que mais ainda do que de uma companheira eu preciso recuperar a capacidade de me apaixonar. Preciso recuperar a coragem de me entregar sem limites e me apaixonar de verdade para valer a pena respirar o ar de alguém, sonhar o seu sonho, fazê-la feliz. Ontem olhava aquelas meninas tão doces, interessantes e bonitas e me perguntava onde andava minha paixão, meu fogo, minha capacidade de estar abestalhadamente apaixonado.

Ontem fui ao aniversário de quinze anos de uma amiga e a frase que mais repeti, frente a algumas constatações tiradas na festa, é o muito real adágio popular:
Tem gente que engole o camelo e engasga com o mosquito

Sofrimento para alguns é ser feliz
pra quem nunca teve nada
é tudo o que sempre quis.

Acho essas músicas as melhores do novo CD de O Rappa, O silêncio q precede o esporro

Papo de surdo e mudo

o nascimento
de uma alma
é coisa demorada
não é partido ou jazz
em que se improvise
não é casa moldada
laje que suba fácil
natureza da gente
não tem disse me disse

no balcão do botequim
a prosa tá parada
não se fala da vida
não acontece nada
se não faltasse trabalho
no meio do barulho
o dia sobra
e sobra muito
papo de surdo e mudo

ela passa de onda
paisagem fluminense
parece dia de festa
todo mundo presente
se soubesse rimar
faria um samba antigo
onde reina a calma
e todo mundo é amigo

o calor é sólido
um pedaço eu sinto
como um bafo
e a cachaça que
queima bem forte
vibrante e forte
estaria maluco
se não estivesse junto

O salto

As ondas de vaidades
inundaram os vilarejos
E minha casa se foi
Como fome e banquete
Então achei sobre as ruínas
e as dores sobre os ferros
A brasa e a pele ardiam
Como o fogo dos novos tempos

E regaram as flores
no deserto
E regaram as flores
com chuva de insetos

Mas se você ver
em seu filho
uma face sua
e retinas de sorte
E um punhal reinar
como o brilho do sol
O que farias tu?
Se espatifaria
ou viveria
o espírito santo

Aos jornais
eu deixo meu sangue
como capital
E às famílias
um sinal

E regaram as flores
no deserto
E regaram as flores
com chuva de insetos



Minha irmã escreveu esse texto no Natal. Não sei se ela me autorizaria a publicá-lo, mas não resisti à sua beleza.

O NATAL QUE EU NÃO TIVE...

Meu pai, meu velho inesquecível...

o Natal de 2003 chegou, e eu, tua primeira filha te queria aqui, bem perto de mim...

Relembro aquele em que você se vestiu de papai-noel e subiu pela janela da nossa casa lá ...na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte...Dezembro de 1968, era uma casa grande, bem pertinho do mar, com sacadas e uma rede macia, onde depois da ceia eu dormia em teu colo...parece que estou vendo aquela corda, e minha mãe falando baixinho, prá gente não ouvir: “_ Rubens, cuidado prá não cair! E eu me perguntava:

Será que o painho está agüentando segurar o Papai-Noel nas costas? Papai Noel é tão gordo...ai,ai,ai vou fechar os olhos prá não ver...não quero que machuquem meu painho, muito menos papai-noel!!!

Ah, meu pai...35 anos se passaram, eu era tão menina, eu não entendia nada da vida... Como pode um comunista, se vestir de papai-noel ( símbolo do capitalismo e do consumismo – que engana as crianças, sim , por que eu sempre acreditei que o papai-noel me traria o presente que sempre desejei, bastaria eu pedir...ah! doce ilusão, mal sabia eu, quantos pais morreram tentando dar um presente para seus filhos...)

Mas, o meu querido pai, era um poeta revolucionário e para ele a roupa vermelha, lembrava revolução, o sonho de fazer um dia um mundo feliz, e o que é isso, senão fazer uma criança feliz? Qual criança não se alegra ao ver o papai-noel?

Hoje eu entendo, você meu pai, também acreditava na esperança – o sonho de um mundo melhor...

eu só não acreditava meu pai, que homens pudessem tirar o Natal de uma criança...

Tiraram você de mim, mal sabia que aquele seria o nosso último Natal juntos...

Ah, paizinho, porque você não me falou que existiriam coisas tristes, muito tristes que eu teria que enfrentar...

Em abril de 1969, você nos colocou em um avião e nos mandou para o Paraná, para a casa da Vó Guilhermina e do Vô Ângelo,não nos disse nada, apenas disse que iríamos passear de férias...

Você foi embora “fugindo” dos doutores da lei...foi pego, e sofreu torturas! Nunca mais voltou para nos buscar, nunca mais...

Quantas feridas...elas ainda ecoam...

Quantos natais passei sem você...te buscando em cada bolinha colorida da árvore enfeitada...em cada estrela brilhante dos enfeites nas varandas simples ou luxuosas...

É meu pai, cresci sem você por perto, não me recordo de mais nenhum natal juntos...

Você voltou para o Brasil, e sei, jamais comemorou..”os doutores da lei” te fizeram triste... faltava sempre alguém junto à tua mesa, que ora era farta, ora era simples...eu sei, a tua busca foi grande. Fizestes outra família, mas jamais conseguiu reunir todos os teus filhos ao redor de uma mesa para ceiarem junto com você, a tua alegria NUNCA foi por inteira... “os teus inteiros” não se faziam presente!

Adulta, me tornei mãe, foram poucos, bem poucos os Natais de minha vida;

( entre eles o NASCIMENTO DE MEUS 3 FILHOS A ALEGRIA DE CADA UM DELES CHEGANDO...estes são os meus natais.)

Sempre, todos os natais, mesmo depois das longas caminhadas e distâncias tuas, jamais encontraste o caminho do teu primeiro lar. Que hoje se multiplica em teus netos...

Minha mãe sempre tão sozinha, tentava fazer o nosso Natal menos triste e solitário do que já era. Foram anos amargos, lembranças nem tanto mansas...imagine para ela que nunca te esqueceu e sempre ficou a te esperar, também...VOCÊ NUNCA SOUBE DIZER ADEUS, simplesmente foi embora... ah! tempos cruéis, roubou-nos a alegria...

O tempo andou, como sempre, não pára...

crescemos, meus irmãos e eu, sabemos, mas não confessamos nunca um para o outro:

FALTA ALGO, FALTA A MAGIA, FALTA ALEGRIA, FALTA AQUELE NATAL DE 1968, FALTA UMA FAMÍLIA COMPLETA, REUNIDA...

Sabe meu pai, hoje não mais encontro você fisicamente... Faz 4 anos que você partiu e desta vez, eu sei: não terei a alegria da tua volta...já não terei que ficar horas e horas sentada no portão esperando que talvez, no próximo Natal você pudesse aparecer de braços abertos, pedindo “- vem cá , dá-me um cheiro, um abraço apertado de saudades...”

Ah, meu pai...por quê a vida é tão breve quando a queremos longa e por quê é tão longo o sofrimento quando o queremos breve?

Que tempo é esse, ladrão, que roubou você de mim...afinal, tinhas apenas 57 anos, estavas há 20 anos na minha frente...tantas histórias prá contar, tantos natais prá resgatar...tantos caminhos ...

Estejas onde estiver, meu velho pai. Longe ou perto.

O infinito é logo ali... e com certeza haverá um dia o nosso reencontro...

Antes porém, eu te peço:

Cuida de mim,

cuida de meus irmãos,

cuida de meus filhos,

cuida de meus sobrinhos,

cuida de teus netos...

enfim, zele por teu sangue...

Ajude-me a fazer que o Natal de 2003

seja melhor que o Ano de 1969.

Ajude-me a encontrar a alegria prá comemorar...e continuar lutando para que NUNCA MAIS nenhuma criança tenha seu pai tirado em uma noite de Natal!!!

Eternamente, tua filha
Lucinha.

Porto Alegre, 24 de dezembro de 2003

23.12.03

Solidariedade ao moskito. E bem que eu sabia que o Doug não valia o que o gato enterra e não merece nenhum link.

Minha mensagem de Natal para vocês.
Feliz Natal a todos, lembrando do Amor revolucionário de Deus que se fez um de nós para transformar e subverter a história do homem:

Dois bebês em um presépio

Em 1994 dois americanos responderam um convite que veio do Departamento de Educação da Rússia, para ensinar moral e ética nas escolas públicas, baseadas em princípios bíblicos.
Deviam ensinar em prisões, empresas, o corpo de bombeiros, a polícia e em um grande orfanato.
No orfanato havia quase cem meninos e meninas que haviam sido abandonados, abusados e deixado nas mãos do Estado.
Daí surgiu esta história relatada pelos próprios visitantes.
Aproximava-se a época do das festas de natal de 1994, as crianças do orfanato iam escutar pela primeira vez a história tradicional do Natal.
Contamos-lhes acerca de Maria e José chegando a Belém, de como não encontraram lugar nas pousadas, razão pela qual tiveram que ir a um estábulo onde finalmente o menino Jesus nasceu e foi posto em uma manjedoura.
Ao longo da história as crianças e os empregados do orfanato não podiam conter seu assombro. Alguns estavam sentados na ponta da cadeira tratando de captar cada palavra.
Uma vez terminada a história demos às crianças três pequenos pedaços de cartolina para que fizessem um rude presépio.
A cada criança foi dada um pequeno pedaço de papel quadrado, cortado, de uns guardanapos amarelos que eu havia levado comigo. Na cidade não podia se encontrar nenhum só pedaço de papel colorido.
Seguindo as instruções, as crianças cortaram e dobraram o papel cuidadosamente, colocando as tiras como palha. Uns pequenos quadradinhos de flanela, cortados de uma velha camisa que uma senhora americana havia esquecido ao partir da Rússia, foram usados para fazer o cobertor do bebê. De um feltro marrom que trouxemos dos Estados Unidos, cortaram a figura de um bebê.
Enquanto os órfãos estavam atarefados armando seus presépios, eu caminhava entre eles para ver se necessitavam de alguma ajuda.
Tudo ia bem até que cheguei onde o pequeno Misha estava sentado.
Parecia ter uns seis anos e havia terminado seu trabalho. Quando olhei a manjedoura e fiquei surpreso ao não ver apenas um bebê na manjedoura, mas dois. Chamei rapidamente o tradutor para perguntasse a Misha porque havia dois bebês na manjedoura.
Misha cruzou seus braços e observando a cena do presépio começou a repetir a história muito seriamente.
Por ser o relato de uma criança que havia escutado a história do Natal apenas uma vez estava muito bom, até que chegou a parte onde Maria põe o bebê na manjedoura. Ali, Misha começou a inventar seu próprio final para a história, disse:
E quando Maria deixou ao bebê na manjedoura, Jesus me olhou e me perguntou se eu não tinha um lugar para ficar. Eu lhe disse que não tinha mamãe nem papai e que não tinha um lugar para ficar. Então Jesus me disse que eu podia ficar ali com Ele. Disse-lhe que não podia, porque não tinha um presente para dar a Ele. Porém, eu queria ficar com Jesus, por isso, pensei o que eu tinha que pudesse dar a Ele como um presente. Ocorreu-me que um bom presente seria dar-lhe calor. Por isso, perguntei a Jesus: - Se te dou calor, esse é um bom presente para ti? E Jesus me disse: - Se me dás calor, esse seria o melhor presente que jamais terei recebido. Por isso, me meti dentro do presépio e Jesus me disse que podia ficar ali para sempre.
Quando o pequeno Misha terminou sua história, seus olhinhos brilhavam, cheio de lágrimas molhando suas bochechas; cobriu o rosto, abaixou a cabeça e seus ombros começaram a sacudir em um pranto profundo.
O pequeno órfão havia encontrado a alguém que jamais o abandonaria nem abusaria dele. Alguém que estaria com ele para sempre.
Eu aprendi que não são as coisas que tens em tua vida o que conta, mas a quem tens, o que verdadeiramente importa.

Esta figura é perfeita para ilustrar o papel de muitos "pastores" no mundo de hoje.

22.12.03

Sábado passei por um momento de frustração que me conduziu à reflexão. Em uma livraria percebi que desejava comprar alguns daqueles volumes mas... não tinha dinheiro.
E não tinha dinheiro porque apesar de estar trabalhando há dois meses não tenho recebido salários. Logo, meu trabalho semi-voluntário tem me prejudicado.
Essa reflexão me conduziu a uma conversa com meus chefes. Eles vão ver o que podem fazer para melhorar essa situação. Tenho o maior prazer de trabalhar no jornal mas como profissional é difícil não receber salários.

Ontem eu tive um momento de emoção rememorativa diante da tevê. Há alguns domingos eu não assistia Smallville no SBT. No episódio de ontem Clark descobriu toda a verdade sobre seu passado. A partir das revelações de um personagem novo, um cientista, interpretado por Cristopher Reeve. Ao som da trilha dos filmes dos anos 80 de Superman. Emocionante ver toda aquela referenciação. Dez.