24.1.03

Estamos estudando escatologia (a doutrina das últimas coisas – o fim dos dias) na igreja.
Tenho percebido como o entendimento sobre o assunto por parte dos crentes é repleto de mitos e fantasias,
mas totalmente destituídos de exegese e leitura bíblica, além de teologia e filosofia.
Mas um texto que lemos no último domingo me fez
chegar ainda mais perto de uma doutrina que se chama aniquilismo.
Quer dizer, a crença de que não haverá inferno para os ímpios,
mas, sim, que suas almas serão destruídas, aniquiladas.
Na segunda carta aos Tessalonicenses está escrito:
“Ele [Deus] punirá os que não conhecem a Deus
e os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus.
Eles sofrerão a pena de destruição eterna,
a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder” (1. 8 – 9).
Pense comigo duas coisas, além da palavra óbvia do texto (“destruição”):
1. Existe algum lugar nos universos, algum lugar na infinita Criação de Deus,
nos tempos ou na eternidade, em que alguém ou alguma coisa possa
estar separado da presença dEle?
Deus enche a tudo e está em todo o lugar, imanente na sua Criação.
Logo, a resposta à nossa pergunta é não.
Então, se a punição dos ímpios é a separação de Deus isso significa inexistência.
Não há lugar, tempo ou dimensão em que algum ser racional possa existir separado de Deus.
Nem Satanás pode existir separado de Deus.
Não existe um tal lugar chamado inferno em que não exista a presença de Deus.
2. A filosofia contemporânea vai te falar sobre o Ser (como o Absoluto, Deus)
e os entes (os finitos, limitados, humanos, em nosso caso).
E vai dizer que o ente só pode existir porque deriva sua existência do Ser.
É o Ser que dá ao ente sua existência.
O ente não tem existência independente do Ser, seu Criador.
Logo, o mesmo raciocínio acima se aplica.
Se a punição dos entes pecadores é o afastamento do Ser, isso significa seu aniquilamento.
O ente somente pode existir devido ao Ser.
3. E o nosso texto nos fala em “destruição eterna”,
que eu entendo como absoluta, total, definitiva.
Minha posição ainda não está fechada, é claro.
Afinal, ainda nem estudei escatologia no seminário.
Mas minha tendência há muito tempo caminha para isso, na direção do existencialismo,
na direção de Paul Tillich, desenvolvendo a partir de Agostinho.
Agora, se eu falo algo assim na igreja,
serei tachado de herege no mesmo instante.
Aí, para mim, ia ser um elogio, já que me considero seguidor do maior herege da história:
Jesus Cristo, o blasfemo filho de um carpinteiro judeu do primeiro século,
que afirmamos e cremos ser o Deus feito homem para nos salvar.

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