5.12.03

Ontem descobri mais uma circunstância relacionada ao meu novo momento de relacionamentos. Percebi que estava sendo incoveniente com uma amiga porque tentei ir mais rápido do que ela podia suportar. Quero dizer que vi que quando me entrego por inteiro às minhas relações isso pode ser visto como inadequação por alguém que não anda no mesmo ritmo. Aí, eu sou incoveniente.
Existe muita gente que eu poderia comparar a caixinhas de música. Quando vemos por fora já somos atraídos pela sua beleza. Esse relacionamento já nos agrada. Mas percebemos que há mais música e beleza trancafiados dentro da caixa. Eu deveria ter esperado para que essa caixinha de música, por si, se abrisse para me encantar com a melodia que, sei, está ali presente. Mas eu fui inadequado e inconveniente. Não percebi que deveria ter respeitado o ritmo diferente que cada um tem de se envolver e relacionar.
Queila é uma amiga especial, mas fui incapaz de notar o que ela não estava pronta para viver na amizade comigo. Ela não fez nada de especial para entrar para esse rol destacado entre meus amigos. Mas, ao lado de Hermany e Rebecca, ela foi ponto de força pessoal no momento mais complicado de minha vida neste ano. Pressionado por todos lados, os três me traziam tranqüilidade com sua amizade e apoio. Especiais, passaram a representar a especialidade de minha vida. Valiam meu investimento. Ajudaram a abrir as minhas portas. Ajudaram a me tornar mais gente. Por isso, era nos seus rostos que eu gostaria de ver explodir a fantástica realidade de amor e felicidade que eu vi nascer em mim.
Mas eu não vi que esse ritmo não era o ritmo de Queila. E aí avancei sinais demais. Fui incoveniente e inadequado.
Descobri a incoveniência e a inadequação como riscos para quem apostar (como eu) em relacionamentos firmados em amor verdadeiro.

Li hoje na revista Eclésia do último mês a notícia da morte de Kenneth Hagin aos 86 anos de idade. E pensei que deve ser verdade o que dizem: para ser bom, basta morrer.
Kenneth Hagin foi o criador da funesta Teologia da Prosperidade. A mesma que colocou na cabeça de muitos evangélicos que em vez de servos (isto é, escravos) de Deus, eles agora podiam ser senhores, decretando, desafiando, colocando Deus contra a parede. Hagin afirmava o poder da fé da fé. A confissão positiva, a fé pela fé, gerou grandes distorções na fauna evangélica no Brasil e no mundo. Crentes que se acham superpoderosos. Que acreditam que o filho de Deus deve ser rico, que pobreza, doença e problemas são sinais da maldição de Deus ou da presença de Satanás na vida do cristão.
Mas o problema dessa teologia mais visível na sociedade se mostra na crítica generalizada a igrejas como a Universal. É a exploração financeira da boa fé alheia. É a alienação e o aprisionamento intelectual e espiritual que essa teologia e essas igrejas provocam. A Teologia da Prosperidade é altamente rentável para as igrejas que a aplicam, mas amplamente destrutiva para os fiéis que se deixam seduzir por ela.
Para eles, tudo é questão de fé. Se o crente passa por aperto financeiro, se Deus não o cura de enfermidades, se as coisas não vão bem, o problema é a falta de fé. Por isso, você deve, como senhor, decretar aquilo que deseja que Deus (seu servo, assim) realize.
Basta morrer para ser bom. A matéria da Época foi altamente laudatória à obra de Hagin. Fortes indícios de ter sido encomendada a dinheiro pelo Ministério Verbo da Vida. A revista já foi bem mais crítica em relação a essas bobagens e posturas. É uma pena, mas o amoroso Deus das Revoluções está vendo.

4.12.03

Esse post nasceu em uma conversa com uma amiga.

A coisa que eu mais gosto de fazer na vida é estudar teologia. Fui para o seminário atendendo a esse chamado. E lá construí minha vida. Meus amigos de verdade estavam lá. Uma amiga perguntava sempre a mim quem era minha família, qual era o meu lugar. E eu respondia, sem pestanejar, que era o seminário e meus amigos.
De repente, fiz a maior das bobagens da minha vida. E me tiraram tudo que fazia sentido pra mim e fazia minha vida ter sentido. Eu tive de deixar o seminário, meus amigos, meu ninho. E voltar para um lar que, imaginava, somente me faria mal. Para um grupo que só me faria me sentir pior.
Além do medo, tinha a sensação de que a vida tinha acabado. Quer dizer, era como se não houvesse o dia de amanhã. Como se uma nuvem pesada ocultasse tudo que estivesse a um palmo do nariz. Enfim, era uma sensação terrível de impotência e dor. Luto por tudo e todos que eu perdia ali.
Vim para Natal sem nenhuma perspectiva e sem nenhuma felicidade. Afinal, o lugar em que queria estar era Fortaleza. Mas aí, a mesma amiga que me perguntava sobre meus lugares e minhas pessoas, passou a me desafiar a construir o meu lugar em mim mesmo e levá-lo aonde eu fosse. Fazer a vida ter sentido a partir de meu ser, de meus amores, de minha experiência. Ser capaz de ser real em qualquer lugar. E não temer as adversidades. Sofrer com as perdas, mas entendê-las como etapas e novos tipos de relacionamentos.
Aprendi (quer dizer, tenho aprendido) a criar relações na minha casa. E somos cinco pessoas que carregam profundas mágoas uns com os outros, incapazes que fomos de nos resolver enquanto era tempo. Mas percebi que podia utilizar o aprendizado que tive convivendo com os amigos nos anos de seminário em casa. Aprendi a respeitar as individualidades. Aprendi que como cada um é diferente, minha relação com cada um deve ser diferente. Aprendi a buscar me estruturar na profundidade do amor para que tudo pudesse voltar a fazer sentido para mim. Para que tudo em minha vida se firmasse nessa nova estrutura. Redescobri velhos companheiros, descobri novos.
Mas sou muito imaturo ainda. Percebi, no entanto, estou crescendo.

