15.1.04

Faltam poucos dias para o meu primeiro ano como blogueiro. Pensando nisso, fui rever alguns de meus arquivos. E encontrei um trecho de O desespero humano, de Kierkegaard, publicado em 25 de janeiro do ano passado, que reproduzo. Este livro, aliás, ainda está de posse da mesma ex-namorada.

Carecer de Deus é carecer de eu. O fatalista vive sem Deus, ou melhor, o seu deus é a necessidade. Já que tudo sendo possível a Deus, Deus é a possibilidade pura, a ausência de necessidade. Conseqüentemente, o culto do fatalista é, quando muito, uma interjeição, e, na sua essência, mutismo, muda submissão, impossibilidade de orar. Orar é ainda respirar, e o possível está para o eu assim como para os pulmões o oxigênio. Como não se respiram oxigênio ou azoto isolados, tampouco a prece se alimenta isoladamente de possível ou de necessidade. É necessário um Deus para orar, um eu – e possível, ou um eu e possível no sentido sublime, porque Deus é o absoluto possível, ou, em outras palavras, a possibilidade pura é Deus. E somente aquilo que um tal abalo fez nascer para a vida espiritual, compreendendo que tudo é possível, apenas esse tomou contato com Deus. Como a vontade de Deus é o possível que podemos orar, não o poderíamos se ele fosse tão-somente necessidade e, por natureza, o homem não teria mais linguagem do que o animal.

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