Em 2001 fui apresentado a uma figura apaixonante. Domenico Scandella, chamado Menocchio, moleiro natural de Montereale, uma pequena aldeia nas colinas do Friuli, Itália. Nasceu em 1532 e foi executado pela Inquisição em 1602.
O livro de Carlo Ginzburg (“O queijo e os vermes” – Companhia das Letras) foi dos mais difíceis de resenhar que já li. Mas foi dos que li com mais gosto. Especialmente por ir conhecendo um indivíduo representante de uma camada baixa da sociedade pré-moderna européia, capaz de pensamento autônomo, leitura independente (de livros e da vida) e sintetizador de parte da mitologia da Europa medieval.
O que mais me fascinava em Menocchio não eram suas idéias, mas sua capacidade de produzi-las, sua postura revolucionária. Em um contexto em que a Igreja Católica exercia monopólio pleno de poder e saber, Menocchio ousou pensar diferente, ousou desafiar e acusar esse monopólio.
Mas sua cosmogonia é também interessante: “No princípio este mundo não era nada, e [...] a água do mar foi batida como a espuma e se coagulou como queijo, do qual nasceu depois uma infinidade de vermes; e estes vermes se tornaram homens, dos quais o mais potente e sábio foi Deus”.
“O queijo e os vermes” vale a aventura de ser lido.
29.1.03
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