Minha primeira opinião
14.2.03
A sacerdotisa do absurdo postou uma resposta à história sobre Maria, Conceição e Cláudia. Vale a pena lê-la!
Descobri que o Hiperfocus está realizando uma campanha até amanhã contra a Guerra de Bush. 100 poetas contra a Guerra. Participe. Envie seu poema para o e-mail do blog: hiperfocus@yahoo.com.br.
Se não tivesse forte esperança utópica, ontem minha fé revolucionária teria sofrido um revés.
O diálogo abaixo ocorreu em uma repartição pública de Natal. Três pessoas estavam envolvidas, cujas identidades vou preservar, utilizando pseudônimos: Maria; sua chefe imediata, Conceição; e a jovem secretária de um outro chefe, Cláudia.
Antes de contar o fato, devo esclarecer sobre alguns personagens citados na história. Emanuel Bezerra foi um líder estudantil morto nos porões da ditadura militar. Djalma Maranhão era o prefeito de Natal em 1964. Na sua administração, Paulo Freire começou a pôr em prática a pedagogia do oprimido no projeto “De pé no chão também se aprende a ler”. Foi cassado e morreu no exílio.
Vamos ao (incrível) diálogo. Ele gira em torno de um retrato de Emanuel Bezerra.
Maria: Ah, deixa eu olhar. Quero ver se eu não conhecia ele...
Cláudia: Quem é ele?
Conceição: Foi um estudante que morreu no tempo da Revolução.
Cláudia: Revolução? Que Revolução?
Maria: Revolução não: golpe militar. O golpe de 64 (disse, voltando-se para a jovem).
Cláudia: Ah, eu nem era nascida ...
Maria: Mas você nunca viu nada sobre o golpe? Quando derrubaram Jango, em 31 de março? Todo ano se comemorava essa data: você não estudou isso, não?
Cláudia: Não...
Maria: Derrubaram Jango, prenderam Djalma Maranhão... Você sabe quem era Djalma Maranhão?
Cláudia: Tem uma escola com o nome dele ...
Maria: Que curso você faz?
Cláudia: Economia.
Maria: Você deve ter estudado em história ... Você não estudou história no colégio?
Cláudia: Não me lembro de ter estudado isso não.
Nesse momento, Conceição, envergonhada, deixa a sala.
Maria: VOCÊ DEVE ESTAR BRINCANDO COMIGO!
E para surpresa e tristeza de Maria, a resposta foi um sonoro: “Não!”
O diálogo abaixo ocorreu em uma repartição pública de Natal. Três pessoas estavam envolvidas, cujas identidades vou preservar, utilizando pseudônimos: Maria; sua chefe imediata, Conceição; e a jovem secretária de um outro chefe, Cláudia.
Antes de contar o fato, devo esclarecer sobre alguns personagens citados na história. Emanuel Bezerra foi um líder estudantil morto nos porões da ditadura militar. Djalma Maranhão era o prefeito de Natal em 1964. Na sua administração, Paulo Freire começou a pôr em prática a pedagogia do oprimido no projeto “De pé no chão também se aprende a ler”. Foi cassado e morreu no exílio.
Vamos ao (incrível) diálogo. Ele gira em torno de um retrato de Emanuel Bezerra.
Maria: Ah, deixa eu olhar. Quero ver se eu não conhecia ele...
Cláudia: Quem é ele?
Conceição: Foi um estudante que morreu no tempo da Revolução.
Cláudia: Revolução? Que Revolução?
Maria: Revolução não: golpe militar. O golpe de 64 (disse, voltando-se para a jovem).
Cláudia: Ah, eu nem era nascida ...
Maria: Mas você nunca viu nada sobre o golpe? Quando derrubaram Jango, em 31 de março? Todo ano se comemorava essa data: você não estudou isso, não?
Cláudia: Não...
Maria: Derrubaram Jango, prenderam Djalma Maranhão... Você sabe quem era Djalma Maranhão?
Cláudia: Tem uma escola com o nome dele ...
Maria: Que curso você faz?
Cláudia: Economia.
Maria: Você deve ter estudado em história ... Você não estudou história no colégio?
Cláudia: Não me lembro de ter estudado isso não.
Nesse momento, Conceição, envergonhada, deixa a sala.
Maria: VOCÊ DEVE ESTAR BRINCANDO COMIGO!
E para surpresa e tristeza de Maria, a resposta foi um sonoro: “Não!”
