Agora há pouco estava ouvindo Haiti, música de Caetano e Gil do CD Tropicália 2, de 1993. Percebi que onze anos depois a música ainda é bem atual, lamentavelmente, em uma nação que tem deputados e senadores propondo a redução da maioridade penal para doze anos, o Estado não oferece as mínimas condições de vida aos seus cidadãos (quanto mais à sua juventude). Quando simplesmente não os elimina da vida, como fez a polícia carioca ontem. Vejam só o link.
Haiti
(Caetano Veloso e Gilberto Gil)
Quando você for convidado pra subir no adro da
Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro possam
estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque com a pureza de
meninos uniformizados
De escola secundária em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada
Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém
Ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do Pelô
E se você não for
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo
Qualquer qualquer
Plano de educação
Que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua
sobre um saco brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
31.1.04
Espaço para minhas reflexões e loucuras, existenciais, acadêmicas, teologicas e emocionais
Postagens anteriores
- Para onde eu olho dentro de casa eu fecho mágoas e...
- Podem esperar: o órgão do governo federal responsá...
- O MyDoom é a praga desta semana no mundo. De uma ...
- Uma das minhas tias caminha para completar 63 anos...
- Vida nova, em plenos sentidos. Finalmente formate...
- Família Guevara elogia novo filme de Walter Salles...
- Antecipações da próxima matéria de capa do Jornal ...
- A teologia do Neoliberalismo O Neoliberalismo rel...
- Quem é você?, pergunta a lagarta à Alice, enquanto...
- Lewis Carroll caprichou nas críticas com Alice. N...
Assinar
Postagens [Atom]
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial