29.6.05

Fome e sede

Fome e sede

 

Aquele que tem sede venha.  E quem quiser receba de graça da água da vida.

Apocalipse 22. 17

 

 

Esta é uma das fotos mais famosas do mundo, apesar de eu ter certeza que muitos de nós jamais a viram.  Talvez seja a representação mais vívida da miséria que o ser humano conseguiu registrar.  E de uma miséria mais profunda que a fome e a sede.

Era o início dos anos 90.  O país era o Sudão.  O fotógrafo era o sul-africano Kevin Carter, de 33 anos.  Com essa foto ele ganhou o prêmio Pulitzer em 1994.  Por essa foto, ele se suicidou seis meses depois.

Aqui, está retratada a miséria humana.  Um abutre aguarda, pacientemente, a morte desta pequena menininha, faminta e sedenta, abandonada, não à própria sorte, mas à própria morte.  Obviamente, vamos nos perguntando sobre o que teria acontecido aos seus parentes, à sua família.  Pela sua situação, não é difícil imaginar que não tenham escapado de destino semelhante ao dela.  Em poucos minutos, ela estaria morta e seria banquete do abutre.

Dificilmente alguma imagem revelaria tão cruamente a miséria humana.  A pobreza, a fome, a sede, a exploração, o mal, enfim, do coração humano se revelam quando imaginamos que nós, seres humanos, somos capazes de permitir que tragédias assim se repitam e aconteçam a todo tempo, em toda parte.  Dificilmente alguma outra imagem seria tão cruel a ponto de revelar assim o terrível pecado que impregnou a nossa natureza.

Mas aqui há outra miséria revelada.  A do fotógrafo.  Ela se traduz de duas maneiras.  Primeiro: como deve ter se sentido miserável este homem que faturou e foi premiado em cima da morte e da tragédia!  Registrar essa cena é peso demais para qualquer coração humano, que só pode aumentar quando o produto desta cena é vendido e confere retorno e notoriedade ao autor. 

Por outro lado, a pior miséria de Kevin Carter foi constatar a sua impotência para salvar aquela menininha do abutre que a assediava e da fome que a matava.  Além de faturar sobre a tragédia, ele testemunhou a cruel morte que a miséria provoca.  Sem poder fazer muita coisa para impedir.  Seu coração se tornara, então, tão miserável quanto aquela cena que ele registrava.

O cúmulo do sofrimento e da depressão de Carter foi a premiação com o Pulitzer por causa daquela tragédia.  Meses depois, ele deu cabo da própria vida.  Vida que ficara muito pesada, carregada de toda a miséria que ele vivenciou e imprimiu no peito e na alma.

Aquele que tem sede venha.  E quem quiser receba de graça da água da vida.  Só uma coisa poderia transformar esta tragédia toda, tanto a de Carter, quanto a da menina sudanesa: só o amor de Jesus.  E aqui não se trata de nenhuma proposta utópica ou espiritualista.  É preciso que testemunhemos esse amor que julgamos ter por nossas palavras e por nossos atos. 

Só o amor de Jesus pode nos conduzir à ação de mudança do quadro terrível de miséria em que muitos adultos e crianças como aquela menininha, se encontram.  Não serve ao cristão a desculpa proposta pela evangelização ?pé na cova?, que só se importa com o Reino Vindouro, com a Nova Jerusalém, acreditando que a solução de tudo e a mudança do mundo não podem ser, de forma nenhuma, experimentados e promovidos pelo ministério vivo dos cristãos, embaixadores de Cristo.  Precisamos olhar para miséria e fixarmos os nossos olhos nela a fim de lutar para diminuí-la.  E não mais olhar para ela, desviando nossos olhos para a glória, na ansiosa expectativa de ser recebido no céu, fugindo de nossos compromissos.  Estamos aqui para transformar o mundo.  O mundo miserável precisa conhecer o convite: Aquele que tem sede venha.  E quem quiser receba de graça da água da vida.

Existe, também, muita gente vivendo no desespero de Kevin Carter.  Precisamos mostrar a essas pessoas que ainda há esperança no amor de Deus, que desfaz todo desespero.  Tais pessoas precisam e podem se deparar com a realidade do convite: Aquele que tem sede venha.  E quem quiser receba de graça da água da vida.  E, apesar de toda a miséria que encontra no mundo e que se encontra no coração, podem encontrar a vida, no meio da morte, que Jesus dá ao que crê.

A miséria, a fome e a sede, materiais ou espirituais, podem ser vencidas por Jesus.  Por nós, seus embaixadores.  É só lembrar do convite: Aquele que tem sede venha.  E quem quiser receba de graça da água da vida.

 

Daniel Dantas

Missionário da 1ª IPI do Natal

http://cavernadeadulao.blogspot.com

 

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