Quando Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral, eu tinha cinco anos. Lembro da sessão, transmitida ao vivo pela teve. Lembro da raiva que tinha do PDS (persistente contra seus herdeiros: PPB e PFL). Lembro de ter chorado muito em 21 de abril de 1985. Como milhões de brasileiros.
Além disso, grande parte dos políticos envolvidos nos governos FHC e Lula foram vítimas do regime millitar, ou lutaram contra ele. Em outras palavras, desconhecer a história recente do país é viver fora do mundo.
Penso que esse tipo de gente é do mesmo tipo que dá audiência e vendagem para gente como MC Serginho e o ser que chamam de Lacraia. Que como diz um post do Maria NÃO vai com as outras, seriam incapazes de valorizar Chico Buarque, Caetano Veloso e o ministro Gil se eles surgissem no cenário agora, mesmo que estivesse na flor da idade.
Simplesmente, considero a história acima inacreditável. Jack Palance deveria dizer agora: “Acredite se quiser!”
Além disso, grande parte dos políticos envolvidos nos governos FHC e Lula foram vítimas do regime millitar, ou lutaram contra ele. Em outras palavras, desconhecer a história recente do país é viver fora do mundo.
Penso que esse tipo de gente é do mesmo tipo que dá audiência e vendagem para gente como MC Serginho e o ser que chamam de Lacraia. Que como diz um post do Maria NÃO vai com as outras, seriam incapazes de valorizar Chico Buarque, Caetano Veloso e o ministro Gil se eles surgissem no cenário agora, mesmo que estivesse na flor da idade.
Simplesmente, considero a história acima inacreditável. Jack Palance deveria dizer agora: “Acredite se quiser!”
Isso me faz lembrar uma história familiar. Minha tia era secretária de Moacir de Góes, secretário municipal de educação em 1964, à época do golpe.
Como deve ter ficado claro, a prefeitura de Natal na época estava ocupada por políticos inovadores e esquerdistas. Quando veio o golpe, todos começaram a ser detidos pelo exército.
Minha tia, esperta, destruiu diversos documentos da secretaria que tinha em casa. Colocou no lixo, à porta da humilde casa de vila da minha família.
Naquela mesma noite, um jipe do EB descarregou um grupo de milicos naquela casinha. Eles foram recebidos pela minha avó:
- Pois não? O que vocês querem?
- A senhora é o que dessa casa?
- Eu sou a dona.
- Queremos revistar a sua casa.
E puseram a casa de pernas para o ar em busca de documentos que estavam logo ali, na calçada, no lixo. Leram os livros escolares de minha mãe e minha outra tia, rasgaram sacos de carvão.
Minha avó havia posto um saco de bananas pendurado na parede na sala, “para amadurecer logo”, como ela disse. Um sargento pegou no saco e perguntou o que havia ali. E minha avó, ousada:
- Banana. O senhor quer uma?
Pois é. Minha avó deu uma banana para os milicos poucos dias após o golpe. E viveu para contar a história.
Como deve ter ficado claro, a prefeitura de Natal na época estava ocupada por políticos inovadores e esquerdistas. Quando veio o golpe, todos começaram a ser detidos pelo exército.
Minha tia, esperta, destruiu diversos documentos da secretaria que tinha em casa. Colocou no lixo, à porta da humilde casa de vila da minha família.
Naquela mesma noite, um jipe do EB descarregou um grupo de milicos naquela casinha. Eles foram recebidos pela minha avó:
- Pois não? O que vocês querem?
- A senhora é o que dessa casa?
- Eu sou a dona.
- Queremos revistar a sua casa.
E puseram a casa de pernas para o ar em busca de documentos que estavam logo ali, na calçada, no lixo. Leram os livros escolares de minha mãe e minha outra tia, rasgaram sacos de carvão.
Minha avó havia posto um saco de bananas pendurado na parede na sala, “para amadurecer logo”, como ela disse. Um sargento pegou no saco e perguntou o que havia ali. E minha avó, ousada:
- Banana. O senhor quer uma?
Pois é. Minha avó deu uma banana para os milicos poucos dias após o golpe. E viveu para contar a história.
13.2.03
Reflexões sobre o uso do nome de Deus
Os judeus são escrupulosos ao extremo com relação ao nome de Deus. Afinal é mandamento da Lei de Moisés não usar o nome de Deus em vão. Os judeus se tornaram tão escrupulosos que nós perdemos a pronúncia desse nome. Sim, porque o texto se refere a um nome específico, o nome com o qual Deus se apresentou na Aliança.
