Lugares altos
Lugares altos
Faz os meus pés como os das corças, e me coloca em segurança nos meus lugares altos.
Salmo 18. 33
Faz quatro anos que eu não viajo de avião. Este ano, pelo menos uma viagem está nos planos. Estou um tanto ansioso porque temo ter alguma recaída do pânico lá em cima. Mas, ao mesmo tempo, sinto falta. É fantástico olhar o mundo lá do alto, de onde as nossas perspectivas se perdem por completo. Do avião as maiores cidades se resumem a pontos de luz, a maior parte indiscerníveis. Não percebemos o quão rápido vamos, nem o quão alto. Mesmo quando voamos acima das nuvens, a sensação é que aquela imensidão branca não passa de um tapete. Simples tapete. Voar nos conduz a novas perspectivas. O céu está perto, tão perto que achamos que vamos tocar lua e estrelas, a terra está longe, tão longe que pensamos não precisar voltar.
Nos lugares altos sofremos de uma imensa falta de referenciais. É por isso que não percebemos as distâncias, a velocidade ou a altura. Nossa perspectiva no avião anula os referenciais que podem nos dar as noções que nos prendem à terra. Além disso, o céu não possui qualquer das limitações que os caminhos terrestres impõem aos viajantes. Não temos estradas esburacadas ou trilhos estreitos. Não somos obrigados a permanecer no único caminho que a estrada nos oferece. O céu, sem limites, permite que sejam traçadas rotas mais adequadas para cada viagem. Outros fatores, juntos a esse, fizeram já, por exemplo, que eu pudesse viajar entre Natal e Fortaleza em 30 minutos, 40 ou até uma hora. O nosso caminho, no céu, é amplitude virtualmente infinita.
Essas idéias parecem expressas quando o salmista nos fala de lugares altos no Salmo 18. Deus quer nos levar aos lugares altos. Quer nos erguer fora dos conflitos desse mundo para que eles não sejam mais os nossos referenciais. No lugar alto, sem referência alguma a não ser Deus, veremos a pequenez desses conflitos e os veremos da perspectiva inigualável do Senhor. Deus quer nos alçar aos lugares altos para que Ele, e só Ele, seja o nosso referencial. Nada mais, nenhum problema, nenhum conflito, nenhuma circunstância, ou qualquer outra coisa.
Vendo a nossa vida e o nosso mundo do alto, veremos tudo diferente. As distâncias serão menores. As coisas que tributávamos a maior importância serão pequenas. Veremos tudo do ponto de vista do Senhor e constataremos Sua ação mais claramente. Voar nos conduz a novas visões. Nada é tão sério quanto pensávamos antes. Nada é tão irremediável, porque vendo do alto vemos que nada escapa do Senhorio de Deus.
Sendo levados aos lugares altos vemos o nosso horizonte mais amplo e distante. E, mais do que isso, o nosso caminho é enlarguecido. Não tem limites, não tem restrições. Alargaste sob os meus passos o caminho, e os meus pés não vacilaram (Sl. 18. 36). Levados aos lugares altos não poderemos antecipar até onde chegaremos. Ali é o lugar do lançar-se incerto aos cuidados do Pai do Céu. O lugar onde Deus quer nos conduzir é lugar para, finalmente, experimentar a realidade de que não somos capazes de alcançar com nosso entendimento tudo que Deus é capaz de fazer em nossas vidas, porque Ele é poderoso para fazer infinitamente mais do que pedimos ou pensamos.
Deus nos quer levar aos lugares altos. Lugares de pura incerteza, se olhados por uma perspectiva humana. O melhor lugar, o mais seguro e o de um melhor futuro, se pensarmos que este lugar é a perspectiva do Deus Santo em Sua ação em nossa vida. É Sua intimidade. Sua visão. Sua graça. Sua vida. Faz os meus pés como os das corças, e me coloca em segurança nos meus lugares altos.
Daniel Dantas
Missionário da 1ª IPI do Natal
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