14.2.03

Isso me faz lembrar uma história familiar. Minha tia era secretária de Moacir de Góes, secretário municipal de educação em 1964, à época do golpe.
Como deve ter ficado claro, a prefeitura de Natal na época estava ocupada por políticos inovadores e esquerdistas. Quando veio o golpe, todos começaram a ser detidos pelo exército.
Minha tia, esperta, destruiu diversos documentos da secretaria que tinha em casa. Colocou no lixo, à porta da humilde casa de vila da minha família.
Naquela mesma noite, um jipe do EB descarregou um grupo de milicos naquela casinha. Eles foram recebidos pela minha avó:
- Pois não? O que vocês querem?
- A senhora é o que dessa casa?
- Eu sou a dona.
- Queremos revistar a sua casa.
E puseram a casa de pernas para o ar em busca de documentos que estavam logo ali, na calçada, no lixo. Leram os livros escolares de minha mãe e minha outra tia, rasgaram sacos de carvão.
Minha avó havia posto um saco de bananas pendurado na parede na sala, “para amadurecer logo”, como ela disse. Um sargento pegou no saco e perguntou o que havia ali. E minha avó, ousada:
- Banana. O senhor quer uma?
Pois é. Minha avó deu uma banana para os milicos poucos dias após o golpe. E viveu para contar a história.

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