O hebraico (escrito) não tinha vogais até o século XIII, quando os massoretas criaram sinais (pontos e linhas) a serem colocados sob as palavras a fim de preservar a pronúncia. Só que o nome de Deus (YHWH) não poderia ser pronunciado em vão. Dessa maneira, sua pronúncia foi perdida. Então, os massoretas colocaram sob o tetragrama as vogais de Elohim (Deuses - ?) ou Adonai (Senhor), dependendo do contexto. Assim, o judeu, diante da palavra YHWH, lê Elohim ou Adonai, dependendo das vogais. Entendeu? Ele jamais pronuncia o tetragrama, mesmo porque não sabemos a sua pronúncia.
Do uso dessas vogais, nasceram as formas portuguesas para o nome de Deus: Javé, Iavé ou Jeová. Em sentido estrito é esse o nome de Deus que não pode ser usado em vão. Ao ponto que o judeu moderno chama seu Deus apenas por “O Nome” (Ha Shamaim).
O escrúpulo judaico é tanto que eles não conjugam o verbo ser, a não que se refira a Deus. Isso porque provavelmente o nome de Deus deriva da frase: “Eu Sou”. Assim, para o judeu somente Deus é.
Essa é uma possível legitimação para o uso da palavra deus em outros contextos. O fale com deus, por exemplo, toma o cuidado de usar o substantivo com letra minúscula.
Os judeus são escrupulosos ao extremo com relação ao nome de Deus. Afinal é mandamento da Lei de Moisés não usar o nome de Deus em vão. Os judeus se tornaram tão escrupulosos que nós perdemos a pronúncia desse nome. Sim, porque o texto se refere a um nome específico, o nome com o qual Deus se apresentou na Aliança.
O hebraico (escrito) não tinha vogais até o século XIII, quando os massoretas criaram sinais (pontos e linhas) a serem colocados sob as palavras a fim de preservar a pronúncia. Só que o nome de Deus (YHWH) não poderia ser pronunciado em vão. Dessa maneira, sua pronúncia foi perdida. Então, os massoretas colocaram sob o tetragrama as vogais de Elohim (Deuses - ?) ou Adonai (Senhor), dependendo do contexto. Assim, o judeu, diante da palavra YHWH, lê Elohim ou Adonai, dependendo das vogais. Entendeu? Ele jamais pronuncia o tetragrama, mesmo porque não sabemos a sua pronúncia.
Do uso dessas vogais, nasceram as formas portuguesas para o nome de Deus: Javé, Iavé ou Jeová. Em sentido estrito é esse o nome de Deus que não pode ser usado em vão. Ao ponto que o judeu moderno chama seu Deus apenas por “O Nome” (Ha Shamaim).
O escrúpulo judaico é tanto que eles não conjugam o verbo ser, a não que se refira a Deus. Isso porque provavelmente o nome de Deus deriva da frase: “Eu Sou”. Assim, para o judeu somente Deus é.
Essa é uma possível legitimação para o uso da palavra deus em outros contextos. O fale com deus, por exemplo, toma o cuidado de usar o substantivo com letra minúscula.
Mas mesmo a palavra deus não pode, legitimamente, ser alvo de polêmica.
Já reparou que a palavra deus se parece muito com a palavra Zeus?
Nossa palavra deriva do nome do principal do Olimpo.
Com a palavra Elohim, em hebraico, acontece o mesmo uso de nosso substantivo deus. Quando o Antigo Testamento se refere ao Deus de Israel com esse substantivo, usa, geralmente, Elohim, que é uma forma plural, quer dizer, Deuses. No singular, muito dificilmente a palavra se refere ao nosso Deus, mas sempre aos falsos deuses como Baal.
Já reparou que a palavra deus se parece muito com a palavra Zeus?
Nossa palavra deriva do nome do principal do Olimpo.
Com a palavra Elohim, em hebraico, acontece o mesmo uso de nosso substantivo deus. Quando o Antigo Testamento se refere ao Deus de Israel com esse substantivo, usa, geralmente, Elohim, que é uma forma plural, quer dizer, Deuses. No singular, muito dificilmente a palavra se refere ao nosso Deus, mas sempre aos falsos deuses como Baal.
Mas essa é uma discussão irrelevante diante do que deve ser tomado a sério. Nós tomamos nossos ritos e verdades muito a sério. Incomodamo-nos muito com o uso de palavras exteriores e não nos preocupamos tanto com nossa prática.
Acho divertidíssima a campanha do fale com deus: cada vez que você se masturba, deus mata um gatinho. Será que como cristãos somos incapazes de conviver com a sátira numa boa?
Isso sem contar com o que considero usar o nome de Deus em vão. Usar o nome de Deus em vão é se utilizar do cristianismo como instrumento para legitimação de fatos, atitudes e ideologias claramente opostas à vontade do Deus que se revela na Bíblia.
Usamos o nome de Deus em vão quando o utilizamos para angariar votos em campanhas eleitorais, como fez Garotinho.
Usamos o nome de Deus em vão quando nos colocamos contrários às transformações profundas e necessárias que nosso mundo necessita, e lutamos por manter quaisquer status quo demoníacos.
Usamos o nome de Deus em vão quando, em nome de Deus ou da Bíblia, defendemos a política imperialista de Israel ou dos EUA.
Se o meu Deus se resumisse a um nome, meu universo iria ser muito pequeno. Usar o nome de Deus é uma questão de postura ideológica e de postura diante de Deus. Tentar usar o próprio Deus, manipular. Ou usar a fé em busca de poder.
Acho divertidíssima a campanha do fale com deus: cada vez que você se masturba, deus mata um gatinho. Será que como cristãos somos incapazes de conviver com a sátira numa boa?
Isso sem contar com o que considero usar o nome de Deus em vão. Usar o nome de Deus em vão é se utilizar do cristianismo como instrumento para legitimação de fatos, atitudes e ideologias claramente opostas à vontade do Deus que se revela na Bíblia.
Usamos o nome de Deus em vão quando o utilizamos para angariar votos em campanhas eleitorais, como fez Garotinho.
Usamos o nome de Deus em vão quando nos colocamos contrários às transformações profundas e necessárias que nosso mundo necessita, e lutamos por manter quaisquer status quo demoníacos.
Usamos o nome de Deus em vão quando, em nome de Deus ou da Bíblia, defendemos a política imperialista de Israel ou dos EUA.
Se o meu Deus se resumisse a um nome, meu universo iria ser muito pequeno. Usar o nome de Deus é uma questão de postura ideológica e de postura diante de Deus. Tentar usar o próprio Deus, manipular. Ou usar a fé em busca de poder.
Por isso, tenha pena dos gatinhos: toda vez que você se masturba, deus mata um gatinho.
Mais uma vez, a crise pessoal deve me impedir de postar algo mais interessante.
Só devo dizer que foi possível fazer a acareação, via telefone. E esclarecer toda a história. A crise agora se deve à pergunta: o que fazer com essa história? Que atitude tomar? Como será daqui para frente?
Só devo dizer que foi possível fazer a acareação, via telefone. E esclarecer toda a história. A crise agora se deve à pergunta: o que fazer com essa história? Que atitude tomar? Como será daqui para frente?
12.2.03
É uma sensação desagradável você ver as coisas darem errado quando era isso o que você menos imaginava. É desagradável você ver piorar uma situação que você julgava superada e resolvida.
Pois é. Concretizando a Lei de Murphy, esse amigo de vocês percebeu que tudo pode dar errado quando tem alguma chance de dar errado.
Eu me vejo agora em uma encruzilhada pior que a da igreja cristã, porque é algo por demais pessoal. E envolve pessoas em que eu confiei. E cada uma contou uma história oposta a da outra. Aliás, três pessoas. Cada uma contando uma história que se excluem mutuamente. E nem dá para fazer uma acariação: duas estão em Fortaleza e uma em Natal.
E sabe o que é pior? Sobra é para mim. Eu é que me dou bem, entendeu. Aparentemente, um ambiente que eu amo de paixão está se fechando para mim por culpa de uma dessas pessoas acima.
É por isso que a Palavra do Antigo Testamento já advertia, Jeremias mais exatamente: “Maldito o homem que confia no homem!” Maldito!
Aí, não tem Revolução que suporte uma crise pessoal. Então, vá lá: por motivo de força superior (incluindo aí uma noite não dormida) o seminarista revolucionário somente pode tratar de cuidar de sua vida implodida (momentaneamente).
Mas ainda dá para citar Richard Shaull
Acredito que em tempos de crise tão profunda como a que vivemos é que um remanescente de cristãos redescobre a essência de sua fé e de sua história. À medida em que morrem para o seu passado, experimentam a ressurreição e, assim, mais uma vez a comunidade de fé surge quando menos se espera. Acredito que surpresas podem estar à nossa frente quando menos se espera. Acredito que surpresas podem estar à nossa espera no curso das próximas décadas.
Pois é. Concretizando a Lei de Murphy, esse amigo de vocês percebeu que tudo pode dar errado quando tem alguma chance de dar errado.
Eu me vejo agora em uma encruzilhada pior que a da igreja cristã, porque é algo por demais pessoal. E envolve pessoas em que eu confiei. E cada uma contou uma história oposta a da outra. Aliás, três pessoas. Cada uma contando uma história que se excluem mutuamente. E nem dá para fazer uma acariação: duas estão em Fortaleza e uma em Natal.
E sabe o que é pior? Sobra é para mim. Eu é que me dou bem, entendeu. Aparentemente, um ambiente que eu amo de paixão está se fechando para mim por culpa de uma dessas pessoas acima.
É por isso que a Palavra do Antigo Testamento já advertia, Jeremias mais exatamente: “Maldito o homem que confia no homem!” Maldito!
Aí, não tem Revolução que suporte uma crise pessoal. Então, vá lá: por motivo de força superior (incluindo aí uma noite não dormida) o seminarista revolucionário somente pode tratar de cuidar de sua vida implodida (momentaneamente).
Mas ainda dá para citar Richard Shaull
Acredito que em tempos de crise tão profunda como a que vivemos é que um remanescente de cristãos redescobre a essência de sua fé e de sua história. À medida em que morrem para o seu passado, experimentam a ressurreição e, assim, mais uma vez a comunidade de fé surge quando menos se espera. Acredito que surpresas podem estar à nossa frente quando menos se espera. Acredito que surpresas podem estar à nossa espera no curso das próximas décadas.
11.2.03
O poder de Deus dificilmente se manifesta em pessoas que não tomam a sério a realidade da sua fé. (...) Crer em Jesus Cristo significa reconhecer a realidade dessa obra redentora e consagrar a nossa vida a ela. Por esta razão, não pode haver cristãos tíbios: ou somos cristãos dinâmicos, ou não somos cristãos.
...
Quanto mais estudo a história dos grandes movimentos da Igreja, mais notável me parece a repetição do mesmo processo no início de tantos deles: E num momento de crise para a Igreja, um indivíduo se oferece a Deus e dedica-se apaixonadamente a resolver a situação. Reúne consigo algumas outras pessoas com a mesma preocupação, também dispostas a se entregarem à mesma obra que consideram tão urgente. Unidos uns com os outros, nessa missão comum, dedicam-se a estudar, orar, planejar e agir em obediência ao chamado do Senhor. Desses pequenos grupos Deus tem feito coisas admiráveis; com eles têm-se iniciado movimentos que têm transformado a Igreja de Cristo.
Esse é Richard Shaull. Será que podemos ter o direito de sonhar que Deus possa estar fazendo algo novo a partir de nossas discussões sobre Revolução?
...
Quanto mais estudo a história dos grandes movimentos da Igreja, mais notável me parece a repetição do mesmo processo no início de tantos deles: E num momento de crise para a Igreja, um indivíduo se oferece a Deus e dedica-se apaixonadamente a resolver a situação. Reúne consigo algumas outras pessoas com a mesma preocupação, também dispostas a se entregarem à mesma obra que consideram tão urgente. Unidos uns com os outros, nessa missão comum, dedicam-se a estudar, orar, planejar e agir em obediência ao chamado do Senhor. Desses pequenos grupos Deus tem feito coisas admiráveis; com eles têm-se iniciado movimentos que têm transformado a Igreja de Cristo.
Esse é Richard Shaull. Será que podemos ter o direito de sonhar que Deus possa estar fazendo algo novo a partir de nossas discussões sobre Revolução?
A Igreja cristã sempre estará diante de uma encruzilhada histórica. Em cada etapa de sua história, a cada momento, dois caminhos estarão postos diante dela. Duas chances. Duas oportunidades. E uma ocasião para o acerto ou o erro histórico.
Manifestando-se de maneiras diferentes, as duas hipóteses serão sempre as mesmas: assumir a tarefa de manter o status quo de um lado; ou se por em função crítica (oposta) do outro.
Desde a Igreja primitiva vemos essa encruzilhada manifestada. Os apóstolos tiveram de optar entre seguir o caminho judaizante (conservador) ou o caminho rumo ao mundo helenista (revolucionário). Se o evangelho chegou aqui foi porque, apesar das importantes resistências, a opção foi revolucionária.
