11.11.03

Meu olhar cruzou o dela. Vi tristeza, dor, sofrimento. Vi peso. Angústia. Ela entrava em Natal, ônibus vindo do interior do estado. Nos seus olhos era capaz de ver a sua história. Filhos que nunca tiveram acesso ao que ela sonhou poder dar. Trabalho, canseira, enfado em um casamento que se mantinha como gerador de força e unidade, mas que não conhecia afeto, amor profundo. Relacionamentos partidos. A falta do toque e da mão de amparo. A dor da falta das oportunidades de felicidade e de trabalho.
Nossos olhares se cruzaram mais uma vez. Vi alegria. A alegria de chegar em sua expressão sofrida. Vi uma mulher. Preocupava-se em ajeitar o cabelo, passar batom, se embelezar. Quem a esperava na rodoviária? Quem seria? Para quem ela vinha? O que sua vinda à capital lhe reservava?
Mais que isso: quem ela esperou toda a vida? Que felicidade ela sonhou? Que sonhos não foram realizados? Que partes de sua vida foram quebradas e jamais coladas de novo? Que amores ela viveu? Que amores perdeu?
Nunca um par de olhos me falou tanto. Nunca olhos me significaram tanto. Nunca olhos me instigaram tanto a sensibilidade.
Olhos estranhos me falaram mais do que olhos amigos. Por quê?

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