A Farsa da Boa Preguiça foi escrita em 1960 pelo mestre Ariano Suassuna.
(Estou profundamente arrependido por não ter me prostrado aos seus pés nesses dez dias em que fomos vizinhos e ter-lhe dito: “Eu te idolatro, mestre!”)
Muitas coisas podem ser ditas sobre ela. A sacerdotisa já disse muito, mas gostaria de dizer algo também.
Em “Cultura e Política”, texto de 1970, Roberto Schwarz analisa a produção intelectual e cultural brasileira na década de 60, especialmente após o Golpe de 64.
Segundo Schwarz, mesmo com a Direita tomando conta da cena política com uma Ditadura que acabara de recrudescer com o AI-5, a produção cultural nacional era basicamente de esquerda, anti-imperialista e anti-americana. A desarticulação disso por parte do regime ainda engatinhava.
Mas o autor afirma que essa produção se distanciara do povo com o golpe. A ditadura cassara logo de início todas as personagens que ligavam a elite intelectual com a massa popular. Isso afastou o pensamento cultural de esquerda da população, cada vez mais desmobilizada.
Essa intelectualidade de esquerda é criticada em algum lugar como se assemelhando às raparigas e seu amor pelos pobres: inteiramente condicional. É uma intelectualidade de bordel, que é pensada totalmente afastada do povo.
Clarabela é a personagem da Farsa que reflete essa situação. Uma construção de pensamento esquerdista (falsificado) que não possue nenhuma relação com o povo:
(falando sobre o marido, o rico Aderaldo Catação)
Vive catando migalhas,
como um... Não sei como diga!
Como um herói de Balzac!
Não encontro melhor definição:
Aderaldo, agora, é um herói de Balzac!
Você já leu Balzac, Simão?
SIMÃO
Não!
CLARABELA
E Joyce? E Proust? E Maiakoviski?
SIMÃO
Também não!
CLARABELA
Precisa ler! Principalmente Joyce e Maiakoviski,
para saber o que é uma forma concreta de vanguarda,
e um conteúdo de participação!
Parece que o povo e a intelectualidade que deseja pensar o mundo popular para o bem do povo habitam mundos distintos. Joaquim Simão (o povo) e Clarabela (os intelectuais) chegam a ser amantes, mas findam se separando.
19.3.03
Espaço para minhas reflexões e loucuras, existenciais, acadêmicas, teologicas e emocionais
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