Atualmente a Igreja pode assumir o papel social de legitimadora do sistema, o qual lhe foi designado pela ideologia neoliberal. Assim, se enquadrará em toda a crítica marxista, althusseriana, e não passará de um Aparelho Ideológico do Estado.
A outra opção é assumir o papel profético, crítico, de questionamento e oposição à toda construção ideológica anti-cristã que se apresente no ambiente social. A bola da vez: o Mamonismo neoliberal.
É uma encruzilhada histórica. E depende de nós a escolha da alternativa.
A Igreja dará apoio às forças políticas determinadas a mudar a presente situação?
Manifestando-se de maneiras diferentes, as duas hipóteses serão sempre as mesmas: assumir a tarefa de manter o status quo de um lado; ou se por em função crítica (oposta) do outro.
Desde a Igreja primitiva vemos essa encruzilhada manifestada. Os apóstolos tiveram de optar entre seguir o caminho judaizante (conservador) ou o caminho rumo ao mundo helenista (revolucionário). Se o evangelho chegou aqui foi porque, apesar das importantes resistências, a opção foi revolucionária.
Atualmente a Igreja pode assumir o papel social de legitimadora do sistema, o qual lhe foi designado pela ideologia neoliberal. Assim, se enquadrará em toda a crítica marxista, althusseriana, e não passará de um Aparelho Ideológico do Estado.
A outra opção é assumir o papel profético, crítico, de questionamento e oposição à toda construção ideológica anti-cristã que se apresente no ambiente social. A bola da vez: o Mamonismo neoliberal.
É uma encruzilhada histórica. E depende de nós a escolha da alternativa.
A Igreja dará apoio às forças políticas determinadas a mudar a presente situação?
... os pobres têm a televisão com os seus jogos, os seus shows, os seus concursos e o ambiente de otimismo e felicidade. Eles têm o espetáculo do esporte. A educação popular fica cada vez pior. Em compensação, os pobres têm uma religião de muita emoção, muito consolo, muito afeto, uma ilusão de paraíso na terra. Tudo isso ajuda a suportar todos os males que derivam, segundo se diz, da famosa crise mundial. Ninguém se responsabiliza pela miséria. É a crise mundial. Com certeza, sairemos dela graças às promessas dos governantes. Estes já podem dar somente promessas. Não têm mais nada para dar aos pobres.
José Comblin
Neoliberalismo – Ideologia dominante na virada do século.
José Comblin
Neoliberalismo – Ideologia dominante na virada do século.
10.2.03
Mais revolução? Visite o Insistente.
A sacerdotisa do absurdo anda meio antropafágica, tropicalista até. Mudou-se Da obra alheia para um Cannibal Café. Lá você pode encontrar pérolas assim:
Isso acontece porque numa realidade capitalista, as pessoas estão ideologicamente condicionadas a condenar o que chamam de ócio. Se buscarmos uma razão mais profunda, descobriremos que, numa era neoliberal, não há lugar para preguiçosos. Os cidadãos de valor são aqueles que trabalham. Os funcionários destacados são sempre aqueles que dedicam boa parte do seu tempo não-remunerado às atividades da empresa. Eu sei disso. Eu vivi isso.
Quer experimentar mais? Vá lá.
Isso acontece porque numa realidade capitalista, as pessoas estão ideologicamente condicionadas a condenar o que chamam de ócio. Se buscarmos uma razão mais profunda, descobriremos que, numa era neoliberal, não há lugar para preguiçosos. Os cidadãos de valor são aqueles que trabalham. Os funcionários destacados são sempre aqueles que dedicam boa parte do seu tempo não-remunerado às atividades da empresa. Eu sei disso. Eu vivi isso.
Quer experimentar mais? Vá lá.
Os agentes contemporâneos da Revolução devem ser o próprio povo. Aliás, Revolução real se efetiva por ação do povo. Somente quando as estruturas sociais são radicalmente convertidas temos uma Revolução. E somente o povo pode realizar isso. Sem a participação popular e sem a transformação de estruturas, não há Revolução. O máximo que acontecem são golpes. E o nosso Deus é das Revoluções e não dos golpes.
Aí eu cito Comblin:
Quem poderia lutar pela transformação das estruturas sociais, isto é, pela reversão total do atual modelo neoliberal e a criação de outro modelo de sociedade? Somente os próprios cidadão, organizados e orientados por uma ação política eficaz.
...
a sociedade civil constitui uma força de contrapeso e eventualmente uma força de revolução.
Aí eu cito Comblin:
Quem poderia lutar pela transformação das estruturas sociais, isto é, pela reversão total do atual modelo neoliberal e a criação de outro modelo de sociedade? Somente os próprios cidadão, organizados e orientados por uma ação política eficaz.
...
a sociedade civil constitui uma força de contrapeso e eventualmente uma força de revolução.
É engraçado o modo como Comblin cita Fernando Henrique:
Ora, como dizia o célebre sociólogo latino-americano: “Todo o mundo sabe que a utopia de nosso século é possível”.
...
Como diz o eminente sociólogo brasileiro: “Já está na hora de dedicar novos esforços à medição dos logros do desenvolvimento, com a ajuda de indicadores centrados na qualidade de vida e ba igualdade na distribuição de bens e serviços”.
...
O eminente sociólogo brasileiro expõe da seguinte maneira o desafio.
“O conceito e a meta estratégica que resume esta forma de desenvolvimento é o de autonomia. Esta é uma categoria política que rejeita a idéia de que a superioridade tecnológica dos grandes poderes é inevitável: a autonomia implica a não aceitação do monopólio das tecnologias sofisticadas, que é a maneira com a qual as economias centrais e os seus setores mais dinâmicos – as corporações transnacionais – tratam de garantir o seu domínio sobre as economias dependentes do Terceiro Mundo. Até há pouco, a indiscutível primazia da tecnologia não deixava aos países do Terceiro Mundo outra alternativa a não ser a de copiar o modelo da civilização industrial-predatória para assegurar a sua integridade nacional (ou para manter a ilusão) e para levar a cabo um processo de crescimento industrial que tornara possível – talvez e no futuro – o aumento do nível de vida das massas indigentes ... Na atualidade os povos do Terceiro Mundo buscam outras alternativas, e na consciência dos seus mais destacados representantes científico-técnicos se chegou à convicção de que: O modelo tecnológico exposto pelo paises industrializados não pode ser aplicado sem provocar sérios transtornos, a não ser que esteja acompanhado de significativas redefinições do controle político e das suas conseqüências sociais. As alternativas de solução são viáveis, mas exigem imaginação, pesquisa e reorientação dos investimentos”.
Não sabemos se o sociólogo ainda pensa da mesma maneira. Como presidente da República, não parece que esteja agindo de acordo com os pensamentos que expressava então com tanta clareza.
O texto de Comblin é de 1999. Já o de FHC é de 1978. Faz parte da coleção esqueçam o que escrevi.
Ora, como dizia o célebre sociólogo latino-americano: “Todo o mundo sabe que a utopia de nosso século é possível”.
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Como diz o eminente sociólogo brasileiro: “Já está na hora de dedicar novos esforços à medição dos logros do desenvolvimento, com a ajuda de indicadores centrados na qualidade de vida e ba igualdade na distribuição de bens e serviços”.
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O eminente sociólogo brasileiro expõe da seguinte maneira o desafio.
“O conceito e a meta estratégica que resume esta forma de desenvolvimento é o de autonomia. Esta é uma categoria política que rejeita a idéia de que a superioridade tecnológica dos grandes poderes é inevitável: a autonomia implica a não aceitação do monopólio das tecnologias sofisticadas, que é a maneira com a qual as economias centrais e os seus setores mais dinâmicos – as corporações transnacionais – tratam de garantir o seu domínio sobre as economias dependentes do Terceiro Mundo. Até há pouco, a indiscutível primazia da tecnologia não deixava aos países do Terceiro Mundo outra alternativa a não ser a de copiar o modelo da civilização industrial-predatória para assegurar a sua integridade nacional (ou para manter a ilusão) e para levar a cabo um processo de crescimento industrial que tornara possível – talvez e no futuro – o aumento do nível de vida das massas indigentes ... Na atualidade os povos do Terceiro Mundo buscam outras alternativas, e na consciência dos seus mais destacados representantes científico-técnicos se chegou à convicção de que: O modelo tecnológico exposto pelo paises industrializados não pode ser aplicado sem provocar sérios transtornos, a não ser que esteja acompanhado de significativas redefinições do controle político e das suas conseqüências sociais. As alternativas de solução são viáveis, mas exigem imaginação, pesquisa e reorientação dos investimentos”.
