4.2.05

De vez em quando eu olho para as pessoas com quem cruzo nas ruas da cidade. E fico pensando que todos são seres humanos como eu. Nasceram, filhos de um pai e de uma mãe. Cresceram aos poucos. E chegaram ao ponto em que estão na vida. Mas me questiono do porquê sermos tão diferentes.
Eu e Bush, por exemplo, dormimos obedecendo aos meus preceitos de nossos corpos mortais. Provavelmente, somos idênticos quando vamos fazer nossas necessidades fisiológicas. Na hora da morte, morreremos sozinhos. Mas o que faz sermos tão diferentes? Ele ter tanto poder e eu tão pouco?
Quando olho para o mendigo passando na rua, recolhendo restos no lixo do meu prédio, me pergunto também que diferença ontológica existe entre nós. Não acho resposta. Logo, não consigo compreender porque temos vidas tão diferentes. O sujeito nasce na rua, filho da rua, vive na rua, tem filhos na rua, morrerá na rua. Eu, ao contrário, mal ou bem tive uma família, estudei, com sacrifício, na melhor escola de Natal, terminei um curso superior, estou fazendo mestrado. Qual a diferença entre nós? Há algum sentido nisso tudo?
As idéias de diferenças e lutas de classes são muito assépticas para mim nesse caso. Classes se assemelham assim a guetos aos quais estaríamos condenados para sempre. Assim, o filho do gari só pode ser gari. E ninguém pode fazer nada com isso. E qualquer tentativa de mudança do quadro se tornaria virtualmente impossível.
Pior do que essa era a resposta medieval de que tudo era vontade de Deus. Medieval em termos, porque muitos religiosos pensam assim ainda. Ou em termos de teologia da prosperidade ou em termos dispensacionalistas (aqueles que acham que quanto pior melhor, porque significa a proximidade da volta de Cristo). A resposta religiosa é que o pobre é pobre porque é a vontade de Deus. O que engessa qualquer intuito revolucionário também, porque, assim, fazer revolução é enfrentar a vontade de Deus.
Mas é um beco sem saída. Não encontro respostas nisso tudo. Nem quanto ao que significa, nem quanto o que se pode fazer. Só sei que não é confortável se ver como parte de uma elite e sentir mãos e pés atados quanto ao que pode ser transformado.

2 Comentários:

Às 1:09 PM , Anonymous Anônimo disse...

Daniel,
Sartre disse que a existência é uma náusea.
Assim é quando quando sentido nela não se vê: morte, dor, tsunamis, terremotos, bush, bin laden, teologia da prosperidade, "santidade", "caráter", "adoração" e tantos outros temas desse nosso existir que nos fazem chorar.
O pregador diz: tudo é vaidade.
Continuando, a bíblia diz q o Cordeiro foi imolado antes de tudo. Depois veio a existir o tempo em algum tempo.
Logo após vem o bem e o mal e seu conhecimento empírico por nós. Antes não havia tal conceito, portanto não havia "bem" e "mal". Logo, fora do tempo, fora da moral (principalmente a nossa judaico-cristã) e fora do conceito de bem e mal pouco resta: tudo é vaidade arremata o filósofo-pregador.
O que fica? Soberania de Deus? Muito mais q soberania, esse termo inssosso que na hora da dor e da crise não adianta nada. O que resta? Cristo em nós, ESPERANÇA da glória. Aqui o resumo de todas as coisas na medida - é claro - do salto no escuro da fé. Só assim dá para viver, e, mesmo que não entendendo, ainda sim, ser um anunciante dessa BOA NOVA. Desculpe-me pelo muito falar... mas não dava muito para resumir muito em um assunto tão profundo e tão doce ao mesmo tempo. Gostaria de estende-lo mas tá bom. Paz. Vando.

 
Às 1:21 PM , Blogger Daniel Dantas Lemos disse...

É isso, Vando. Você está certo. O raciocínio só pode conduzir a esse ponto mesmo, em que a nossa fé e esperança repousam unicamente no Senhor. Vou dizer isso no outro blog amanhã: No mundo de desespero, somente a Cruz de Cristo pode nos dar esperança.

 

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