14.2.03

Se não tivesse forte esperança utópica, ontem minha fé revolucionária teria sofrido um revés.
O diálogo abaixo ocorreu em uma repartição pública de Natal. Três pessoas estavam envolvidas, cujas identidades vou preservar, utilizando pseudônimos: Maria; sua chefe imediata, Conceição; e a jovem secretária de um outro chefe, Cláudia.
Antes de contar o fato, devo esclarecer sobre alguns personagens citados na história. Emanuel Bezerra foi um líder estudantil morto nos porões da ditadura militar. Djalma Maranhão era o prefeito de Natal em 1964. Na sua administração, Paulo Freire começou a pôr em prática a pedagogia do oprimido no projeto “De pé no chão também se aprende a ler”. Foi cassado e morreu no exílio.
Vamos ao (incrível) diálogo. Ele gira em torno de um retrato de Emanuel Bezerra.
Maria: Ah, deixa eu olhar. Quero ver se eu não conhecia ele...
Cláudia: Quem é ele?
Conceição: Foi um estudante que morreu no tempo da Revolução.
Cláudia: Revolução? Que Revolução?
Maria: Revolução não: golpe militar. O golpe de 64 (disse, voltando-se para a jovem).
Cláudia: Ah, eu nem era nascida ...
Maria: Mas você nunca viu nada sobre o golpe? Quando derrubaram Jango, em 31 de março? Todo ano se comemorava essa data: você não estudou isso, não?
Cláudia: Não...
Maria: Derrubaram Jango, prenderam Djalma Maranhão... Você sabe quem era Djalma Maranhão?
Cláudia: Tem uma escola com o nome dele ...
Maria: Que curso você faz?
Cláudia: Economia.
Maria: Você deve ter estudado em história ... Você não estudou história no colégio?
Cláudia: Não me lembro de ter estudado isso não.

Nesse momento, Conceição, envergonhada, deixa a sala.

Maria: VOCÊ DEVE ESTAR BRINCANDO COMIGO!

E para surpresa e tristeza de Maria, a resposta foi um sonoro: “Não!”

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial