10.10.03

Como se fosse possível, o Marco se superou:

O jardim das veredas que se bifurcam

Se levarmos em conta que o Cosmos seja infinito, teremos que admitir que são infinitas suas partículas e também infinitas suas possibilidades. Raciocinando assim, é inevitável que pensemos num cenário de múltiplos universos, sendo que em alguns deles existem outras Vias Lácteas, Sistemas Solares como o nosso, planetas como este, duplicatas de cada um de nós.
Há um conto de Jorge Luis Borges entitulado O Jardim Das Veredas Que Se Bifurcam. Nele, um velho chinês se propõe a escrever um populoso romance e a construir um labirinto no qual todos os homens se percam, e gasta treze anos nessa tarefa, até sua morte. Séculos depois, já na I Guerra Mundial, um seu descendente descobre, através de um sinólogo inglês, a verdadeira natureza da obra de seu antepassado: o romance e o labirinto eram na verdade uma coisa só. A obra literária, aparentemente caótica e sem sentido algum, na verdade tem a ambição de cobrir todas as possibilidades de cada acontecimento. Citando:

Em todas as ficções, cada vez que um homem se defronta com diversas alternativas, opta por uma e elimina as outras; na do quase inextricável Ts'ui Pen, opta – simultaneamente – por todas. Cria, assim, diversos futuros, diversos tempos, que também proliferam e se bifurcam.

Ficamos então sabendo que o tal romance é uma imagem incompleta do universo tal como o concebia Ts'ui Pen, imagem esta bastante condizente com certas hipóteses cosmológicas correntes.
Um exemplo: estou aqui escrevendo este texto. Suponhamos que alguém o esteja lendo enquanto a esposa o espera no quarto. Imaginemos que esse homem começa a pensar demais no assunto abordado, e quando chega ao quarto a esposa já dormiu. Nada de sexo por hoje, então ele desce novamente e vai ver TV. Suponhamos, no entanto, que esse hipotético leitor veja o post, ache-o muito extenso e resolva deixar a leitura para amanhã. Sobe as escadas e encontra sua esposa acordada e muito disposta. Dessa noite de sexo resulta uma gravidez, e o garoto aí concebido cresce, torna-se um assassino. Daqui a vinte anos ele me mata numa briga de trânsito.
Pois bem, neste nosso mundo só uma das alternativas pode ocorrer de cada vez. Mas consideremos o panorama de vários universos sobrepostos: todas as alternativas podem ocorrer, e de fato ocorrem. Todas as bifurcações possíveis são percorridas.

Então eu penso que talvez numa outra alameda deste jardim labiríntico tudo tenha dado certo entre nós, que você tenha decidido que valia a pena ao menos tentar, e que agora mesmo nós dois vivemos juntos e felizes por lá. Encontramo-nos frente àquela bifurcação, só que ao contrário daqui acabamos escolhendo o mesmo caminho. Pensamentos assim me ajudam a dormir.

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