9.1.04

Enfim, o que há de ser dito? Não falo sobre o post abaixo, mas do que a minha vida é hoje. No meu momento, sinto-me como que amordaçado pela própria vida quando nem o que penso nem o que posso dizer se revestem de alguma relevância. Não são palavras belas, não são pensamentos que valham. Falta algo de poesia. Falta alguma nota de amor, de vida, de alegria, de comunhão.
Não, não me sinto mal. Nem me sinto só. Talvez um pouco confuso. Frustrado também pela sensação de que sou incapaz de me apaixonar. Convivo com mulheres fabulosas. Leio coisas lindas que têm sido ditas. Sinto o amor simplesmente tomar conta de tudo em volta. Ouço bater à minha porta. Mas ele não entra. Não sei se porque não consigo colocá-lo para dentro. Não sei se porque nunca fui um bom anfitrião. Não sei se porque os móveis de minha casa o desagradam. Ele não tem entrado.
E por mais equilibrado que eu seja. Por mais feliz. Por mais certeza que tenha de que a vida tem de ser vivida em toda sua essência e toda sua plenitude. Por mais que veja o amor em meus olhos e o veja através deles. Ainda que tudo seja verdade frustra-me, não o fato de estar só. Não é isso. Frustra-me achar-me incapaz de sentir aquele frio na barriga, aquela sensação de que se sonha acordado. Tenho medo disso porque temo que as cicatrizes de tudo o que vivi tenham me deixado insensível para a beleza. Tenham me feito um morto-vivo, no que diga respeito ao romance.
Tanta coisa bonita tem sido dita sobre o amor aqui, aqui ou aqui, por exemplo. E o que eu, então, posso falar?

Vejam só o que eu recebi:

Recebi estarrecido o seu email. Meu irmão, que arrogância, que falta de
sensibilidade de sua parte. Jamais, em tempo algum, eu momento algum eu quis
fazer do JU palanque eleitoral de minha candidatura. Você está sendo mal
educado, grosso, estúpido se dirigindo a mim desta maneira. O que enviei
para o Jornal União foi uma matéria acertada entre eu e o (penso que ainda
seja) proprietário do jornal, Egídio Macena. Conversamos durante um almoço e
combinamos que eu enviaria a matéria e ele, juntamente com o Conselho
Editorial, analisaria a matéria para ver se seria possível publicar.
Realmente, Daniel, você me ofendeu, porque antes de você se dirigir a mim
nestes termos você deveria ter se dirigido a Egídio Macena.
Aliás, com 52 anos de idade e mais de 30 anos como jornalista, querido
Daniel, jamais tentei manipular nenhum veículo de comunicação no sentido de
fazê-lo "palanque eleitoral" de minha candidatura. E, em se tratando de
Jornal União, aí é que não agiria dessa forma. De jeito nenhum. Lamento que
o fruto do almoço que tive com Egídio tenha descambado para este texto
fétido que você me enviou.

Forte abraço - Públio José.


Isso porque ele me enviou, para publicação, uma entrevista em nome do Jornal União em que ele, como candidato a prefeito de Natal, "defende" seus pontos de vista.

Parem as prensas: o melhor filme da temporada não é O retorno do rei (apesar de ser um filmaço), nem o romântico Simplesmente amor (apesar de ser a melhor comédia romântica que já vi). Nenhuma chance para Maria..., Xuxa abracadabra, ou qualquer outro.
O melhor filme da temporada é Sobre meninos e lobos (Mystic River). Filme daqueles para ficar pensando dias e dias em todo o impacto e em tudo o que significa. Para quem duvidar que Clint Estwoord é um grande cineasta, confira nas telas essa história. Profundamente impactante.

