25.10.03

Aprendi algo intensamente marcante no meu encontro com a Susana, minha psicóloga. Aprendi sobre duas espécies de relacionamentos de amor:

Amor transcendental – firma-se em ideologia, utopias, sonhos. Enfim, é profundamente platônico, abstrato. Nesse caso, os romances são lembrados e se fecham como histórias, boas ou más. Esse amante se deixa guiar por idéias e por histórias. Provavelmente por medo dos riscos implicados, não permite que seus relacionamentos se concretizem. Prefere-os virtuais, ideais. Essa espécie de amante encerra seus vínculos em histórias sem pessoas (reais). As pessoas estão presentes (mesmo idealizadas) mas somente são importantes dentro de histórias. É assim que alguém se torna para mim o maior amor que eu já tive, mas cada vez que eu vejo esse mito ameaçado no relacionamento, eu escapo. Se torna importante para mim a preservação da transcendência!
Verdadeiramente, essa é uma falsa transcendência. Porque o amor transcendente eleva, mas não transforma, estando relacionado ao vínculo com Deus. Qualquer relacionamento humano que se firma nesse tipo de amor atemporal, transcendente é pouco libertador e saudável. Alimenta mitos e constrói idéias que podem até nos organizar, mas não nos fazem mais humanos.

Amor concreto – é a dimensão dos relacionamentos horizontais, humanos. Esse é o tipo de amor que pode nos transformar. Mesmo o Deus Eterno quando quis nos libertar, nos transformar, se encarnou, se fez homem; concretizou Seu amor em uma forma humana.
Essa é uma espécie de amor que se funda em relacionamentos e vínculos com pessoas. Nós seguimos a quem amamos, não idéias. É concreto, é atual. Mas implica riscos: de nos machucarmos, de nos ferirmos. Enfim, risco de sermos transformados. E tememos a dor que essa transformação traz. Tememos a dor que está ligada a relacionamentos concretos. Neles, perdemos algo em nós. Arriscamos perder pessoas. E no processo de amadurecimento relacional, podemos nos machucar mutuamente.

Foi uma verdadeira epifania para mim a descoberta de que estou no processo de parto de uma espécie para outra (mais madura) de amor. Assim, eu sei que preciso mudar e mudar nos relacionamentos, mas mudar ao lado de alguém que para mim seja o amor.
Um amor que não percebe que a mudança se processa no relacionamento (não no afastamento) é puramente transcendental. É no relacionamento concreto que podemos conhecer as pessoas e entender que A não é B.
Tornamo-nos platônicos como escape para as mais diversas perdas que nos afligem. Porque relacionamento implica perdas e dores. Não as queremos. Por isso eu prefiro seguir e amar ideologias. E não costumo me vincular verdadeiramente.
Mas percebi que estou mudando. Por isso não consegui entender a necessidade de afastamento de Priscila. Por isso não aceitei a idéia de ela acompanhar minha mudança à distância. Quero ter um amor que transforma, um amor concreto, não mais transcendental. Por isso, me sinto tão bem por me sentir livre de novo.
Descobri que preciso de uma mulher real ao meu lado, não o único, verdadeiro e grande amor da minha vida. Uma mulher real não é um produto idealizado que combina em tudo comigo. É alguém concreto, com quem eu vou brigar, discutir, discordar, me enfurecer. Mas com quem me reconciliarei, a quem vou amar, dar carinho, afeto. Com quem construirei um relacionamento com amor, perdas e ganhos.
Susana me fez ver que essa verdade se aplica a cada área da vida: família, amigos, trabalho, igreja. Precisamos criar vínculos se queremos mudar. Amar e seguir essas pessoas. Viver relacionamentos e conexões. É preciso amar as pessoas como se houvesse amanhã.
Pois é. Meu forte apego a ideologias não passa de um escape às inúmeras perdas relacionais que sofri (desde o meu pai). Se eu quiser mudar e ser curado, meu foco precisa estar nos relacionamentos, onde eu sou mais humano.
Sabe do que mais? Estou em trabalho de parto. E gostaria de ser, também, a parteira da sua mudança, mas já sei que isso não será possível. É hora da Revolução do amor!

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial