21.5.04

Ao descobrir que não possuo mais os rascunhos das tantas cartas de amor que já escrevi na vida, lembrei o quanto gosto deste poema:

Motivo
(Cecília Meireles)

Eu canto porque o instante
existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou se desfaço,
- Não sei, não sei. Não sei se
fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é
tudo.
Tem sangue eterno e asa
ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

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