8.1.04

Há quem afirme que a explosão de conteúdos através da Internet seja causa de embrutecimento e limite o desenvolvimento humano. O excesso de informações envenena, segundo tais pensadores. A proliferação de blogs, instrumento reversão de sentidos da Internnet, amplia o tal envenenamento ao trazer o aumento dos conteúdos disponíveis on line.
Gianni Vattimo acredita que a sociedade midiática tem se firmado de maneira complexa, se não caótica, em vez de mais esclarecida, educada e auto-consciente. Mas para ele somente há esperanças de emancipação para o ser humano nesse caos.
Pierre Lévy defende que a reapropriação social dos fenômenos de comunicação é requisito para se instaurar a tecnodemocracia. Esse, então, é um outro aspecto do que vinha dizendo. E representa uma outra importância dos blogs como ferramentas para consecução desse grau de tecno democracia a partir da livre produção, acesso e distribuição de sentidos que possibilita.
[O ciberespaço] faz uma verdadeira revolução, já que permite - ou permitirá em breve - a qualquer pessoa dispensar a figura do editor, do produtor, do difusor, dos intermediários de forma geral para disseminar seus textos, sua música, seu mundo virtual ou qualquer outro produto de seu espírito. (Pierre Lévy, Cibercultura)

5.1.04

Colaboro agora neste blog português.

Parece-me que o maior problema de relacionamento na minha igreja se deve à incapacidade que temos de nos desarmar. Explico. Mesmo quando procuramos as pazes com as pessoas a nossa volta o normal é não abrirmos mão de nossas posíções, não revermos os nossos conceitos, não admitirmos que estamos errados.
Fazemos as pazes, voltamos a nos falar, mas no íntimo continuamos armados. Não abrimos mão de nossas certezas por nada. Empunhamos as nossas espadas no rosto das demais pessoas. É como se disséssemos: Perdoe-me, amigo. Voltemos a nos falar. Mas eu sou o dono da verdade. Eu estou mais que certo nessa situação. Encenamos uma farsa. E gostamos disso, preferindo à verdade.
Nós somos incapazes de nos entregarmos ao outro e vivemos em nossas fortalezas muradas, protegidos do contato. Nesse caso a crítica que desenvolvemos é sátira mortífera que condena a tudo e a todos. Que julga sem justiça e sem misericórdia. Que só admite como padrão de verdade a minha verdade.
Se há um sapo enterrado que atrasa o desenvolvimento de nossa comunidade é isso. Nós somos incapazes de nos desarmarmos, de nos esvaziarmos e de buscarmos uma reconciliação ao nível mais profundo com as pessoas a nossa volta. Testemunhamos falso amor, egoísmo e superficialidade. Protegidos por armas difíceis de serem depostas. Que nos matam, matam nosso sonho, matam nossos relacionamentos. Preferimos viver ficções a construir vidas profundas, reais e produtivas, pautadas no amor e reconciliação em Jesus.

Já tive oportunidade aqui de escrever sobre as semelhanças que encontro entre o Rock e aquilo que penso ser o chamado da Igreja. Acho que tudo se resume na frase abaixo dita ontem pelo meu pastor. A convergência entre o rock e a igreja deve se situar no âmbito da crítica. Ambos precisam ter espírito crítico. Precisam ter visão de mundo que procure desfazer as camadas de farsa ideológica que se interpõem entre nós e a realidade. Ambos precisam buscar ver a realidade de maneira mais translúcida.
A Igreja e o rock têm um crítico ministério profético em comum: denunciar as mazelas, as corrupções, as distorções, as ideologias de morte que nos cercam e nos submetem no mundo. Se eles não carregam em si este anúncio denunciador (ainda que a música também tente se libertar do aspecto espiritual) falham com a essência do que são. Mesmo quando a música denuncia o cristianismo ela converge para o bem dele por ajudá-lo na tarefa de se auto-criticar e corrigir.
Não nego as distinções e mesmo as diferenças de vocação, especialmente quando vemos que o chamado da Igreja é muito mais positivo no que se refere a anunciar a vida, morte e ressurreição de Jesus por puro amor. Mas diante das convergências e dos pontos comuns de construção de sentidos e de vida, penso que Igreja e rock são irmãos gêmeos na caminhada pela construção de um mundo melhor e pela transformação deste mundo mal.

A Igreja precisa ter espírito crítico.
Rev. Kleber Nobre