Eu conclui o curso de jornalismo em agosto de 2000. Nada mais natural que eu pudesse pensar em ingressar no mercado de trabalho, acompanhando a carreira de meu pai.
Além disso, minha vida estava bastante estruturada em Natal. Não poderia ser de outra maneira. Nunca deixara minha casa por mais que alguns dias. Minha vida, meu crescimento e meus amigos estavam aqui,
Era difícil decidir por partir. Mas fui após entender que Deus tinha seus propósitos e que a vocação era maior que os meus medos. E aqueles dois anos que passei em Fortaleza foram de profundo amadurecimento, tendo que morar sem minha família, constituindo novas famílias com meus amigos. Sofrendo e fazendo sofrer, cresci como nunca nos anos de Ceará.
Minha vida se estruturou por lá. E meu sonho estava lá. Por isso, foi doloroso também ter de voltar para Natal neste ano. Infinitamente mais doloroso por causa de todo processo que envolveu minha volta. E também porque fui incapaz de perceber, como se deu quando fui para Fortaleza, o Deus que cuida de tudo em torno de mim me protegendo.
Mas eu tinha de voltar para avançar no meu aprendizado e crescimento, que tiveram este blog como testemunha fiel.
Agora sou um homem capaz de entender que o lugar seguro contra todo o medo é o meu coração. É no meu interior que eu posso construir o meu lugar. É a partir daqui que posso entender que o perfeito amor lança fora o medo e, assim, construir melhores relacionamentos comigo mesmo, com as pessoas à minha volta e com a vida.
Dessa maneira, não preciso mais temer mudança alguma, nem temo mais adversidade ou decepção nenhuma. Dessa maneira, posso ser feliz, apesar de tudo. Posso fazer feliz, apesar de mim.

Leiam esta entrevista, da qual já falei tanto.

3.12.03

O medo do desconhecido é profundamente aflitivo. Eu o tive quando decidia por ir ou não morar em Fortaleza para fazer Seminário. O sono é roubado enquanto esperamos que alguém, mesmo quando não sabemos quem, nos socorra. Queremos a ajuda de alguém. Que ajuda? Não podemos dizer, mas não podemos nos sentir tão sós como nos sentimos.
Nessas horas talvez seja essencial um ombro amigo para chorar. Alguém ao nosso lado que não precise dizer nada. Até porque nem sabemos o que queremos ouvir. Nem sabemos o que precisamos, apenas estamos certos que a sensação de solidão é terrível.
Minha angústia passou em uma tarde. Deitado, pensando em que decisão tomar, no que me reservava o futuro, veio-me a resposta. Foi como se Deus falasse ao meu coração e me fizesse ver que Ele tinha total controle de tudo. Levantei-me da cama certo da decisão. Fui para o seminário, sem medo. E Deus se provou controlando cada passo meu naqueles anos em Fortaleza. Mesmo os mais incertos e duvidosos. Deus, realmente, cuidou de mim.
Ter medo é normal. Mas os amigos são instrumentos para nos ajudarem a superá-lo.

Cheguei de Recife. Esgotado, diga-se de passagem. Ainda mais com as turbulências da viagem. Primeiro, tomei o ônibus errado na capital pernambucana. Tive de ir de taxi até a estação do metrô, torcendo para poder pegar o ônibus de volta a Natal às nove. Afinal, é dia de fechar o jornal. No entanto, o ônibus estava sem ar-condicionado e a viagem atrasou uma hora e meia, em Abreu e Lima, a espera do ônibus reserva. O resultado disso é que vou trabalhar a noite inteira de novo.

2.12.03

Estou em Recife e muito cansado.

30.11.03

Eu sou um ser humano. Então sou também capaz de atos grandiosos, mas a maior parte das vezes ajo com baixeza, guiado pela vaidade. Sim, eu mesmo sou profundamente vaidoso. Como qualquer homem.

Amanhã estou embarcando para Recife. Logo, estarei fora do ar por alguns dias. Até breve!