2.4.03

Resgatando MC Serginho e Lacraia

Divagando na leitura de Darcy Ribeiro, comecei a refletir sobre o fenômeno popular de MC Serginho e o escatológico Lacraia. E percebi que, no fim de tudo, eles devem ser as vítimas.

São vítimas de um sistema social, repleto de uma ideologia assimilacionista, que impede a progressão e crescimento no enorme contingente de negros, pobres e marginalizados do nosso país. Os ex-escravos, condenados a uma situação subalterna, têm poucas opções na vida.

Darcy Ribeiro relata que aos negros a sociedade só concede espaço em atividades que exijam pouca ou nenhuma instrução letrada. Por isso, as celebridades de cor são raras e estão sozinhas: Pelé, Grande Otelo, etc.. Alguns poucos intelectuais, que chamam mais atenção por serem exceções grandiosas do que porque se considere que tenham algo a acrescentar. Os políticos negros estão na mesma situação, especialmente se, além de negros, são mulheres, como Benedita.

Em um mundo assim construído o negro só pode se destacar e crescer quando for o inusitado. MC Serginho e Lacraia tinham duas opções diante do que o Brasil lhes ofereceu: a marginalidade ou o escatológico. Optaram pelo escatológico, que horroriza a classe dominante e apaixona a massa identificada.

O surgimento de um ser escatológico como Lacraia representa uma das poucas alternativas de triunfo cultural e social de uma classe, que vive humilhada a séculos. Que se confunde com a pobreza, opressão, falta de instrução e negritude. Ou seja, o próprio brasileiro.

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