Minha primeira opinião
5.3.04
Quem está no ambiente blogueiro há pelo menos um ano deve ter ouvido falar dele. Eu li seu blog várias vezes para me informar sobre a Guerra de Bush a partir do ponto de vista mais privilegiado: Bagdá. O personagem é Salam Pax. O blog é o Where is Raed?. Pois bem. Hoje me deparei com o livro O blog de Bagdá, a sua versão impressa, lançada pela Companhia das Letras. O livro custa 35 reais e você pode comprar aqui.
A Igreja Presbiteriana tem um projeto social em Fortaleza na favela do Titanzinho. Certa feita, no Seminário, fizemos, como atividade, análise de projetos de igrejas. O Titanzinho foi um dos estudados. O grupo que o visitou filmou tudo por lá. O projeto é basicamente uma escola e uma creche que atendem cerca de 500 crianças em um universo de 15 mil. E a marca da prefeitura da cidade está em todo canto.
Na hora da avaliação, o pastor Carlos Queiroz, nosso professor, que trabalha a anos com a ONG World Vision/Visão Mundial teceu críticas que podem enriquecer um debate sobre a ação do terceiro setor. Em primeiro lugar ele destacou que o número de crianças atendidas pelo projeto é mínimo em relação ao universo da comunidade. Lembrou que o projeto está sendo explorado, como marketing, pela prefeitura, apesar de ser da igreja. E, o que considero mais importante, ele assinalou que uma ação muito mais eficiente e coerente da igreja ali seria mover a sociedade para pressionar o poder público municipal a garantir um direito constitucional da comunidade, que é a educação garantida a toda população. O programa, apesar da cara de ação social, não passa de um assistencialismo disfarçado que vem sendo faturado na conta do prefeito.
O papel do voluntariado é participar ativamente da vida pública da sociedade. Em uma comunidade como o Titanzinho isso significa pressionar o poder público, mesmo que seja com processos e protestos, para que ele execute suas obrigações. Nunca será substituir o Estado e assim se fazer massa de manobra e inocente útil. Desculpas para a omissão e a falta de responsabilidade estatal. O voluntariado deve se fazer o extra e lutar para que o Estado faça o essencial.
Na hora da avaliação, o pastor Carlos Queiroz, nosso professor, que trabalha a anos com a ONG World Vision/Visão Mundial teceu críticas que podem enriquecer um debate sobre a ação do terceiro setor. Em primeiro lugar ele destacou que o número de crianças atendidas pelo projeto é mínimo em relação ao universo da comunidade. Lembrou que o projeto está sendo explorado, como marketing, pela prefeitura, apesar de ser da igreja. E, o que considero mais importante, ele assinalou que uma ação muito mais eficiente e coerente da igreja ali seria mover a sociedade para pressionar o poder público municipal a garantir um direito constitucional da comunidade, que é a educação garantida a toda população. O programa, apesar da cara de ação social, não passa de um assistencialismo disfarçado que vem sendo faturado na conta do prefeito.
O papel do voluntariado é participar ativamente da vida pública da sociedade. Em uma comunidade como o Titanzinho isso significa pressionar o poder público, mesmo que seja com processos e protestos, para que ele execute suas obrigações. Nunca será substituir o Estado e assim se fazer massa de manobra e inocente útil. Desculpas para a omissão e a falta de responsabilidade estatal. O voluntariado deve se fazer o extra e lutar para que o Estado faça o essencial.
É absolutamente angustiante tentar ajudar pessoas que não se dispoem a serem ajudadas. Especialmente se há amor envolvido. Por isso, cada vez mais acredito na dificuldade que é viver em família. Na dor que é.
Olga Tavares me falou que em O sorriso de Mona Lisa, filme com a mulher de 20 milhões de dólares, Julia Roberts, microfones intrusos também podem ser vistos em cena.
Adriano suscitou uma discussão interessante em seu blog sobre a questão do voluntariado, em particular o projeto Amigos da Escola, da Fundação Roberto Marinho. Diante das opiniões dele e de alguns comentadores, eu me expressei assim:
A questão é muito clara. O voluntariado no primeiro mundo atende a interesses diferentes do voluntariado em países como o Brasil. No Brasil os voluntários servem de inocente útil para mascarar a falta de compromisso e de ação dos governos, do poder público. O raciocínio é simples: para que gastar com um investimento em salário e infra-estrutura se eu posso ter um voluntário capacitado que pode me dar o serviço a custo zero. Aí, a sociedade civil executa tarefa obrigatória do Estado, que mantém fora do mercado profissionais que poderiam ser aproveitados.
No primeiro mundo, onde as condições de emprego, distribuição de renda e equilíbrio social são mais satisfatórios, o voluntariado significa tão somente o envolvimento da sociedade civil na efetivação de políticas públicas. Os voluntários tornam mais real o sentido do público, porque o Estado não se omite de suas obrigações. O voluntariado deve cuidar do, digamos, extra e não do essencial. O essencial, aqui ou lá, precisa ser tarefa do poder público. O voluntariado não pode ser desculpa (ou legitimação) para omissão.
O que você acha?
A questão é muito clara. O voluntariado no primeiro mundo atende a interesses diferentes do voluntariado em países como o Brasil. No Brasil os voluntários servem de inocente útil para mascarar a falta de compromisso e de ação dos governos, do poder público. O raciocínio é simples: para que gastar com um investimento em salário e infra-estrutura se eu posso ter um voluntário capacitado que pode me dar o serviço a custo zero. Aí, a sociedade civil executa tarefa obrigatória do Estado, que mantém fora do mercado profissionais que poderiam ser aproveitados.
No primeiro mundo, onde as condições de emprego, distribuição de renda e equilíbrio social são mais satisfatórios, o voluntariado significa tão somente o envolvimento da sociedade civil na efetivação de políticas públicas. Os voluntários tornam mais real o sentido do público, porque o Estado não se omite de suas obrigações. O voluntariado deve cuidar do, digamos, extra e não do essencial. O essencial, aqui ou lá, precisa ser tarefa do poder público. O voluntariado não pode ser desculpa (ou legitimação) para omissão.
O que você acha?
Continuem pedindo a Deus pelo garoto Raphael Dourado Calçada, filho do pastor André. Seu estado ainda é muito grave. Após ter sido retirado do coma induzido e desentubado, ontem os médicos precisaram sedá-lo e colocar os tubos novamente devido ao nível elevado de secreção pulmonar. Raphael, aos quinze anos, sofreu onze paradas cardíacas na quinta-feira passada e está internado em Goiânia.
Fui com Matheus assistir Escola do Rock. É uma comédia razoável, apropriada para uma matinê descompromissada. Quer dizer, seria se a partir de determinado momento do filme um erro graço não passasse a nos incomodar, os espectadores: microfones e refletores passam a invadir indevidamente a tela. A princípio, achei que era confusão minha. Depois o negócio começa a irritar. Como um filme de Hollywood, em 2004, se permite a isso? Se você ainda não viu, preste atenção nos captadores de som ambiente e nos simuladores de iluminação natural. E o pior foi que o pastor Kleber contou-me que o mesmo ocorre em Doze é demais. Nunca vi isso nos filmes nacionais recentes.
4.3.04
Ontem à noite, ao invadir morro em Copacabana, no Rio de Janeiro, a polícia militar matou três pessoas. E teve início um confronto de quatro horas entre moradores da favela e policiais nas ruas do bairro famoso da capital fluminense. As imagens me fizeram lembrar uma música:
Selvagem
(Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna)
A polícia apresenta suas armas
Escudos transparentes, cacetetes
Capacetes reluzentes
E a determinação de manter
Em seu lugar
O governo apresenta suas armas
Discurso reticente, novidade inconsistente
E a liberdade cai por terra
Aos pés de um filme de Godard
A cidade apresenta suas armas
Meninos nos sinais, mendigos pelos cantos
E o espanto está nos olhos de quem vê
O grande monstro a se criar
Os negros apresentam suas armas
As costas marcadas, as mãos calejadas
E a esperteza que só tem quem tá
Cansado de apanhar
3.3.04
Lembrem desse nome: Almeida Lima. O sujeito que protagonizou a maior e mais irresponsável palhaçada política dos últimos anos no Brasil. Completamente risível a atitude dele nos três últimos dias, culminando com o show para os holofotes na tarde de hoje. A reação mais engraçada pertenceu a ACM, dizendo que se fosse do PT faria uma estátua em sua homenagem pela defesa que promoveu do ministro José Dirceu. Os meus inúmeros amigos sergipanos não merecem um senador dessa estirpe. Será que ele mirou nas eleições municipais em Aracaju? Acho que o tiro saiu pela culatra. Lembrem: Almeida Lima. Partido: PDT. Estado: Sergipe. Só faltava ser crente.
1.3.04
Aguardei a premiação de melhor ator ansiosamente porque Sean Pean era favorito. Adorei o filme. Mas também gostaria de ouvir o seu discurso de agradecimento. Na hora H, fiquei meio decepcionado, já que a tradução simultânea do SBT não trouxe nenhum conteúdo político na sua fala. Aí, hoje, descobri que na frase que foi traduzida como O que nós atores sabemos é atuar, faltou o trecho: além de que no Iraque não havia armas de destruição em massa. Assim, tardiamente, pelo filme, pela interpretação e pela visão política, aplaudo o ex-marido de Madonna de pé.
Piadas inteligentes de Billy Cristal. Falando sobre a primeira vez que apresentou a cerimônia, há treze anos:
As coisas eram diferentes naquela época. Sabe como? O presidente era Bush, a economia estava em baixa e tínhamos acabado de sair de uma guerra com o Iraque.
As coisas eram diferentes naquela época. Sabe como? O presidente era Bush, a economia estava em baixa e tínhamos acabado de sair de uma guerra com o Iraque.
Minha frustração ontem na entrega do Oscar não se deveu propriamente às derrotas de Cidade de Deus. Não esperava mesmo que um filme brasileiro pudesse concorrer seriamente na premiação da metrópole. Minha frustração se refere à Mystic River (Sobre meninos e lobos) que considero muito mais filme que O retorno do rei. Aliás, a terceira parte da trilogia realmente foi a melhor.