Estou lendo Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea, tese de doutoramento de André Lemos, professor da UFBA. Ao contrário das minhas impressões recentes sobre os textos de Pierre Lévy (acredito que o francês pirou), o livro de Lemos é claro, profundo e facilita a nossa compreensão do mundo contemporâneo. É impressionante como somos incapazes de ler o texto sem que façamos imediatos links com realidades (ou ficções) com as quais nos deparamos todo o tempo. Em particular três produtos de entretenimento foram melhor compreendidos por mim através do livro.
O primeiro é a série 24 horas. O grande atrativo do programa não é a ação ou o elenco ou o enredo. O atrativo é o tempo real. Isso deve explicar o seu sucesso nos EUA, aqui ou em qualquer parte, já que, como explica o professor baiano, o tempo real ou presenteísmo, trazidos à concretude pela Internet, é uma das mais fortes características de nossa cibercultura atual. A cibercultura é um novo paradigma, mais amplo que suspeitamos, que está se impondo com o advento das novas tecnologias. 24 horas faz sucesso porque atinge um dos aspectos simbólicos mais essenciais dos nossos dias. E nos fascinamos com a narrativa que nos gera a ilusão de que tudo ocorre de acordo com o nosso cronos, ainda que nossa disponibilização do produto atenda ao tempo oportuno de cada um, ao kairós.
O tempo real e a espetacularização, decorrente disso, do indivíduo explicam o sucesso da vulgaridade chamada Big Brother. Os elementos que a Escola de Frankfurt já analisava, especialmente a questão do mito na cultura de massas, estão presentes no programa, causando uma potencialização relativa à vulgarização espetacular dos sujeitos. Mas o tempo real que se identifica com a ruptura das privacidades, gerando a publicização do privado, nos empolga como espectadores. Entramos na casa das pessoas (ainda que essa casa não seja real e muito menos um lar) movidos pela curiosidade da vida realizada em 24 horas de câmeras abertas e segredos desvendados.
O último produto que foi esclarecido pelo livro de André Lemos foi a trilogia Matrix, já que o autor explica diversas teorias de comunicação na era digital que subjazem à produção dos filmes. E eu posso garantir que muita coisa pode ser melhor entendida quando entramos em contato com estas teorias. Como, por exemplo, o misticismo cibernético que não se relaciona a uma religião no sentido comum, mas entende, como todas as formas místicas tradicionais, que apenas iniciados podem ter acesso a um novo mundo, uma nova realidade do espírito. É assim que se entende a realidade da cibercultura. É assim que se entende a escolha de Neo por descobrir o que é a Matrix.
20.2.04
Espaço para minhas reflexões e loucuras, existenciais, acadêmicas, teologicas e emocionais
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