Não sabemos se o sociólogo ainda pensa da mesma maneira. Como presidente da República, não parece que esteja agindo de acordo com os pensamentos que expressava então com tanta clareza.
O texto de Comblin é de 1999. Já o de FHC é de 1978. Faz parte da coleção esqueçam o que escrevi.
9.2.03
Falando sobre a ideologia do neoliberalismo e da pós-modernidade, José Comblin considera que a geração atual tem se tornado cada vez mais despolitizada.
Os jovens votam pouco e sem paixão, não militam em partidos políticos.
A vida social fica esvaziada. Era o caminhar da história, a construção do mundo, o desenvolvimento e assim por diante. Agora chegamos a uma vida social de puro jogo. O ato social fundamental é o futebol. Não o futebol praticado efetivamente, mas o futebol como competição entre dois símbolos. O acontecimento mundial fundamental e a relação fundamental entre os povos é o campeonato mundial de futebol. Cada nação está identificada com o seu time de futebol. O ato do cidadão é torcer pelo time do seu país. Dentro de cada nação, cada um se identifica com um clube. Esta é a identificação fundamental. Uma pessoa é “corinthiana” ou “flamengo” e basta. Assim disse tudo o que é. O jogo fornece a cada um a sua identidade.
Na cultura atual, o cidadão é o torcedor. A vida social é jogo. Não há nada sério na vida. A própria política vira jogo. O eleitor é um torcedor. As eleições são concursos.
Os jovens votam pouco e sem paixão, não militam em partidos políticos.
A vida social fica esvaziada. Era o caminhar da história, a construção do mundo, o desenvolvimento e assim por diante. Agora chegamos a uma vida social de puro jogo. O ato social fundamental é o futebol. Não o futebol praticado efetivamente, mas o futebol como competição entre dois símbolos. O acontecimento mundial fundamental e a relação fundamental entre os povos é o campeonato mundial de futebol. Cada nação está identificada com o seu time de futebol. O ato do cidadão é torcer pelo time do seu país. Dentro de cada nação, cada um se identifica com um clube. Esta é a identificação fundamental. Uma pessoa é “corinthiana” ou “flamengo” e basta. Assim disse tudo o que é. O jogo fornece a cada um a sua identidade.
Na cultura atual, o cidadão é o torcedor. A vida social é jogo. Não há nada sério na vida. A própria política vira jogo. O eleitor é um torcedor. As eleições são concursos.
E ele também expõe a dependência mundial do capital financeiro especulativo e enorme concentração de recursos proveniente dessa movimentação volátil de dinheiro (simbólico).
Graças à desregulamentação dos movimentos financeiros adotada pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos, no final dos anos 80, e seguida ou imposta nos outros países no início dessa década, diariamente o intercâmbio financeiro no mercado internacional alcança 1.500 bilhões de dólares (em 1970, 18 bilhões). Somente 3% corresponde ao intercâmbio de bens ou serviços reais. O resto está destinado à especulação.
Enquanto isso, a especulação acumula riquezas imensas em mãos de poucos. Nos Estados Unidos, havia 13 bilionários (1 bilhão de dólares) em 1982. em 1997, há 149. o clube mundial dos bilionários conta atualmente com 450 membros (entre eles quatro brasileiros). A fortuna destas 450 pessoas é superior ao produto anual bruto das nações pobres reunindo 57% da população: 450 pessoas têm mais do que três bilhões de seres humanos ... Será fruto do seu trabalho? Em boa parte é fruto da especulação financeira.
Graças à desregulamentação dos movimentos financeiros adotada pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos, no final dos anos 80, e seguida ou imposta nos outros países no início dessa década, diariamente o intercâmbio financeiro no mercado internacional alcança 1.500 bilhões de dólares (em 1970, 18 bilhões). Somente 3% corresponde ao intercâmbio de bens ou serviços reais. O resto está destinado à especulação.
Enquanto isso, a especulação acumula riquezas imensas em mãos de poucos. Nos Estados Unidos, havia 13 bilionários (1 bilhão de dólares) em 1982. em 1997, há 149. o clube mundial dos bilionários conta atualmente com 450 membros (entre eles quatro brasileiros). A fortuna destas 450 pessoas é superior ao produto anual bruto das nações pobres reunindo 57% da população: 450 pessoas têm mais do que três bilhões de seres humanos ... Será fruto do seu trabalho? Em boa parte é fruto da especulação financeira.